Custo de produção das indústrias de Marília cresce com alta do dólar
Com o dólar comercial em patamar recorde, está cada vez mais difícil encontrar satisfação e lucro em algum setor da economia. Como a especulação não conta, já é possível dizer que todos na cadeia produtiva começam a ter prejuízos. Até as indústrias favorecidas pelo câmbio, começam a patinar devido à escassez de insumos.
A escalada da moeda não para. Em janeiro desse ano, um dólar comprava R$ 5,16. Nesta quinta-feira (21), a moeda americana atingiu R$ 5,64.
Marília, onde o emprego e renda têm forte dependência do desempenho das indústrias, demorou a sentir reflexos negativos da desvalorização da moeda nacional. Isso porque o dólar alto favorece as exportações. Mas é justamente esse bônus que está em xeque.
O professor de economia política internacional da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Marília, Marcos Cordeiro Pires, explica que a economia brasileira é cada vez mais dolarizada. Os custos de produção, em praticamente todos os setores, estão estratosféricos.
“Com o aumento do preço da energia, do aço, dos grãos, do açúcar, enfim, dos insumos em geral – que a nossa indústria utiliza -, o produto já sai da fábrica muito caro. Para o consumidor interno, não está mais acessível, devido à perda de renda do brasileiro”, explica.
Já para exportação, o preço segue muito vantajoso para outros mercados, porém, a remuneração que a indústria brasileira recebe já não faz mais frente aos seus custos, na visão de Marcos Cordeiro.
Outro problema é o desajuste que o câmbio sem precedentes tem feito na economia. Com aumento das exportações de determinadas matérias-primas, a escassez no Brasil começa a se tornar realidade.
Assim, empreendedores com boas ideias, bons projetos, recursos para produzir, estão ficando de mãos atadas por não encontrar no país os insumos necessários. Na hora de importar, evidente, o custo será extremamente elevado, tornando o aparente bom negócio em inviável.
QUEM GANHA?
O agro, inicialmente favorecido pela desvalorização do real, começa a sofrer efeitos da fragilidade econômica do país. Luis Saluti, corretor no mercado de café, explica que a disparada no preço leva crise aos exportadores com menor capital e pequenas indústrias brasileiras.
“O ruim de tudo isso é que o exportador sem recursos próprios, os menores, têm que buscar recursos em bancos. Quando você faz isso, tem que deixar garantia. Esse exportador pequeno já deu as garantias dele, não tem mais garantias. Então, ele não consegue comprar mais, exportar mais. Os grandes [exportadores] atropelam”, afirma.
O preço da saca, que deve passar de R$ 1,5 mil, pode até favorecer alguns, mas a pequena indústria brasileira de torrefação, responsável pelos “cafés regionais”, que chegam baratos para a população de menor renda, vê seus custos aumentarem cada vez mais.
“O torrador brasileiro está com dificuldade porque a mercadoria barata – cafés mais consumidos pelo mercado interno. O quilo cru já está saindo a R$ 21. Esse empresário vai torrar, embalar, vender, dar um prazo para o dono do supermercado. A margem de lucro dele, vai embora”, afirma.
Outro setor que não está nada contente com o dólar estratosférico é a de Tecnologia da Informação. “O custo de hardwares e softwares importados, evidente, nunca foi tão alto”, afirma Marcos Cordeiro.
“Na verdade, ganham os detentores de ativos baseados em dólar. Os investidores estrangeiros e os turistas podem comprar ativos baratos no Brasil. É benefício para poucos”, alerta.
GRANDES EMPRESAS
O economista e professor Eduardo Rino afirma que, no setor industrial, a maioria das empresas de médio e pequeno porte já vivem a realidade de escassez. Por outro lado, as grandes ainda têm pouco a reclamar.
“Para as grandes, principalmente, as multinacionais, a interferência é pequena porque os preços dos produtos exportados estão mais competitivos e elas estão vendendo mais. Quem depende da importação de itens, para a elaboração do produto final, está prejudicado”, sinaliza.
POLÍTICAS PÚBLICAS
Além de mais dificuldade para negociar contratos vantajosos visando matéria-prima, as empresas menores, segundo Rino, sofrem por não terem os benefícios de ajuda governamental, como incentivos fiscais e empréstimos com condições de juros favoráveis.
Na prática, com o dólar alto, elas podem até vender mais, mas ficam rapidamente sem capital de giro e recursos para compra de novos equipamentos, ampliação ou substituição de máquinas.
“Com o dólar em alta, o Banco Central vai elevar a taxa de juros, o que impacta diretamente nos juros cobrados pelos bancos. É um ciclo complicado. Falta sensibilidade política, principalmente do Legislativo e Judiciário, para gastarem menos e adotarem medidas que gerem mais segurança institucional no país, para que, então, possam ser feitas as reformas que o Brasil precisa”, ensina o professor.