Contaminação de peixes do Rio Doce está acima do permitido
A contaminação por metais de alguns peixes do Rio Doce ultrapassa os limites permitidos por legislação em até 140 vezes. Este, por exemplo, é o nível de arsênio encontrado no peixe roncador, quando o máximo tolerado seria 1. É o que aponta o primeiro laudo produzido pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) sobre pescados e mariscos da região.
O laudo faz parte de um conjunto de estudos que vem sendo desenvolvidos no Rio Doce após o desastre ambiental causado pelo rompimento de uma barragem da Samarco, na cidade mineira de Mariana. As conclusões do documento produzido pelo ICMBio não deixam dúvidas: “Há contaminação da água com metais acima dos limites permitidos pela Resolução 357, do Conama”. E mais: “Há contaminação de pescados (peixes e camarões) acima dos limites permitidos pela Resolução 42, da Anvisa”.
Diz ainda que a contaminação atingiu as unidades de conservação e de preservação ambiental no entorno da região: o Arquipélago de Abrolhos, a Costa das Algas e o Refúgio de Vida Silvestre de Santa Cruz. Em todas elas houve pontos de coleta de amostras para o estudo, assim como na Foz do Rio Doce – Norte e Sul – e na região de Barra Nova.
Além do arsênio, o roncador citado no início da matéria também está contaminado por cádmio (12 vezes acima do limite) e chumbo (5 vezes a mais do que o permitido).
Não é diferente com o camarão: chega a ter 88 vezes o limite de arsênio (que é de 1) – mas foram encontradas espécies superando o limite em 115 vezes -, além de 5 vezes mais cádmio e 5 vezes mais chumbo do que a legislação estabelece.
O peroá também supera os limites de arsênio em 34 vezes e tem quase 3 vezes mais cádmio do que o permitido. É acompanhado de perto pelo linguado, que ultrapassa os limites de arsênio em 43 vezes, 9 vezes o de cádmio e 6 vezes o de chumbo.
Também é complicada a situação da água na região. Os resultados apontam contaminação por chumbo total quase 10 vezes superior ao limite do Conama (que é de 10). Também foi superado em 9 vezes o nível de cobre dissolvido (que é 5) e duas vezes o de cádmio total (5).
Cadeia alimentar comprometida
Outro ponto do estudo desenvolvido pelo ICMBio diz respeito à cadeia alimentar. A conclusão é de que houve “acumulação significativa de metais tóxicos na base da cadeia trófica (nos chamados zooplânctons).”
A base da cadeia alimentar (trófica) são os fitoplânctons (as algas). Depois vem os zooplânctons, que se alimentam das algas e servem de alimentos para peixes, que são alimentos de outros maiores. E assim sucessivamente até chegar ao homem.
Quando há contaminação na base da cadeia alimentar, todos acabam sendo contaminados. E o problema é maior à medida que a cadeia cresce. É onde se come mais seres contaminados.
A professora Sigrid Costa Valbon Freire, que leciona Ecologia e Análise na Faculdade Pio XII, explica que ocorre na região a chamada bioacumulação. “Algumas substâncias tóxicas que não são metabolizadas acabam se acumulando no organismos dos seres”.
O problema, explica ela, é que os metais tóxicos atingem vias metabólicas de nosso corpo e reagem alterando reações químicas, nos causando problemas. “Os metais tóxicos induzem a produção de radicais livres, que prejudicam as nossas células e complicam a nossa saúde”, diz, lembrando que em excesso eles podem causar várias doenças, inclusive câncer.
Fonte: G1