Dezembro: O que nos resta?
Seja bem-vindo à conversa de hoje, caro leitor!
Enfim. Cá estamos para a conclusão de um ano pesado. Já no dia sete de janeiro, o ano nos chacoalhou forte com o atentado à arte e ao jornalismo representados por Charlie Hebdo. Aliás, atentados e decapitações vieram em toneladas pelo mundo.
Além de mortes icônicas como a do matemático John Nash, ocorrida em maio e de Marília Pêra, mais recentemente, as epidemias de Aedes Aegypt assustaram o país e o racismo e preconceito foram recorrentemente esguichados dos noticiários.
Assim como uma enxurrada de denúncias e descaso no espectro político da nossa pátria amada – hoje menos idolatrada. Fechamos um ano desgostoso, com catástrofes ambientais, bombardeios e corrupção. Os males parecem estar por aí e nos vemos cada vez mais distantes da Idade de Ouro. Mas nem tudo está acabado. Nem tudo nos escapa.
O artigo de hoje será o primeiro de um total de dois que pretendo apresentar a você até o final do ano. Poderia eu, sob a luz da Psicologia, conversar sobre as dificuldades nos relacionamentos amorosos, a sexualidade, a curiosidade humana ou a impulsividade. Mas hoje vamos ser mais leves. Vamos falar um pouco sobre Esperança:
Conta a lenda que os Titãs eram uma raça gigantesca que habitou a Terra antes da humanidade. Ao titã Prometeue ao seu irmão Epimeteu foiconferida pelos deuses a responsabilidade quanto à criação do homem e de todos os outros animais. Deveriam assegurar-lhes – ao homem e aos ouros animais – todas as faculdades necessárias à sua preservação. Para tanto, Epimeteuencarregou-se da obra e Prometeu, de examiná-la depois de pronta. Epimeteu tratou-se então, de conferir a todos os animais dons como coragem, força, rapidez e sagacidade e, já exausto por ter gasto todos os recursos, recorreu a seu irmão para criar o homem. Com a ajuda de Atena, deusa da sabedoria, Prometeu subiu aos céus e trouxe o fogo que assegurou superioridade do homem em relação a todos os outros animais. Não tendo ainda sido criada a mulher, Zeus, irado, decidiu castigar Epimeteu por roubar o fogo, enviando-lhe Pandora para esposar-se. Era a primeira mulher. Feita no céu, cada um dos deuses enviou para a sua criação qualidades como a beleza, a persuasão, a meiguice, a inteligência e a música para aperfeiçoá-la.Contudo,Zeuspediu que ela chegasse a Epimeteu portando uma caixa que jamais deveria abrir. Tomada pela curiosidade, Pandora decide violar a recomendação de Zeus e abre a caixa de onde escaparam todos os males que passaram a aflingir a humanidade. Zeus havia reunido males como doenças, inveja, despeito, vingança e a mentira. No entanto, perplexa com seu feitio, a jovem resolveu fechá-la tão logo que conseguiu segurar um elemento. Era a Esperança. Zeus havia colocado ali, também, a Esperança.Prometeu foi castigado sendo acorrentado ao rochedo do Monte Cáucaso, com um abutre lhe devorando o fígado. (A Caixa de Pandora, adaptado de “O Livro de Ouro da Mitologia”, de Thomas Bulfinch).
Havia se encerrado, assim, a era da justiça, da verdade, da inocência e da ventura conhecida como a Idade de Ouro. Seguiram-se a ela a Idade de Prata e a Idade de Bronze, inferiores à de Ouro.
Para explicar a origem dos males, os Gregos – berço da civilização ocidental – viam nos mitos um bom alívio para suas indagações, imprevisões e fatos que não podiam dominar. Assim o ser humano parece ser. E os mitos – assim como a arte e as demais produções humanas – podem fornecer bons subsídios para a compreensão da vida mental, que é riquíssima. Assim, vamos para as nossas regrinhas de sempre:
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Retornando ao mito, seria fácil crucificarmos Pandora, já que ela foi responsável pela libertação de todas as adversidades negatividades. Mas hei de frustrar essa tendência: Pandora não representa a origem dos males do mundo. Mas como assim? Bem, Pandora acaba por oferecer à humanidade a possibilidade de se aperfeiçoar através das provas e das adversidades próprias da vida. Representa a fonte da dignidade e da força que nasce a partir do conhecimento e da Esperança. E que estão – às vezes adormecidos – dentro da gente (regra nº2).
E sobre a Esperança, um outro aspecto: a nobreza dela não reside no fato de ela vir do caldo das qualidades edosditos sentimentos positivos. Ainda que tenhamos testemunhado os funerais da Idade de Ouro, não é exatamente dela que a Esperança vem. Mas de onde viria ela, então?
Pois bem, ela é especial. Assim como o interior da caixa de Pandora, é em meio às adversidades que surge a Esperança. Ainda que o mito inaugure o fim da Idade de Ouro, não é em “berço de ouro” queela nasce (regra nº2). Vem curtida juntoa todos de males e aninhada entre coisas desgostosas como a mentira, a doença e o despeito.
Por fim, não pretendo esgotar as possibilidades de análise do mito. Não dá pra ignorar, no entanto, que neste momento de festas fechamos o ano como se tivéssemos defronte à caixa de Pandora aberta.
Um momento desgostoso onde habitam sentimentos de impotência frente aos fatos, de falta de controle e uma azeda des-esperança. Mas também testemunhamos novos e bons acontecimentos como o avanço constitucional, por parte dos Estados Unidos, à união legal homoafetiva, promovendo assim avanços no combate à intolerância segregatória do sujeito diferente, base narcísica do preconceito.
De qualquer forma, seguimos sonhando com a volta da “Idade de Ouro”. Mas sinto dizer: talvez ela não retorne. Mas há Esperança: do grego Pândora, Pandora significa “a que tudo possui” (retirado do site Wikipedia)- ou “todos os dons”, como no mito.
Dons esses que também habitam a humanidade (regra nº4). Pandora representa a origem da força e das habilidades do ser humano que surgem frente às adversidades, trazendo em seu escopo a chave do próprio mundo – externo e interno.
Assim como na lenda, não deixemos que nos escape a Esperança de dias melhores. E que dela venham a força e as habilidades para um bom final de ano e para um ano novo e melhor.
Um bom abraço e boas festas!