Dólar tem alta firme e Bolsa recua em meio a preocupações com cena fiscal brasileira
O dólar operava em alta nesta quinta-feira (18), conforme cresciam as preocupações com a cena fiscal doméstica após declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) levantarem dúvidas sobre o equilíbrio das contas públicas.
O mercado também repercutia a decisão de política monetária do BCE (Banco Central Europeu) e os novos dados do mercado de trabalho dos Estados Unidos, em busca de sinais sobre a trajetória de juros do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano).
Às 10h29, o dólar subia 1,15%, cotado a R$ 5,547 na venda. Já a Bolsa recuava 0,52%, aos 128.779 pontos.
Os agentes financeiros repercutiam as falas de Lula à TV Record, em entrevista na segunda-feira. Trechos da conversa chegaram ao conhecimento do mercado antes da divulgação pela emissora, conforme apurou a Folha.
Na entrevista, o petista afirmou que não é obrigado a cumprir a meta fiscal se tiver “coisas mais importantes para fazer”. Por outro lado, disse que a meta de déficit zero para este ano não está rejeitada e se comprometeu a fazer o necessário para cumprir arcabouço fiscal.
As falas do presidente reacenderam temores sobre o compromisso do governo com o equilíbrio das contas públicas. O movimento acontece antes da divulgação do Relatório de Avaliação de Receitas e
Despesas do terceiro bimestre na sexta-feira, no qual o Executivo precisará apontar como pretende cumprir a meta de déficit zero neste ano.
“Alguns reflexos (da entrevista de Lula) podem vir de ainda alguma insegurança com o arcabouço fiscal… Lula deixou margem para a interpretação de que a flexibilidade que ele espera pode ser maior do que o mercado está disposto a tomar”, disse Matheus Massote, especialista em câmbio da One Investimento.
Mais cedo, a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, disse que Lula determinou que o governo não deve gastar mais do que arrecada, premissa que, segundo ela, deve se refletir no Orçamento para o próximo ano.
“Nós temos um compromisso com o país, por determinação do presidente e da equipe econômica, de não gastar mais do que arrecada”, disse Tebet em entrevista ao programa “Bom dia, ministra”, do CanalGov.
Os comentários da ministra não pareciam aliviar os investidores.
“Foi uma boa sinalização em termos de falas, mas o mercado fica um pouco cético sobre se isso vai ser efetivamente colocado em prática”, disse Gabriel Mota, operador de renda variável da Manchester Investimentos.
“Isso (falas de Tebet) deveria aliviar um pouco a pressão, mas não é algo que estamos vendo agora”, acrescentou.
No exterior, o BCE decidiu manter a taxa de juros inalterada em 3,75%, como esperado por analistas, após um corte de 25 pontos-base na reunião anterior, o que havia iniciado um ciclo de afrouxamento monetário há muito aguardado.
As autoridades do BCE também reiteram seu compromisso com o retorno da inflação na zona do euro a sua meta de 2%, afirmando que os juros permanecerão suficientemente restritivos pelo tempo necessário.
Eles não sinalizaram como devem agir nos próximos encontros.
Investidores também digeriam novos dados de auxílio-desemprego dos EUA que vieram acima do esperado, reforçando o argumento de que o mercado de trabalho passa por um processo de moderação.
O Departamento de Trabalho relatou que os pedidos iniciais de auxílio-desemprego aumentaram em 20.000 em relação a semana anterior, a 243.000, acima da expectativa de 230.000 de especialistas consultados pela Reuters.
O dado, somado a números de inflação mais benignos no segundo semestre, devem reforçar a expectativa de um corte de juros pelo Federal Reserve em setembro.
Na quarta-feira (17), o dólar fechou em alta de 1,03%, cotado a R$ 5,484 na venda, e a Bolsa subiu 0,26%, a 129.450 pontos.
Os investidores mantiveram cautela diante da cena internacional, especialmente em relação ao Japão e aos Estados Unidos, e da cena fiscal brasileira, após entrevista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na noite de segunda-feira gerar ruídos sobre o arcabouço que rege as contas públicas.
O real foi afetado pela disparada do iene japonês, em meio a rumores de que o Banco Central do Japão teria intervindo de forma agressiva para valorizar a moeda local.
O avanço do iene afetou operações de carry trade ao redor do mundo, incluindo as realizadas com a moeda brasileira. No carry trade, investidores tomam recursos no exterior, a taxas de juros baixas, e reinvestem em países como o Brasil, onde a taxa de juros é maior.
Como a cotação do iene subiu, investidores tendem a desmontar essas posições de carry, o que acaba por pressionar as cotações do real. Um dos efeitos é a alta da taxa de câmbio algo que já havia ocorrido na quinta-feira passada (11), quando o iene também avançou.
“O real é bastante líquido, então é fácil fazer carry. Quando tem alta do iene, há uma reprecificação de carry trade no mundo, o que também afeta o real”, diz Lais Costa, analista da Empiricus Research.
Também preocupava o rumo das eleições norte-americanas, em especial sobre a futura política comercial dos EUA caso o ex-presidente Donald Trump defensor vocal de mais protecionismo econômico volte à Casa Branca.
Na segunda-feira, o candidato republicano confirmou o senador J.D. Vance como companheiro de chapa, que disse ver a China como a “maior ameaça” aos Estados Unidos no momento.
A China sempre foi alvo de Trump em seus discursos, com ameaças frequentes de imposição de tarifas sobre a segunda maior economia do mundo.
Contribuindo para as preocupações, reportagem da Bloomberg relatou que o governo do presidente Joe Biden está considerando novas restrições para afetar a indústria chinesa de chips, mostrando que os EUA devem apertar a política comercial mesmo com a reeleição do democrata.
Em resposta, o índice Nasdaq perdeu mais de 2% nesta quarta, puxado pelo derretimento de ações ligadas a empresas de tecnologia e chips.