Dólar abre em leve queda à espera de reunião entre Lula e equipe econômica para conter alta
O dólar abriu em leve queda nesta quarta-feira (3) com o mercado na expectativa da reunião entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os ministros da área econômica, nesta tarde, para tratar do câmbio e da situação fiscal.
A moeda começou a sessão cotada a R$ 5,6562, às 9h11, uma desvalorização de 0,18% em relação a terça-feira, quando fechou em R$ 5,665 e voltou a ser o maior valor desde janeiro de 2022 pela quarta sessão seguida.
Enquanto o dólar sobe no Brasil, a divisa apresenta queda em relação a outras moedas pelo mundo.
Na terça, a alta do dólar foi influenciada por novas declarações de Lula sobre o Banco Central. Em entrevista à rádio Sociedade da Bahia, o presidente afirmou que o Banco Central é uma instituição de estado e não pode estar a serviço do sistema financeiro. Ele também voltou a dizer que o presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, tem viés ideológico.
“A gente precisa manter o Banco Central funcionando de forma correta, com autonomia, para que seu presidente não fique vulnerável às pressões políticas. Se você é democrata, permite que isso aconteça.
Quando é autoritário você resolve fazer com que o mercado se apodere da instituição”, disse o presidente.
Lula também afirmou que há atualmente um ataque especulativo ao real, acrescentando que voltará a Brasília na quarta-feira e discutirá o que fazer em relação à alta do dólar.
Nos últimos 60 dias, nos meses de junho e julho, Lula fez ao menos 14 comentários públicos sobre política fiscal e monetária, em 10 diferentes dias. Criticou a autonomia do Banco Central, atacou o presidente da autarquia e colocou em dúvida a intenção do governo de cortar gastos, entre outros assuntos que afetam o humor do mercado.
Após o dólar abrir em baixa, a fala de Lula passou a pesar sobre os negócios ao longo da manhã e as cotações da moeda norte-americana ganharam força. Profissionais do mercado afirmaram que a possível intervenção do governo no câmbio gerava receios.
“A insistente despreocupação do governo com o déficit fiscal faz com que os investidores sigam retirando a moeda estrangeira do país”, diz Felipe Castro, planejador financeiro e sócio da Matriz Capital.
Na visão do analista Régis Chinchila, da Terra Investimentos, a fala corrobora o mau humor dos últimos dias com tensão crescente entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o titular do BC em um ambiente de aumento nas preocupações fiscais.
Perto do fim da sessão, no entanto, a moeda americana desacelerou e se afastou das máximas. Houve um movimento semelhante nas curvas de juros futuros do Brasil, que operaram em alta durante boa parte do dia, mas passaram a cair, acompanhando os rendimentos dos títulos do Tesouro americano, os chamados “treasuries”.
Os comentários de Lula vêm sendo apontados por profissionais do mercado como um dos principais motivos para que o dólar tenha disparado ante o real e a curva de juros esteja em forte alta no Brasil. Em 2024, a moeda norte-americana acumula elevação superior a 16%.
Na Bolsa brasileira, o Ibovespa começou o dia em alta firme, mas também teve uma sessão instável, chegando a apagar os ganhos em alguns momentos. No fim, fechou em oscilação positiva de 0,05%, aos 124.787 pontos.