Crise hídrica pressiona valor da energia e pode encarecer conta do Daem

Represa Cascata, um dos poucos pontos de captação superficial em Marília, dá noção de como a seca se antecipou (Foto: Carlos Rodrigues/Marília Notícia)
Com a crise hídrica, que pode provocar um aumento de até 20% na conta de energia, o mariliense também deve amargar outra alta. Por consequência, a conta de água pode ter elevação.
Isso porque a energia chega a corresponder a 38% de todos os custos do Departamento de Água e Esgoto de Marília (Daem). Pelo menos um terço da receita vai para o pagamento da conta com a Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL) – concessionária do serviço no município.
Há anos a autarquia enfrenta dificuldades para manter as faturas em dia. A diretoria acompanha o cenário com preocupação e acredita que será impossível não repassar o aumento.
“A energia, os recursos humanos e a manutenção da rede formam as nossas principais despesas. Se vier mesmo um reajuste, como está sendo acenado por parte do setor elétrico, vamos ter que discutir o assunto com o jurídico”, afirma Marcelo de Macedo, presidente do departamento.
Em 2020, o Daem arrecadou – segundo o Portal da Transparência – R$ 91,9 milhões, dos quais R$ 89 milhões acabaram sendo empregados em custeio. Foram empenhados R$ 28 milhões em despesas com energia elétrica (31%).
Já nos cinco primeiros meses desse ano, a autarquia arrecadou R$ 45,7 milhões. No mesmo período, os empenhos com o fornecimento de luz totalizaram R$ 13,1 milhões (28,66%). A tendência é de aumento desse percentual no segundo semestre, que é mais seco.
PREPAREM OS BOLSOS
O índice do reajuste (na energia) ainda não está definido. Porém, o diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), André Pepitone, adiantou nesta terça-feira (15) que o valor deve ser maior do que o previsto na consulta pública apresentada em março.
Na ocasião, a proposta era elevar a cobrança de 100 kWh na bandeira 2 (vermelha) para R$ 7,571. Ou seja, se fosse mantido esse valor, o aumento seria de 20%.
“Certamente, a gente já pode adiantar aqui nessa comissão que não tem o valor final, mas digo às vossas excelências que será um valor bem maior do que os R$ 6,24. Tivemos uma audiência pública que durou 30 dias e apresentou o valor de R$ 7 e alguns centavos, mas com certeza esse valor [final] ainda deve superar um pouco os R$ 7 [e alguns centavos], [daí os] mais de 20% [de alta]”, afirmou.
A explicação para a alta do preço da bandeira 2 é o aumento do custo de geração de energia no país, em função da crise hídrica. “Pelo fato de não termos água para utilizar nas nossas hidrelétricas, essa energia será gerada nas térmicas. Logo aquele custo vai ser apresentado [repassado] por meio do mecanismo das bandeiras”, acrescentou.
Em abril desse ano, a CPFL Paulista, que atende a região de Marília, aplicou aumento médio de tarifas de 8,95%, com efeito médio de 9,60% na alta tensão e de 8,64% para os consumidores em baixa tensão. Clientes residenciais passaram a pagar 8,24% a mais nas contas de luz.
O reajuste anual da distribuidora seria maior, mas foi amortizado por medidas de redução de custos apresentadas pela Aneel.