João Doria leva disputa com Bolsonaro para Dubai
Maior evento mundial pós-pandemia, a Expo Dubai 2020 se transformou em nova disputa entre o presidente Jair Bolsonaro e o governador João Doria, um dos pré-candidatos do PSDB à Presidência inscrito nas prévias do partido.
Doria, que está em Dubai, mobilizou uma comitiva de secretários e empresários para participar do evento. Bolsonaro decidiu visitar o pavilhão destinado ao Brasil na feira, mas só após o dia 15 de novembro, depois da chamada a semana São Paulo, ignorada também pelo órgão do governo federal que montou o espaço brasileiro, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex).
Em seu site, a Apex citou a presença de artistas brasileiros, sem mencionar o nome do Estado de São Paulo. “É vergonhosa a atitude da Apex ao ignorar as ações que São Paulo está fazendo na Expo Dubai para promover o Brasil. Ao invés de somar e agregar, a Apex prefere dividir”, afirmou Doria. O secretário de Agricultura, Itamar Borges (MDB), afirmou que São Paulo “salvou o Brasil” na exposição.
Procurada, a Apex disse que não destacou o nome de São Paulo porque as exibições no Pavilhão Brasil são tratadas como atrações do espaço destinado ao Brasil na Expo Dubai 2020. A agência não se manifestou sobre as críticas de Doria.
Com um investimento de U$ 25 milhões do governo brasileiro no evento, a Apex cedeu o pavilhão do Brasil para sediar a semana SP, o que não é obrigatório. Pela política do órgão, todos os Estados podem usar o local. Alguns promoveram exposições, mas só São Paulo mobilizou uma estrutura grande.
Ao contrário dos pavilhões de outros países, o espaço do Brasil não tem atrações fixas e mantém apenas um espelho d’água onde os visitantes podem molhar os pés. Para fazer do evento um palco internacional para promover o Estado de São Paulo, Doria criou uma força tarefa que envolveu várias pastas.
A comitiva montada por Doria incluiu seis secretários e 40 empresários – a viagem do grupo foi organizada pela InvestSP, braço de negócios do Palácio dos Bandeirantes. A Invest São Paulo atraiu patrocinadores como Ambev, BRF, Natural One, JHSF, Raízen e Sabesp em um projeto que custou R$ 10 milhões, sendo 60% de patrocinadores e 40% do governo. O Estado também levou 150 artistas, entre eles a SP Cia de Dança, cantores, artistas plásticos e grafiteiros.
Diante da plateia de empresários, Doria fez críticas ao governo Bolsonaro em diversas áreas. As declarações do tucano causaram desconforto até entre auxiliares do governo de São Paulo envolvidos na organização da semana de São Paulo.
Procurado, o presidente da InvestSP, Gustavo Junqueira, adotou um tom diplomático para evitar constrangimentos com os “anfitriões” do pavilhão. “A participação de São Paulo na Expo Dubai foi estratégica para promoção de novos negócios e investimentos para São Paulo. Nosso Estado se preocupa em garantir que tenhamos cada vez mais destaque no cenário internacional”, disse Junqueira.
No governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Doria chegou a elogiar a Apex. Durante a gestão petista, o presidente da agência era o empresário Juan Quirós, que é amigo de Doria. Já o ministro da Indústria, Desenvolvimento e Comércio de Lula era Luiz Furlan, que também foi elogiado por Doria. Hoje, Furlan está na cúpula do Lide (Grupo de Líderes Empresariais), entidade fundada pelo hoje governador.
Segundo a Apex, o fluxo de visitantes do Pavilhão Brasil registrou seus números mais altos no dia 21, três dias do início da semana de São Paulo. Foram 20.506 visitantes, de acordo com o Comissário Geral do Brasil na Expo, Elias Martins. O texto de divulgação do pavilhão brasileiro enviado pela Apex diz que o evento “é uma oportunidade única do Brasil mostrar ao mundo áreas e questões em que é líder, além de desfazer percepções equivocadas sobre o País”.
A Apex fala ainda em “ganhos intangíveis” em termos de imagem, promoção do turismo e percepção internacional sobre o País, e afirma que a Expo 2020 Dubai deve gerar ao menos US$ 10 bilhões em novos investimentos estrangeiros diretos e mais de meio bilhão de dólares em contratos de exportação, o que, segundo a agência, contribuiria para a “geração/manutenção” de cerca de 120.000 empregos diretos no Brasil.