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sáb. 26 fev. 2022

Djaimilia Pereira de Almeida fala sobre sua obra Esse Cabelo

por Agência Estado

Como num romance, Djaimilia Pereira de Almeida estava de malas prontas para a Suíça, onde começa uma nova fase em sua vida: será escritora residente da Literaturhaus Zürich. Aos 40 anos, a autora nascida em Luanda tem o espírito de uma viajante, tema presente em Esse Cabelo (Todavia), romance saído pela primeira vez no Brasil em 2017, pela Leya. Dona de uma prosa confessional, ela revela os processos de escrita e as angústias no ‘roman à clef’ (quando o autor trata de pessoas reais por meio de personagens fictícios), partindo da protagonista Mila que, como a autora, cresce nos arredores de Lisboa percebendo o mundo sob as asas da avó; percorrendo uma cidade que, como outras metrópoles, abriga outras cidades dentro de si.

As identidades se cruzam e ultrapassam as fronteiras, a vida jovem pulsa e vai ao encontro das tradições. Nesse crossover entre o idealismo e as rachaduras do novo século chegando (o romance se passa na década de 1990), a busca incessante pelas raízes, pela compreensão da origem, revela uma jovem mulher buscando seu lugar no mundo. Esse Cabelo é o romance de estreia da autora de Luanda, Lisboa, Paraíso (Prêmio Oceanos), elogiado pela crítica portuguesa, e a mensagem que o livro constrói do cabelo muito lembra os versos de outro sucesso por aqui já bem-sabido, Cabelo, cantado por Gal, “Quem disse que cabelo não sente?”. Ao responder ao Estadão, Djaimilia prova que sim, sente até demais.

Qual foi o insight para escrever o livro? Como é o seu ritual para escrever?

Esse Cabelo desenrola-se como um álbum de fotografias de família, cada capítulo é uma imagem numa dessas coleções que guardamos de imagens da nossa infância e começo de vida. O meu ritual hoje é muito diferente do que era quando o escrevi. Hoje, escrevo o dia inteiro, vários dias por semana, com pausas. Naquela altura, trabalhava e escrevia ao mesmo tempo, escapava para escrever nas horas vagas. Mas, como nessa altura, começo muitas vezes com uma imagem real ou imaginada, que persigo. Pode ser uma fotografia ou uma visão, uma parte de um sonho, ou uma frase.

Djaimilia, em vários livros seus você tocou de um jeito muito profundo em questões de família, afeto e cuidado. Em dado momento, em Esse Cabelo, você coloca: “Amor ao supérfluo ajuda a entender o que somos” – como você lida com as questões materialistas da vida?

Com essa frase queria dizer que os seres humanos se definem também pelo modo como para nós são fundamentais coisas de que não precisamos para a nossa sobrevivência. Damos valor e confundimo-nos com coisas e objetos de que não depende a nossa sobrevivência, sendo os livros uma delas, por exemplo. Não precisamos escrever para sobreviver – contudo, não imagino a minha vida sem escrever e, se fosse privada de o fazer, me sentiria num abismo. Pessoalmente, ligo pouco para coisas materiais, mas dou muito valor a coisas sem valor que me dizem tudo, objetos com valor emocional, mas sem valor material, memórias, pequenas lembranças.

Notei que a figura do jardineiro está presente em sua obra, no Capitão Celestino, em A Visão das Plantas, e cá, como afazer do avô Castro. O que ela simboliza?

Em Esse Cabelo não tem particular simbolismo: é meramente uma ocupação do avô Castro. Também em A Visão das Plantas, o simbolismo é menos importante do que a prática. Importa-me em todo o caso o jardim e o jardineiro como figura daquilo a que, na nossa vida, damos vida e preservamos, e enquanto figura de um modo de abandono ao que fazemos à qual dou muito valor e que é, para mim, importante na escrita: escrever como modo de me abandonar, de me entregar por completo ao que estou a escrever.

Quando ambienta o bairro de imigrantes em Lisboa, no livro é traçado um retrato parcial da cidade, com certas limitações para as personagens, inclusive para a avó, você mesma coloca “As cidades são invisíveis”. O que a inspirou a retratar essa realidade em seu livro? Italo Calvino teve algo a ver nessa concepção?

Teve um pouco, sim. Mas me importava mais a ideia de uma cidade contínua, que atravessa, neste caso, dois continentes, da Luanda onde nasceu Mila à Lisboa onde cresceu. Interessa-me a ideia de um contínuo citadino percorrido por uma personagem como uma espécie de busca, na qual ela vai perseguindo os seus sinais e pontos de referência. Mila é uma moça em busca do seu senso de orientação na vida e, nessa medida, a ideia de cidade contínua oferece um horizonte aberto para essa viagem.

Quais lembranças você tem da sua avó? Qual é a mais marcante e inspiradora?

A minha avó, aliás, as minhas avós, estão sempre comigo, lembro-me delas a toda hora. Talvez a lembrança de a pentear, sendo eu criança, ou de lhe pintar as unhas, seja a imagem mais marcante, assim como o seu perfume, com o qual formei a minha ideia do que era ser uma mulher adulta.

Esse Cabelo me parece um bocado confessional. Quando você coloca que “Este é o fantasma formal que me persegue: o receio de que o melhor meio seja expor os meios”. O que isso quer dizer?

Significa que, por vezes, ao escrever, pondero se devo ou não expor o esqueleto dos livros e deixá-lo à vista. É uma ambivalência difícil de decidir: devo ou não esconder os caminhos, os processos, ou deixar à vista vestígios do processo que me conduziu a escrever como escrevi.

Nesta última pergunta, gostaria que você comentasse suas influências e o que está lendo no momento. Além de, claro, como será essa residência na Suíça?

Minhas influências vão da fotografia de Robert Frank até Robert Walser ou Gustave Flaubert, Carl Jung, Czeslaw Milosz, Jonas Mekas, Raul Brandão, passando por autoras vivas como Claudia Rankine ou Marilynne Robinson. No momento, ando a ler Modos de Ver, do crítico britânico John Berger, para um projeto que tenho em mãos, e o grande romance Museu da Revolução, do moçambicano João Paulo Borges Coelho. Estarei em Zurique até o verão europeu como escritora residente da Literaturhaus Zürich. Espero que seja um período proveitoso para escrever, durante o qual conto para terminar vários projetos.

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