Conservação ambiental e tecnologia são estratégias de comunidades indígenas
Quem adquire um produto artesanal da marca Menire, como uma bolsa, pulseira ou brinco, produzido pelas mulheres indígenas da Abex (Associação Bebô Xikrin do Bacajá) no município de Altamira (PA), pode ver por meio de QR Code a imagem do rosto de quem produziu aquele item, ter acesso à história da Trincheira do Bacajá e conhecer um pouco sobre a cultura Xikrin.
Menire, que significa “mulher” na língua Xikrin, é a primeira marca de produtos registrada por mulheres indígenas no país, sendo o “carro-chefe” da Abex. O QR Code que dá acesso a informações é uma das estratégias adotadas pelo empreendedorismo indígena, cujo objetivo é gerar recursos para comunidades originárias, diminuindo a necessidade de assistência externa.
O objetivo também é deixar claro o engajamento com a preservação ambiental e o bem-estar social. A Abex é uma iniciativa dos próprios indígenas, e todas as decisões são feitas de forma colegiada, diz o assessor financeiro Alex Gerônimo, contratado pelo colegiado que dirige a associação.
O economista conta que o Bacajá é um território pertencente à etnia dos Xikrin – cuja maior parte encontra-se em Altamira e uma parcela menor, na cidade de Anapu- conhecido como a “Terra do Meio”.
“A gente fortalece as cadeias da castanha, do óleo de babaçu e também do artesanato. Para a formação de preço dos produtos do artesanato, a associação leva em conta o valor do material para usar. O valor da arte é definido pelas próprias menires, e o pagamento é feito para elas”, diz Alex.
Há ainda um adicional de 10%, capital que é aplicado em cursos de capacitação para as mulheres Xikrin, como corte e costura, pintura a mão e artes. “Para que elas possam aprimorar ainda mais suas habilidades e ter uma melhora nos seus produtos”, relata o consultor.
Igualitarismo, partilha e colaboração comunitária costumam pautar a economia dos povos indígenas. Conforme a aldeia, o empreendedorismo nativo pode se organizar de maneira diferente. Assim como os Xikrin, outros povos empreendedores participaram neste mês da Semana dos Povos Indígenas, em Belém.
O indígena Djwyxeto, 38, é da aldeia Rikaro, do Rio Xingu, localizada na cidade de São Félix do Xingu, no sul do Pará. Ele explica que homens e mulheres têm tarefas diferentes dentro da aldeia. “Nós, homens, fazemos flechas, arcos, cestas e bordunas, já as mulheres fazem pulseiras, colares e adornos com miçangas. Eu sei falar a língua do homem branco, então geralmente sou eu quem faço as vendas. Na minha aldeia, nós pescamos, plantamos e caçamos, mas precisamos de dinheiro para comprar remédios, alimentos, roupas e material escolar das crianças”, conta Djwyxeto.
Cada grupo tem sua própria rotina e jornada de trabalho, que nem sempre segue a ideia de trabalhar cinco dias por semana. O empreendedorismo dentro de uma determinada aldeia indígena varia de acordo com sua sabedoria e os recursos naturais disponíveis.
Tepkuruti, 37 anos, é da aldeia Kenogoro, em Ourilândia do Norte, município localizado no sul do Pará. Ele e sua esposa Ngrenhwo, 29 anos, são da Associação Indígena Tuto Pombo – Povo Kayapó Pará.
Enquanto a esposa faz o serviço de pinturas corporais, feitas com jenipapo e carvão, o marido é responsável por oferecer o trabalho aos clientes.
Diferente dela, que só fala a língua materna, ele consegue se comunicar com o “homem branco” e comercializar os desenhos.
O Sebrae no Pará promove ações desenvolvidas para os povos indígenas paraenses que procuram agregar os âmbitos cultural, social e econômico.
Uma das iniciativas é um projeto-piloto junto a um indígena artesão da etnia Kayapó, em Redenção, no Sudeste do Pará, que atualmente exporta o seu artesanato para os Estados Unidos, no eixo de Economia Criativa. O trabalho foi tão bem sucedido que o Sebrae estuda ampliá-lo para atender outros indígenas artesãos da etnia Kayapó.
Apenas a Abex comercializa hoje seus produtos pela internet, por meio do Instagram (@abexbacaja).
NOVO SELO ATESTA PRODUÇÃO INDÍGENA
Enquanto o evento em Belém estava em curso, foi lançado em Brasília o Selo Indígenas do Brasil, cujo objetivo é identificar a origem de itens produzidos exclusivamente por pessoas físicas ou jurídicas indígenas e, assim, valorizar as atividades e empreendimentos extrativistas e de artesanatos manejados pelos povos indígenas.
Segundo a cacique Juma Xipaia, secretária de Articulação e Promoção de Direitos Indígenas do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), o selo pode ser adquirido gratuitamente junto ao MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar), na plataforma digital “Vitrine da Agricultura Familiar”.
“O selo permite a rastreabilidade do produto, certifica os nossos produtos e diz não somente a origem mas a região. É um certificado de qualidade.”
A secretária chama a atenção para o fato de que outros produtos que se vendem como sustentáveis “de ecológico não têm nada, não vem de um território que seja preservado”. “Aliás, podem até vir de um território que está em classe de degradação, de invasão”, afirmou Juma Xipaia.
***
POR FABYO CRUZ
Faça parte do nosso grupo de WhatsApp. Entre aqui!