Dani Alonso mede desafios para mulheres conquistarem espaço
“Somente depois de saberem que eu estava por trás do sucesso dos resultados é que mudavam a maneira de me tratar”.
A frase é da empresária Dani Alonso, reconhecida como uma profissional de sucesso, que conversou com o Marília Notícia sobre preconceito no ambiente de trabalho e liderança feminina, além de outros desafios que a sociedade precisa enfrentar.
A gestora da Casa Sol é reconhecida como uma importante liderança feminina mariliense. Em outubro do ano passado, ela recebeu 24.962 votos em campanha para deputada estadual pelo Partido da República (PR).
Apesar de não se eleger, Dani angariou capital político para outras investidas. Há quase um ano ela já ocupa a Coordenadoria Regional do PR Mulher.
Dani também dá seu ponto de vista sobre cota para mulheres, discriminação, educação para as próximas gerações e a cobrança que o público feminino enfrenta.
Confira entrevista abaixo:
Marília Notícia – Quais os principais desafios profissionais encontrados apenas pelo fato de ser mulher?
Dani Alonso – Sinto que o maior desafio seja conciliar as inúmeras atividades que as mulheres possuem a tendência de absorver.
Embora ainda vivamos em uma sociedade com traços machistas, o fato da mulher ter ambições no trabalho e lutar para ser uma profissional eficiente, ela também possui ambições em sua vida pessoal.
Isso faz com que a mulher, dependendo do momento que esteja vivendo em sua vida, abra mão de grandes lideranças para cuidar da família por exemplo.
MN – Já enfrentou situação de preconceito de gênero?
DA – Já sim, não diretamente, mas quanto mais subimos os níveis de lideranças, é comum os homens, nos primeiros contatos, não valorizarem a presença das mulheres.
Já vivenciei muitos eventos empresariais onde eu estive presente com meu pai e irmão, que outros homens vinham até nós para nos cumprimentar, e ao abordar um assunto, que por vezes era literalmente a minha área, a minha responsabilidade e o mérito era meu, eu era “excluída” do assunto pelos outros homens.
Somente depois de saberem que eu estava por trás do sucesso dos resultados é que mudavam a maneira de me tratar.
Percebia que era algo até inconsciente, típico da nossa cultura. A sensação era que eu estava ali apenas para acompanhar e não que eu era a mentora do assunto ou do projeto pautado.
MN – Como vê o machismo?
DA – Vejo como algo cultural, porém um desafio gigante para as próximas gerações, principalmente para educar meninos que serão homens.
Sou mãe de uma menina, educo minha filha para ser uma mulher independente, que estude, que seja uma profissional valorizada.
Valorizo muito também a questão da família, maternidade, cuidados com a casa, o lar. Vejo que todos os pais incentivam parecido.
Minha pergunta é: Os pais de filhos homens estão educando suas crianças para lidarem com mulheres independentes? Para entender a importância da participação dentro de casa com as tarefas dos filhos e casa? Com a responsabilidade financeira?
Eu fui criada por um modelo tradicional, onde minha mãe cuidava do lar e meu pai trabalhava, e por isso sou uma dona de casa, mãe e profissional, porém o que vejo hoje é que esse modelo não comportará as próximas gerações.
MN – Qual o papel da mulher na política?
DA – Mais uma vez vejo que a mulher na política faz parte da evolução e das conquistas delas na sociedade.
A política envolve toda uma sociedade, onde um governo precisa pensar em todos. Homens e mulheres são completamente diferentes e possuem percepções muito diferentes também. O que muitas vezes é importante pra um, não é pro outro.
A presença da mulher na política garante uma visão mais humana, mais inclusiva, mais detalhista.
A medida que as mulheres avançam e representam mais que 50% da classe trabalhadora em nosso país, é insano pensarmos em uma política sem a participação dessa classe.
MN – Por qual motivo decidiu disputar uma eleição? Por ser mulher quais os desafios que encontrou?
DA – Decidi participar justamente por perceber a carência do lado humano na política. Um meio onde a disputa está para o poder, o ego, a vaidade, mergulhado em corrupções, camuflado pelo “amor ao povo”. Fiquei tão indignada que me levantei diante dessa situação e me coloquei à disposição para realmente fazer o que eu acredito.
É impossível fazermos política séria e digna sem sensibilidade, sem compreensão, sem um senso de justiça que pensa no bem comum. E como mulher, eu percebi sim que ainda temos uma pequena rejeição.
MN – Ainda existe pouco espaço para a mulher na política. Marília, por exemplo, tem uma única vereadora. Como mudar isso além das cotas para campanhas?
DA – As cotas precisam ser reais, é preciso incentivo para mulheres participarem da política. É preciso criar leis que elejam um mínimo de mulheres, e não apenas tenham candidatas mulheres.
A política ainda é um meio que assusta muitas mulheres. A política no Brasil, especialmente nos municípios, são de muitos ataques, muitos fakes, muitas distorções que ferem as famílias, filhos e até mesmo a honra de quem se coloca à disposição da sociedade.
Mulheres pensam muito no próximo, colocam o bem estar de quem amam na frente dos seus ideais, e por isso encontrar mulheres que tenham como propósito e missão de vida a política, é difícil. É sempre um desafio encontrar candidatas que queiram disputar as eleições.
MN – Qual a mensagem que deixa para outras mulheres?
DA – Gostaria de ver mais mulheres lutando por seus sonhos, por se amarem, por reconhecerem seus verdadeiros potenciais. Mas, acima de tudo isso, gostaria de ver mais mulheres que não se cobrem tanto.
Nós mulheres possuímos um grande senso de perfeccionismo e auto-cobrança que nos consome.
Queremos ser profissionais excelentes, queremos ser mães exemplares e presentes, queremos ser esposas dedicadas ao lar e esposo, queremos cuidar da nossa saúde, beleza e emocional.
De fato, não há ser humano que suporte tantas exigências criadas por nós mesmas.