Economistas e políticos lamentam morte de Antonio Delfim Netto; veja repercussão
A atuação multifacetada e pragmática é ponto comum entre definições de economistas brasileiros para o ex-ministro Antonio Delfim Netto, que morreu nesta segunda-feira (12).
Para o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega, o economista foi “um dos mais importantes formuladores e executores de política econômica do país”.
“Ele tinha plena consciência de seu valor na economia brasileira e formou muitos economistas sabendo de seu papel”, afirma Nóbrega.
Leia, abaixo, reações de economistas, políticos e profissionais do mercado financeiro à morte de Delfim Nett
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O economista Marcos Lisboa, sócio da Gibraltar Consulting, afirmou que Delfim Netto era “extremamente culto e erudito” e foi o primeiro de uma “geração impressionante” do Departamento de Economia da USP dos anos de 1950.
“Sua tese de livre docência sobre o café até hoje é uma obra de referência. Ele se preocupou com a dependência que o Brasil tinha nas exportações de uns poucos produtos com o café, e trabalhou para ampliar a pauta exportadora. Ali se entendeu que havia um problema de tecnologia e de solo. A opção foi enfrentar esse tema com a criação da Embrapa, o que levou o Brasil a ser essa potência que vemos hoje. Delfim teve papel fundamental nessa revolução”, disse Lisboa.
Ele destacou, por outro lado, a participação do ex-ministro na ditadura, afirmando que Delfim Netto foi uma figura importante no que classificou como “momento trágico do país”.
“Naquele período, [Delfim] fez uma série de intervenções na economia que geraram problemas lá na frente. Favoreceu o setor A e o setor B, controlou preços, criou distorções que foram gerando uma piora na produtividade naquele começo dos anos de 1970, quando já havia o prenúncio da crise, agravando um problema que já estava contratado”, afirmou o economista.
O ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega afirmou que Delfim Netto foi um dos mais importantes formuladores e executores de política econômica do país.
“Ele tinha plena consciência de seu valor na economia brasileira e formou muitos economistas sabendo de seu papel. Certamente ficará como um homens públicos mais importantes do Brasil”, disse o ex-ministro.
Felipe Salto, economista-chefe da Warren Investimentos, disse que Delfim Netto foi uma liderança inspiradora para gerações de economistas.
“Generoso, me recebia em seu escritório para conversar e falar de política e economia. Quando fui convidado para ser secretário da Fazenda de São Paulo, telefonei para ele e ouvi a seguinte frase: ‘vá, Felipe, porque você mudará de Patamar’. Delfim era um amigo leal e um monstro sagrado da economia”, disse Salto.
“O melhor economista que o país teve, entre tantos gigantes, sem dúvida. Tinha espírito público e é um dos construtores do Brasil moderno”, continuou.
O atual secretário da Fazenda e Planejamento de São Paulo, Samuel Kinoshita, afirmou que Delfim Netto foi um definidor da história econômica brasileira.
“Sua inteligência, sagacidade, curiosidade intelectual e amor pelo trabalho eram simplesmente ímpares. Pessoalmente, sofro a perda de um mentor e de um amigo genuíno a quem muito devo”, disse Kinoshita.
O presidente do conselho de administração do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, lamentou a morte do economista e afirmou que Delfim Netto exerceu uma trajetória marcada pela inteligência acima da média, fina sagacidade e cultura refinada.
“Como um dos ministros mais destacados do País, lançou o Brasil para outro patamar, uma economia diversificada, com pilares na infraestrutura e modernidade. Ele marcou a história do seu tempo com opiniões e ideias inovadoras, para destacar e agregar a relevância da racionalidade ao debate nacional”, disse Trabuco, em nota.
O economista Arminio Fraga, sócio-fundador da Gávea Investimentos, disse que o ex-ministro era uma “figura brilhante e multifacetada da cena nacional” que deixa abundante material para os historiadores.
Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, destaca que Delfim Netto lembrava que o mercado também era muito importante em momentos de excesso de pensamento com relação ao Estado.
“Delfim participou muito da elaboração das políticas econômicas daquele período. Quando o adversário político é inteligente, nos faz trabalhar para sermos mais inteligentes e competentes”, disse o Presidente Luiz Inácio Lula da SIlva.
Membros do governo federal também lamentaram a morte de Antonio Delfim Netto.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em nota, que o ex-ministro foi um dos maiores defensores das políticas de desenvolvimento e inclusão social implementadas durante os dois primeiros mandatos do petista.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, publicou em sua conta no X (antigo Twitter) um pedido de respeito ao ex-chefe do ministério e prestou condolências à família.
“O professor Antônio Delfim Netto merece respeito por ter se dedicado ao progresso econômico brasileiro. Meus sentimentos aos amigos e familiares”, diz o post.
A morte de Delfim também foi lamentada pelo presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, que foi deputado federal no mesmo período do economista. Em nota, Mercadante também mencionou as diferenças políticas entre eles, mas enfatizou o apoio de Delfim Netto ao governo Lula.
“Recebo com tristeza a informação sobre a morte do economista Delfim Netto. Fomos deputados no mesmo período histórico e estivemos na Comissão de Economia, espaço público em que havia um debate qualificado sobre as políticas de desenvolvimento nacional”, diz a nota.
“Apesar das divergências políticas e no próprio debate econômico, que tivemos ao longo da vida, Delfim Netto sempre teve compromisso com a produção e com o crescimento da economia. Mesmo tendo sido um ministro destacado do regime militar liderou o chamado ‘Milagre Brasileiro’, Delfim apoiou o governo Lula em momentos importantes e desafiadores”, completa.
Representantes do setor bancário, do empresariado e da indústria também prestaram homenagens ao ex-ministro.
A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) afirmou que Delfim Netto marcou um ciclo da economia brasileira.
“O economista e professor emérito da USP, respeitado internacionalmente, sempre defendeu o fortalecimento da indústria nacional e foi um atuante conselheiro da Fiesp, tendo presidido por anos o nosso Conselho Superior de Economia. Ao olharmos a trajetória do economista Delfim Netto, encontraremos os talentos de matemático, pensador, analista histórico e bem-humorado frasista”, afirmou, em nota, a entidade.
O presidente da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), Isaac Sidney, afirmou que o ex-ministro foi uma “referência de lucidez econômica e exemplo de homem público”.
“Sua perspectiva arguta e capacidade ímpar de análise da economia brasileira o fizeram um interlocutor fundamental para o debate econômico de várias gerações. Delfim Netto deixa um legado fundamental ao Brasil, à economia e aos economistas do país. Sua trajetória se confunde com a história brasileira recente”, afirma Sidney.
O Lide (Grupo de Líderes Empresariais) lamentou a perda do economista e afirmou que seu maior legado é a contribuição à economia e às políticas socioeconômicas do Brasil.