Crise do oxigênio em Marília se agrava com unidades lotadas
A explosão no consumo de oxigênio medicinal, em função da pandemia, gera um gargalo na logística para reposição – falta de cilindros – e coloca 114 municípios do Estado de São Paulo em alerta, incluindo Marília. Na região, há preocupação também em Assis, Oriente, Getulina e Gália.
Em Marília, as unidades de pronto atendimento (UPA e PA Sul) registram elevado consumo, por terem que manter pacientes durante dias à espera de transferência para Unidades de Terapia Intensiva (UTIs).
A necessidade contrasta com a demora para reposição dos cilindros, popularmente chamado de ‘torpedos’ pelos profissionais de saúde.
O secretário municipal da Saúde de Marília, Cássio Luiz Pinto Junior, afirma que os fornecedores viram os pedidos aumentar e agora têm muito menos tempo para entregar os recipientes reabastecidos.
Em geral, as empresas trabalham com os torpedos que pertencem às instituições de saúde. “A falta não é de oxigênio, mas de cilindros, diante dessa nova condição das unidades. É uma questão logística séria que estamos monitorando”, disse Cássio.
Levantamento do Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Estado de São Paulo (Cosems) foi feito com base nas declarações dos próprios municípios, em pesquisa enviada pelos secretários. A lista tem 114 cidades que detectaram dificuldades em uma unidade de saúde ou mais.
O secretário de Saúde de São Bernardo do Campo e presidente do Cosems, Geraldo Reple Sobrinho, associa o problema diretamente com a falta de vagas em UTIs, para internação.
“Antes da pandemia, você conseguia remover um paciente em média após três, quatro horas de uma UPA (com pedido de vaga de internação). Agora, ele acaba ficando um ou dois dias, consumindo oxigênio. Uma UPA tem em média dez cilindros e fica muito complicado atender a essa demanda. Isso está nos preocupando”, disse.
Vale lembrar que na região de Marília, a espera tem levado até quatro dias, inclusive com mortes nas próprias unidades de pronto atendimento.
Em casa
Há aumento da demanda também por oxigênio medicinal para uso domiciliar. Luiz Henrique Bertolini é dono de uma distribuidora. Ele conta que muitas pessoas estão sendo monitoradas em casa.
“Aumentou muito os pedidos, inclusive de muita gente que não tem cilindro. Alguns planos de saúde estão preferindo atender o paciente em casa do que mandar para hospital. Então, aumentou muito o nosso trabalho”, conta.
Por não fazer envase, ele depende de fontes que estão cada vez mais distantes. “Cada dia tenho que rodar mais para conseguir produto. A nossa esperança é que houve um acordo de fábricas de cilindros, com a Anvisa, para parar a produção para indústria e focar na saúde”, conta.
No início do mês já havia alerta no setor para o sudeste. O CEO da Indústria Brasileira de Gases (IBG), a quinta maior fornecedora do país, comentou o risco.
“Se os índices de consumo de oxigênio continuarem subindo e crescerem mais do que 15%, é bem provável que aconteça em todo o país aquela situação de o pessoal estar precisando de oxigênio e não ter”, avaliou o presidente da companhia, Newton de Oliveira.
Ele disse ainda [há 25 dias] que se a demanda continuasse crescendo, nas proporções que cresciam, faltaria o oxigênio hospitalar ou os equipamentos para entregar o produto [como cilindros]. “Esse é meu prognóstico. Não estou querendo assustar ninguém, é a situação real”, alertou o empresário.