Moeda norte-americana cai e Bolsa hesita, com foco em discussão sobre juros nos EUA
O dólar tinha queda nesta terça-feira (16), com investidores atentos a sinais de que um corte na taxa de juros norte-americana possa ocorrer nas próximas reuniões do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos).
Às 12h03, a moeda norte-americana sofria desvalorização de 0,48%, cotada a R$ 5,419. Já a Bolsa brasileira hesitava com pressão de papéis ligados a commodities, operando em leve alta de 0,03%, aos 129.363 pontos.
A possibilidade de um afrouxamento na política monetária dos EUA ainda no terceiro trimestre deste ano tem trazido otimismo aos mercados, sobretudo emergentes.
Jerome Powell, presidente do Fed, afirmou que as leituras de inflação dos EUA dos últimos três meses “aumentaram um pouco a confiança” de que o ritmo de alta dos preços está voltando para a meta estipulada pelo banco central de forma sustentável.
“No segundo trimestre, na verdade, fizemos um pouco mais de progresso”, disse em um evento no Clube Econômico de Washington. “Tivemos três leituras melhores e, se fizermos a média delas, é uma posição muito boa.”
A inflação está se aproximando da meta de 2% do Fed, e formuladores de política monetária estão cada vez mais preocupados com a possibilidade de desacelerar demais a economia e provocar o aumento da taxa de desemprego.
Operadores passaram a precificar a possibilidade de três cortes de juros neste ano, sendo o primeiro na reunião de setembro, seguido de cortes adicionais em novembro e dezembro. Eles apostam em 68 pontos-base de afrouxamento ainda em 2024, de acordo com a ferramenta FedWatch da CME.
A taxa de juros norte-americana, hoje, está na faixa de 5,25% e 5,50% ao ano. Quanto maior o afrouxamento na política monetária, pior para o dólar, que se torna comparativamente menos interessante quando os rendimentos dos Treasuries diminuem.
A moeda norte-americana ainda tem como pano de fundo apostas de um novo mandato do ex-presidente Donald Trump, vítima de um atentado durante um comício no último sábado (13).
O movimento de queda desta sessão vai na contramão do quadro visto na véspera, quando um possível retorno do republicano à Casa Branca elevou a cotação do dólar em relação à maioria das moedas globais.
O dólar subiu 0,28% ante o real, cotado a R$ 5,445 na venda. Já a Bolsa estendeu a sequência de pregões positivos, com alta de 0,33%, aos 129.320 pontos.
“Vemos um aumento considerável nas perspectivas de vitória de Trump na eleição que se aproxima, tomando como base tanto cenários anteriores na própria história americana, quanto o exemplo brasileiro, com a vitória do ex-presidente Jair Bolsonaro [após o episódio da facada desferida por Adélio Bispo em 2018]”, avalia Paulo Henrique Duarte, economista da Valor Investimentos e mestre em finanças pelo MIT Sloan School of Management.
De acordo com ele, a perspectiva de uma vitória republicana nas eleições traz um efeito de curto prazo na economia global, em especial pela memória do primeiro mandato de Trump.
“As Bolsas performaram muito bem na época por causa dos esforços agressivos na política de impostos. No curto prazo, devemos ver juros futuros americanos e perspectivas de inflação subindo, o que fortalece o dólar.”
As propostas de Trump, hoje, miram novamente a política fiscal e monetária dos Estados Unidos. O ex-presidente defende uma nova reforma tributária, com corte nos impostos pagos por empresas norte-americanas e uma alíquota maior nas tarifas de importação feitas pelo país, o que tende a estimular o crescimento econômico e a inflação.
Trump foi ferido após tiros serem disparados contra ele durante um comício em Butler, no estado da Pensilvânia. Segundo o ex-presidente, ele foi atingido por uma bala que perfurou a parte superior da sua orelha direita. A campanha do republicano diz que ele passa bem, e o incidente está sendo investigado como uma tentativa de homicídio.
As chances de uma vitória de Trump subiram no site de apostas PredictIt, usado como base para os mercados financeiros. Antes em 60% na sexta-feira, a possibilidade do republicano voltar à Casa Branca subiu para 67% na segunda, enquanto o atual presidente norte-americano Joe Biden ficou no patamar de 27%.
Na cena corporativa, o Ibovespa era pressionado pelo movimento de queda de commodities no exterior. Vale e Petrobras, as duas empresas de maior peso no índice, operavam no negativo diante da desvalorização do minério de ferro na China e do barril de petróleo tipo Brent.
“A gente não vê possibilidade de uma performance muito forte (do Ibovespa) com esse quadro de commodities sendo pressionado”, afirmou o analista Bruno Benassi, da Monte Bravo Corretora.
Com a indefinição de sinais, a Bolsa pode interromper a sequência de 11 pregões positivos, uma ocorrência rara desde o ano 2000: segundo a consultoria Elos Ayta, esse feito ocorreu apenas quatro vezes nos últimos 24 anos. O Ibovespa, no entanto, ainda acumula queda de mais de 3% no ano.
Também na coluna negativa, Grupo Pão de Açúcar perdia 5%, após informar na véspera que não tem conhecimento sobre eventual venda de suas ações detidas pelo Casino, nem da possibilidade de uma oferta de um terceiro pela participação do Casino na empresa.
Eneva subia 1,51%. A companhia anunciou follow-on de até R$ 4,2 bilhões, além de acordos para uma incorporação de ativos do acionista BTG Pactual, em operação que adicionará usinas termelétricas operacionais ao portfólio da empresa.
Nos Estados Unidos, dados mostraram que as vendas no varejo ficaram inalteradas em junho.
Economistas consultados pela Reuters previam queda de 0,3% das vendas varejistas, que são em sua maioria bens e não são ajustadas pela inflação.
Já por aqui, investidores estarão atentos a falas do diretor de Política Monetária do BC (Banco Central), Gabriel Galípolo, em fórum promovido pelo Sicredi durante a tarde, e ao andamento do projeto de reoneração gradual da folha de pagamento no plenário do Senado.