Conversa entre Lula e Tarcísio tem pragmatismo, clima leve, futebol e PAC
Apesar de adversários políticos, o presidente Lula (PT) e o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) tiveram nesta terça-feira (30) um encontro com pragmatismo, clima leve e conversas sobre futebol e o Novo PAC (Programa de Aceleração e Crescimento), selo de obras do governo federal.
A reunião durou cerca de meia hora, no Palácio do Planalto, em meio ao acordo do governo paulista e federal para que os dois dividam os custos e louros políticos da construção do túnel entre Santos e Guarujá, no litoral sul de São Paulo.
Tarcísio chegou pela manhã ao Planalto, onde teve a primeira reunião na Casa Civil, com o ministro Rui Costa, o ministro Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos) e integrantes das equipes federal e estadual em nível técnico para discutirem os termos do novo acordo firmado. À tarde, desenrolou-se o encontro de Tarcísio e Lula, no gabinete presidencial.
O futebol, uma das principais estratégias de quebrar o gelo de Lula, esteve presente. Ao ser apresentado ao secretário do governo paulista Rafael Benini (Parcerias e Investimentos), o petista comentou como ele se parece com o ex-jogador de futebol do Corinthians, Paulo André. Benini é irmão do zagueiro campeão mundial com o time paulista em 2012.
A brincadeira rapidamente chegou ao Flamengo de Tarcísio, e o presidente lembrou que também é o time da primeira-dama, Janja, e que ela fica irritada quando perde e gosta muito de assistir aos jogos. O governador de São Paulo falou da inteligência da primeira-dama na escolha do rubro-negro.
Brincadeiras à parte, a reunião se desenrolou com uma apresentação do ministro Silvio Costa Filho do acordo entre a União e São Paulo repactuado para que cada um arque com metade dos quase R$ 6 bilhões da obra.
Essa era a ideia inicial, mas o governo havia mudado, há duas semanas, para que a conta fosse dividida entre autoridade portuária e o setor privado.
Na reunião, Tarcísio fez uma fala sobre a importância da parceria e mencionou que este é um “sonho” de mais de 100 anos, dizendo que o primeiro registro do túnel é de um jornal de 1922. A curiosidade foi parar, inclusive, no tuíte de Lula sobre o encontro.
O governador de São Paulo, que foi ministro de Jair Bolsonaro (PL) e é frequentemente criticado pela militância de direita pelo diálogo com o petista, falou ainda de outros projetos que espera poder contar com o apoio do governo federal, como a extensão da linha 4 do metrô até Taboão ou a alça do acesso a Guarulhos do Rodoanel Norte, obras que não são possíveis sem o apoio do governo federal, disse ele.
Lula indicou, assim como tem dito, que tem interesse em trabalhar junto do estado, mas não sinalizou especificamente para nenhum projeto. Auxiliares palacianos falam que a postura deste governo difere do anterior ao promover interlocução do Executivo federal com os estados, apesar de declarações do Lula que possam incentivar a polarização.
Ficou combinado no encontro que o presidente participaria do aniversário de 132 anos do Porto de Santos na sexta-feira (2), quando será assinado o termo do acordo do túnel.
Após o encontro, o ministro da Casa Civil falou sobre a reunião em um evento do Planalto. “O presidente estará na sexta-feira, em Santos, e já anunciará novas parcerias com o Governo de São Paulo. Dando seguimento ao que é o lema deste governo, unir o Brasil”, disse o ministro Rui Costa.
O Planalto ainda não detalhou oficialmente como se dará a parceria entre União, governo estadual e iniciativa privada para a obra.
O encontro foi registrado por Lula nas redes sociais, com direito a fotos. O governador, por sua vez, apesar da postura de pragmatismo, preferiu evitar maiores exposições da reunião compartilhando sobre ela nos seus perfis.
Desta vez, a militância bolsonarista nas redes sociais não se mobilizou contra o governador. A principal preocupação dela, neste momento, é com as operações da operação Polícia Federal que na última semana colocaram na mira os deputados Carlos Jordy (PL-RJ) e Alexandre Ramagem (PL-RJ), ambos pré-candidatos às prefeituras de Niterói e do Rio de Janeiro, e o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos).
No caso de Carlos e Ramagem, o objetivo das ações é apurar a existência de uma “Abin paralela” durante o governo de Bolsonaro. Com isso, perfis com muitos seguidores e relevantes influenciadores do bolsonarismo focaram seus ataques ao que apontam como excesso e injustiça nas operações.
O encontro de Tarcísio com Lula, então, passou sem gerar maiores desgastes na base da direita. Ele é tido como um dos nomes para a sucessão em 2026, diante da inelegibilidade do ex-presidente.
No passado, o governador já foi criticado pelos apoiadores do ex-presidente por sua postura de diálogo com o Planalto. Aliados de Bolsonaro mais radicais apontam para falta de lealdade, enquanto aliados de Tarcísio alegam ser necessária a proximidade para poder tirar do papel projetos importantes para o estado.
Por Mariana Holanda