“É um pesadelo”, diz mariliense que perdeu mãe e irmãs para Covid-19
A auxiliar de cozinha mariliense Cristina Oliveira, de 39 anos, foi diagnosticada com Covid-19, acabou internada na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital Beneficente Unimar (HBU) e, apesar de momentos extremamente delicados, acabou tendo alta médica.
Já sua mãe e duas de suas irmãs não tiveram a mesma sorte e acabaram falecendo, também com exames positivos para o novo coronavírus.
Todas elas são moradoras de Marília e as perdas da família representam também quase metade de todos os óbitos para Covid-19 da cidade – sete vítimas fatais até a manhã desta quarta-feira (17).
A irmã dela, Cleuza Aparecida, que também ficou internada no HBU, não resistiu às complicações da doença e faleceu no dia 2 de junho, com 49 anos. Foi a primeira perda da família na pandemia.
A mãe delas, Benedita Aparecida de Souza Oliveira, ficou internada no Hospital das Clínicas de Marília e foi a óbito um dia depois da filha Cleuza, em 3 de junho, aos 74 anos.
A segunda irmã que Cristina perdeu para a Covid-19 é Zélia Rosa de Oliveira, 42 anos, que ficou internada no HBU e morreu nesta terça-feira (16).
Logo após a morte da mãe e da primeira irmã, toda a família resolveu fazer o teste. “Eu fui no posto do Argollo Ferrão, fiz o exame e esperei uns quatro dias. Quando saiu o resultado positivo, foi uma tristeza muito grande”, disse Cristina ao Marília Notícia.
A maior parte dos nove filhos de Benedita acabou pegando a doença e além das vítimas fatais e de Cristina, outros também sofreram com o agravamento do quadro clínico e precisaram ser internados, mas estão em recuperação. O pai deles segue internado, também positivo para Covid-19.
“Um dia após ser diagnosticada, comecei a passar mal. Fui ao Pronto Atendimento (PA) da zona Sul com falta de ar. Uma sensação muito ruim, estranha, com aceleração no coração. Difícil de explicar, uma agonia da morte. Senti muito medo de morrer e deixar minhas filhas”, desabafou Cristina.
As duas filhas, que vivem com ela, uma de três e a outra de 18 anos, não pegaram a doença e estão afastadas da mãe, que segue em isolamento domiciliar na casa em que mora no Jardim Cavallari, zona Oeste de Marília.
Cristina foi medicada e liberada para ir embora, mas durante a noite começou a tossir sangue. “Chamei o Samu, voltei ao PA e fui encaminhada para o HBU, onde acabei sendo internada. Lá eu vi minha irmã Zélia, que já estava na UTI, e isso mexeu muito comigo”, detalhou.
“É um pesadelo muito grande. As pessoas estão brincando. Não é brincadeira, é realidade. Eu também pensava que era tudo mentira, que um pouco era pra ganhar dinheiro, mídia. Mas não é não. Só quem passa por isso sabe o quanto dói, sabe a verdade”, desabafou a auxiliar de cozinha.
“Eu tenho muito medo ainda, apesar de estar me recuperando. Estou orando para Deus cuidar da gente. É uma sensação muito ruim. Sensação de medo, de falta de ar. É você querer respirar e não conseguir achar o ar”, lamentou.
Mesmo com todo o sofrimento, em uma verdadeira lição de vida, Cristina continua com fé. “Minha força está vindo de Deus, para que eu possa cuidar das minhas filhas. Meu isolamento vai acabar dia 24”, finalizou.