Economista Benedito Goffredo traz dicas de organização financeira para 2025
O economista e atual diretor da Etec Antônio Devisate de Marília, Benedito Goffredo, carrega uma trajetória marcada por sucesso no mercado financeiro e dedicação à Educação. Com pós-graduações em marketing e docência no ensino superior, além de licenciaturas em matemática, contabilidade e administração, Goffredo está atualmente concluindo seu mestrado em administração de organizações inovadoras pela Unimar.
Após 20 anos trabalhando no mercado financeiro em São Paulo, Goffredo decidiu retornar a Marília e se dedicar à docência, uma paixão descoberta ainda na infância.
Ele defende que um planejamento financeiro simples e bem estruturado é a chave para estabilidade e crescimento. O economista sugere começar organizando as receitas e despesas em categorias fixas e variáveis, reforçando a importância de definir objetivos financeiros de curto, médio e longo prazo.
Goffredo avalia o sistema financeiro brasileiro como sólido e conservador, o que garante segurança para iniciantes. Ele encontrou um tempo em sua agenda para atender a equipe do Marília Notícia, trazendo dicas para uma organização financeira.
Com sua trajetória inspiradora e conselhos práticos, Benedito Goffredo reafirma a importância da educação financeira como ferramenta para construir um futuro mais seguro e próspero. Planejar é fundamental para colher bons frutos.
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MN – Você trabalhou muitos anos no mercado financeiro?
Goffredo – Eu sou economista, pós-graduado em marketing e em docência no Ensino Superior. Sou licenciado em matemática, em contabilidade e em administração. Agora estou mestrando, neste momento, em administração de organizações inovadoras na Unimar. Eu passei 20 anos do mercado financeiro em agência bancária em São Paulo. Na volta para Marília, eu já tinha alguma experiência e já gostava muito da questão de docência. Parte do meu tempo em banco foi cuidando de treinamento e desenvolvimento. Sempre gostei da sala de aula.
MN – Quando surgiu a vontade de ser professor?
Goffredo – Isso até é um pouco emocionante para mim, porque eu devo isso a uma das minhas irmãs mais velhas. Quando eu tinha cinco ou seis anos, não existia essa de pré-escola. Você entrava lá no primeiro ano do ensino primário, mas eu tive uma ‘pré-escola particular’, porque a minha irmã estava terminando a formação de professora dela, então eu fui meio que cobaia da minha irmã, para desenvolvimento das primeiras atividades como professora. Naquele exato momento eu falei que seria professor.
MN – Como surgiu a oportunidade de finalmente ingressar na área da Educação?
Goffredo – Quando eu voltei para Marília, vi que tinha vagas de professor. A Etec Antônio Devisate nem era aqui ainda. Era lá na Catanduva. Prestei o processo seletivo, acabei vindo para cá dar algumas aulas e me envolvi completamente com as questões de docência. Comecei a dar aula e um tempo depois surgiu a possibilidade de ser coordenador de curso.
MN – Você ainda estava no banco?
Goffredo – Nessa época eu deixei o banco. Logo depois, em algum momento, a diretora anterior, a Cláudia, me convidou para ser assistente dela na direção. Fui por um bom período assistente dela e quando ela terminou o mandato, eu assumi a direção e estou aqui. Entrei como diretor em 2018 e minha gestão, em segundo mandato, vai até pelo menos em 2027. Desde 2013 também estou como professor na área de economia do Univem. A grande missão do professor hoje não é mais aquela do ensinar. O professor é um provocador do aprendizado. Hoje a informação não tem dono mais. A informação está aí totalmente aberta, o que é muito bom. Então o que você faz é mediar isso, direcionar um pouco, porque o estudante vai praticamente sozinho. Se você der esse apoio, passar confiança, ele consegue qualquer coisa.
MN – O que as pessoas precisam fazer para ter um planejamento financeiro?
Goffredo – Hoje você tem vários bons aplicativos, que você pode entrar, baixar e fazer um planejamento financeiro muito bom, mas se você quer fazer em uma folha de caderno, é possível. Você sempre vai ter receitas e despesas. As suas despesas você sempre vai separar, naquilo que se chama despesas fixas e variáveis. As fixas são aquelas com praticamente o mesmo valor todo mês. As variáveis são aquelas que ocorrem esporadicamente.
MN – Qual mês mais difícil na área econômica?
Goffredo – Para quem já é adulto e principalmente é pai ou mãe, o mês de janeiro é o mês sempre mais duro para todo mundo, no sentido de gastos, mas o planejamento financeiro tem que ser feito de uma forma simples. Para ter uma finança regularizada é importante anotar aquilo que se gasta. Não importa o valor. Isso vai te dando uma visão melhor. Se você levar isso para o seu planejamento, vai poder controlar mais os gastor.
MN – Existem mais dicas para os iniciantes?
Goffredo – Um terceiro passo é se estabelecer um objetivo financeiro. Se você quer fazer um dinheiro daqui a um ano ou daqui a dois anos. Você precisa ter essas perspectivas financeiras. Isso sempre te ajuda, em tudo na vida, se estabelecer objetivos. A tendência é você querer alcançá-los. É uma espécie de contrato que você faz com você mesmo. Então você passa a querer cumprir.
MN – Como devem ser traçados esses objetivos?
Goffredo – Um planejamento financeiro precisa ter metas de curto, médio e longo prazo. Usamos alguns parâmetros. O mínimo que você tem que guardar daquilo que você ganha, não importa a fonte, é 10%. Se puder guardar 20%, melhor ainda. Se conseguir guardar 30%, excelente. Mas é preciso ter essa meta de propósito financeiro, para ter motivação para guardar mês a mês. Basicamente, as pessoas que melhoram a administração financeira têm esses três hábitos básicos.
MN – Qual o próximo passo depois que conseguir juntar um dinheiro?
Goffredo – A partir disso, se você fez um bom caixa, vai conhecer as aplicações financeiras mais rentáveis, aquelas que têm imposto de renda ou não, mas isso já fica para um segundo passo. Num primeiro momento, se você conseguir guardar 10% ou 15% da sua renda, pode ser em caderneta de poupança, o que nem é a coisa mais rentável do mundo, mas se você conseguir fazer isso já está bom demais. Quando esse valor guardado estiver um pouquinho maior, você pensa em outras modalidades.
MN – Quais modalidades você indica?
Goffredo – O tesouro direto, que é a compra de título público do governo, tem sido uma boa coisa para pequenos e médios valores. Porque o título público tem um vencimento, de seis meses, de um ano, de cinco anos, de dez anos. Tem um leque de oportunidades dentro dos títulos. Lembrando que se você comprar aquele título com aquele vencimento, se você resolver se livrar dele antes, você vai perder dinheiro. Por isso que eu falo para você que o planejamento é tudo. Saber exatamente o que você quer no tempo certo. Todos os bancos têm fundos de investimentos da melhor qualidade. Se você tem uma carteira um pouco maior, você já pode pensar em CDB, que é Certificado de Depósito Bancário.
MN – Existem riscos para as pessoas nesses exemplos que você passou?
Goffredo – Quando você está falando de Brasil, o risco é praticamente zero. A gente não tem histórico de bancos no Brasil quebrando. Normalmente, se um banco tem algum problema de caixa, o próprio Banco Central está aí para ajudar. Às vezes, o próprio Banco Central incentiva até a liquidação daquele banco mesmo, mas tem casos de outros outros comprando aquele banco. Eu diria que risco zero é difícil de falar, mas é quase risco zero. Além do que, lembrando que no Brasil você tem o Fundo Garantidor de Crédito, que é uma espécie de seguro que os bancos têm para, eventualmente, se ele quebrar, ele tem uma garantia para o depositante, através de um fundo que é específico para isso. Chegar ao ponto de usar o Fundo Garantidor de Crédito no Brasil é muito difícil.
MN – Como você avalia o sistema financeiro do país?
Goffredo – O sistema financeiro do Brasil é muito bom. Os bancos no Brasil são um tanto quanto conservadores na concessão de crédito, porque você tem o próprio governo que é um grande cliente dos bancos. Enquanto o governo tiver déficit público, os bancos que vão emprestar para o governo. Eles não precisam fazer loucura emprestando dinheiro por aí. Eles têm, vamos dizer, um cliente quase que único e exclusivo, o próprio governo. Então eles podem selecionar muito bem aqueles outros que eles vão emprestar dinheiro.
O trabalho dos bancos no Brasil é principalmente de captar recursos, porque para emprestar eles já têm para quem. Eu diria que você pode confiar em qualquer banco que você atravessar aqui na avenida Sampaio Vidal. O que você tem que selecionar é aquilo que você quer, qual modalidade você quer e qual banco eventualmente tem uma taxa um pouco melhor ou uma tarifa um pouco menor, mas não no sentido de risco. O risco é praticamente zero.
MN – Diferente de uma bolsa de valores?
Goffredo – Na bolsa de valores você está comprando ações de uma determinada empresa ou de algumas empresas que podem oscilar para cima ou para baixo. Uma empresa eventualmente pode até quebrar, então o risco é um maior. Estávamos falando até então dos chamados ativos de renda fixa. Renda fixa não tem erro. Você tem sua garantia de rentabilidade. Agora, se você vai para a renda variável, você tem a possibilidade de ganhar muito dinheiro, mas também o risco é todo seu, de você eventualmente perder dinheiro.
MN – Mesmo nas ações de bancos na bolsa de valores?
Goffredo – Você jamais imagina que um banco monstro como o Itaú, como o Bradesco, vai vir a quebrar. Pode oscilar o valor da ação, mas quebrar jamais. A gente fala sempre da renda fixa para aquele investidor iniciante, que está começando a sua carteira. Se alguém já conta com alguma experiência, podemos conversar um pouco sobre renda variável, se quiser arriscar um determinado percentual da renda, que não vai comprometer.
MN – Qual o valor mínimo para você começar a investir?
Goffredo – Cada banco tem o seu próprio valor, mas hoje, se você pode aplicar R$ 20 por mês, vai encontrar um banco que vai acolher. A cadeira de poupança é uma delas. A cadeira de poupança é uma das mais básicas. Eu também vou lembrar um pouco dessa definição de guardar dinheiro, no seu sentido de poupar. Às vezes o sujeito tem uma caderneta de poupança de R$ 5 mil e diz que está investindo. É importante dizer que isso não é exatamente investimento. Isso é guardar e ter uma reserva.
MN – Qual a diferença para o investimento?
Goffredo – O investimento você já está falando de valores maiores, com algum risco de oscilação, com ativos de renda variável. A palavra investimento acabou se vulgarizando. Se você guarda 10% do seu salário, você não está investindo, você está poupando. Você está fazendo uma pequena reserva, guardando.
MN – A poupança é uma das mais conservadoras do Brasil?
Goffredo – Sim. A caderneta de poupança é uma instituição por si só, onde os bancos são agenciadores dela. Enquanto instituição, a caderneta de poupança é administrada pela Caixa Econômica Federal. A captação de recursos vai principalmente para o sistema financeiro da habitação, para as incorporadoras, para a construção de casas populares ou financiamento de casas um pouco maiores.
MN – E como está a caderneta de poupança atualmente?
Goffredo – Se você for olhar nos últimos meses, praticamente no último ano, ela perdeu carteira mais do que ganhou. Como você tem alguns outros ativos também conservadores que rendem um pouco melhor que ela, a poupança acabou perdendo algum recurso. A consequência disso é que a Caixa Econômica Federal também teve que segurar um pouquinho o financiamento de casas, porque faltou para ela própria o grosso do dinheiro para repassar. Você vê que tudo tem consequência. A economia é bonita por isso. Toda decisão, tudo que se faz, tem as coisas boas, mas também pode ter efeito colateral. A caderneta de poupança é a mais conservadora das formas de se guardar dinheiro. É a mais básica, a mais tranquila, onde não incide imposto de renda, mas não depende do valor que se aplica. Então, se aplicar R$ 100 ou R$ 100 milhões de reais, tem o mesmo retorno. Você não tem como negociar isso.
MN – Outras aplicações são diferentes?
Goffredo – Se você tem uma carteira boa e vai negociar CDP com os bancos, já tem negociação. De qual percentual da CDI que vai valer, ou Selic, qualquer que seja o indexador disso. Você negocia.
MN – E como está a economia hoje no Brasil?
Goffredo – No Brasil hoje temos um PIB crescente, o que é muito bom. Nós temos uma situação de quase pleno emprego, que é bom também. O percentual de desemprego hoje é em torno de 6%, que é um dos menores da história do Brasil. Tudo isso é muito bom.
MN – Existe algum ponto ruim na economia atual?
Goffredo – O governo brasileiro, independentemente da época ou da ideologia, não é muito chegado em economizar. Os governos brasileiros são muito gastadores. Você tem muito dinheiro no governo do Brasil que já está carimbado, não tem como evitar de gastar. Nós estamos falando de previdência, folha de pagamento de funcionário público e por aí afora. O governo ainda tem gasto mais do que arrecado e isso vai acumulando a dívida pública. Esse dinheiro que acumula na dívida pública é um dinheiro que não existe. Hoje a demanda por produtos está muito maior do que a oferta. Portanto, qual é a consequência? Inflação. Você viu, nos últimos meses particularmente, a coisa ficou ruim. Os juros também estão altos e você não motiva o empresário a aumentar o seu parque fabril. Como é que ele vai fazer isso se o juro está nesse monstro de altura?
MN – Os juros podem cair de uma hora para outra?
Goffredo – Não, senão a inflação tende a aumentar mais ainda. Você tem que ir equilibrando tudo. Se reduzir os juros, a inflação seria pior ainda. Ela já está ruim, mas seria pior ainda se o juros diminuíssem. Se as pessoas começam a comprar mais e falta mercadoria, o preço sobe. É a primeira lei da economia. Lei da oferta e da demanda. Você não foge disso. Você não foge dessa lei. Você quer fazer mágica? Não tem jeito.
MN – Tem algum exemplo?
Goffredo – Eu pego um exemplo de um produto bem específico. A reclamação de que o preço da carne subiu muito. Isso é real. Você tem uma oferta de boi bem menor do que há um ano atrás e não é pela exportação. É que o brasileiro adora um boi no espeto. Então subiu o preço e quem parou de fazer churrasquinho no final de semana? Ninguém. A gente fala, mas não toma atitude. Ninguém deixa de fazer churrasco. Não adianta você ficar boquejando, se você não tiver uma atitude pessoal em relação ao seu hábito de consumo.
MN – Hoje qual o maior problema econômico do país?
Goffredo – O problema do Brasil é a dívida pública do governo. Se eu tivesse que apontar um único problema econômico do Brasil, é a questão fiscal. O governo gasta mais do que arrecada e essa diferença é bancada pelos bancos. O banco vai cobrar que tipo de juros? Aquele que estiver vigente. Então a dívida pública do governo aumenta, porque você tem rombo e aumenta porque os juros são mais altos. O governo brasileiro paga algo parecido com R$ 780 bilhões de juros por ano. Não é brincadeira não. Você imagina, só pelos juros, quanto essa dívida já tende a aumentar. E você continua gastando mais. É uma bola de neve.
MN – E essa dívida é uma dívida interna?
Goffredo – Nós não temos problema com dívida externa. Já tivemos um dia. Quando pagava o FMI. Aquele período foi complicado do ponto de vista de dívida externa. Esse problema se resolveu. Isso se resolveu também porque nós somos muito mais exportadores do que importadores.
MN – Como você vê os jovens? Eles têm noção de economia?
Goffredo – Não melhorou, mas a culpa dele não ter melhorado não é só dele. É do pai. Porque eu sou de uma geração em que a gente viu o nosso pai trabalhar muito. Nós embarcamos nisso e fizemos a mesma coisa para dar uma condição razoável para os nossos filhos. Aquele pai que mostrou isso para o filho, não tem problema em relação ao filho. Aquele que não mostrou, tem problema. Você criou um jovem imediatista, que quer coisas em curto prazo, pouco preocupado com as coisas. O pai dele quer poupá-lo. O pai tem medo de que ele não o ame mais. Isso atrapalhou um pouco a formação desse jovem. Por outro lado, quando ele é reorientado, e eu peço aqui para os meus professores que a gente fale disso o tempo todo, quando cai a ficha dele, nunca vi nenhuma geração anterior com tanto potencial. O jovem hoje é capaz de coisas que eu jamais faria na idade dele. Eles estão anestesiados, mas uma vez que ele desperta, não tem o que segure.