Coronel vai a júri popular sem perícia no celular
A Justiça de Marília determinou o encaminhamento urgente dos autos sobre o assassinato do ajudante Daniel Ricardo da Silva, de 37 anos, para a 1ª Vara Criminal de Marília, para que o processo tenha andamento.
A determinação foi dada após a defesa do coronel aposentado Dhaubian Braga Brauioto Barbosa, apontado como autor do crime, desistir da tentativa de perícia no celular da vítima.
O juiz Paulo Gustavo Ferrari, da 2ª Vara Criminal de Marília, determinou o encaminhamento com urgência, para que o caso tenha seu desfecho, com a realização do Tribunal do Júri.
Dhaubian foi pronunciado em dezembro do ano passado, pelo crime ocorrido em outubro de 2021, no motel de propriedade do coronel, que tinha Daniel Ricardo da Silva como funcionário.
A vítima mantinha um relacionamento amoroso com a esposa do acusado na época. Barbosa segue preso no presídio Romão Gomes, em São Paulo.
DENÚNCIA
Segundo consta na denúncia do Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP), no dia do crime, por volta das 6h10, o coronel matou a vítima e ainda “inovou artificiosamente, com objetivo de produzir efeito em processo penal, ainda não iniciado, o estado de lugar e de coisa, com o fim de induzir a erro o juiz e perito.”
Segundo apurado pela acusação, alguns meses antes dos fatos, o coronel contratou Daniel para prestar serviços na própria empresa de construção civil e lhe cedeu moradia em um dos quartos do motel.
Conforme o texto da Promotoria, impelido por torpe sentimento de vingança, o acusado decidiu matar a vítima. O autor teria ido até a sua residência – vizinha ao motel –, pegado a arma do crime [não apreendida], se apoderado também da arma de fogo de carga pessoal da companheira, que é policial militar, e ido até o estabelecimento muito antes do horário habitual.
O réu teria ficado nas proximidades do quarto de Daniel e permanecido à sua espera. A vítima chegou ao local por volta das 6h e foi até suas acomodações – situação flagrada pelas câmeras de vigilância.
O coronel, segundo o MP, era exímio atirador e surpreendeu a vítima quando ela se aproximava do quarto.
“Enquanto alvejava a vítima, que buscava se desvencilhar da execução, ainda recebeu apelo dela por sua vida, que o indagava sobre o motivo de assim estar agindo. Na sequência, a vítima veio a solo e, na sequência, a óbito”, diz a denúncia.
Segundo o documento, após constatar a morte de Daniel, Barbosa inseriu a arma de fogo da companheira no local do crime, “buscando inovar artificiosamente a cena do crime e criar inexistente legítima defesa, o que acabou confirmado porque constatado que tal instrumento acabou colocado sobre uma pegada de sangue oriunda de calçado diverso do usado pela vítima.”
O coronel então fugiu e a PM foi acionada apenas horas após o crime, onde já se encontravam as testemunhas e o genitor do coronel, que prontamente apresentou a falsa versão de legítima defesa.
“De se ressaltar que, durante as buscas infrutíferas da arma do crime nos imóveis pertencentes a Dhaubian, foi localizado um verdadeiro arsenal de armas e munições de calibres variados, parte delas sem os respectivos registros nos órgãos competentes”, conclui o MP-SP.