Comerciante transforma o espírito natalino em verdadeira profissão há 30 anos
Por três décadas, o comerciante Fabiano Daquino transforma o espírito natalino em uma verdadeira profissão. Aos 58 anos, ele já percorreu diversas cidades e shoppings, conquistando o público com seu carisma, dedicação e uma caracterização impecável como Papai Noel.
Fabiano começou a vestir a fantasia de Papai Noel há 30 anos, inspirado pela magia do Natal. Tudo começou no antigo Supermercado Comper, onde hoje está instalado o Amigão.
Encantado com a carreata de Natal da Coca-Cola, ele decidiu transformar sua paixão em profissão, tornando-se o Papai Noel oficial da marca na região por alguns anos. Sua dedicação o levou a trabalhar em locais como São Paulo, Gramado (RS) e atualmente no Limeira Shopping, onde já é querido pelo público.
Atuar como Papai Noel já se tornou uma profissão para o comerciante de Marília. Apenas neste ano, ele deve faturar R$ 60 mil. Mas para chegar neste patamar, precisou de muito estudo, dedicação e até mesmo investimento.
Ele encontrou um tempinho, durante seu intervalo de apresentação, para conversar com o Marília Notícia e contar sobre sua rotina trabalhando como Papai Noel.
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MN – Como começou esse trabalho de se fantasiar de Papai Noel?
Fabiano – Começou com uma fantasia, sabe? Um desejo de ser um Papai Noel. Isso foi na época do Supermercado Comper, onde hoje funciona o Amigão. Comecei a brincar ali de ser Papai Noel e naquele ano eu vi a carreata de Natal da Coca-Cola. Fiquei encantado e pedi para ser o Papai Noel da carreata.
MN – Você conseguiu se tornar o Papai Noel da Coca-Cola?
Fabiano – Comecei a fazer pesquisas, pois eu gosto de perfeição. Fiz a fantasia e fiquei cinco anos sendo o Papai Noel da Coca-Cola aqui na nossa região. Fazia Marília, Bauru, Presidente Prudente, Tupã. As principais cidades aqui da região visitei como Papai Noel. Na época a Coca-Cola era da Spaipa. Depois eles venderam e eu não sabia como as coisas ficariam, então eu fui trabalhar no Esmeralda Shopping, mas depois voltei para a Coca-Cola. Trabalhei em São Paulo, em Gramado e hoje estou no Limeira Shopping.
MN – Tem muita demanda pelo trabalho do Papai Noel?
Fabiano – Em Marília, só neste ano fiz seis comerciais. Vídeos que foram para o YouTube e redes sociais, para lojistas aqui da cidade.
MN – Quanto ganha um Papai Noel?
Fabiano – Um shopping aqui em Marília paga R$ 12 mil e o outro R$ 20 mil. Eu estou ganhando R$ 35 mil, com todas as despesas pagas. Estou no melhor hotel da cidade, com café da manhã, almoço e janta. Eles me buscam e me levam de volta para o hotel. Se eu somar tudo isso, está dando quase R$ 50 mil. Não tem nenhum Papai Noel que ganha isso na nossa região.
MN – Você também ganha para visitar as casas das pessoas?
Fabiano – Sim, mas estou tendo que dispensar vários convites, por causa da demanda que está muito grande. Eu vou começar fazendo na noite de Natal em Bauru, depois eu vou passar em Garça e tenho que passar em Marília. Recebo R$ 500 por residência que visito.
MN – Fechou com quantas casas?
Fabiano – Vou visitar umas 18 casas e ganhar em torno de R$ 7 ou R$ 8 mil.
MN – Quanto você precisou investir para chegar nesse patamar de hoje?
Fabiano – Tudo isso é preparo. Tenho várias roupas. O cara realmente tem que investir. Uma fivela do Papai Noel custa R$ 1 mil. A bota custa quase R$ 3 mil. Tem maquiagem, preciso tratar a barba, cuidar do cabelo. Não é barato, mas o retorno é muito bom.
MN – Como está sendo o trabalho em Limeira?
Fabiano – Já é o meu segundo ano aqui e o shopping já quer fechar contrato para o ano que vem, mas eu vou esperar. Tenho outros convites e preciso analisar, mas o Limeira Shopping não quer abrir mão de mim de jeito nenhum. O povo daqui gosta de mim.
MN – Como é a interação com o público?
Fabiano – Tem que interagir com as crianças. Tem que brincar. Você tem que ter todo um respeito, conversar com os pais. Eu tenho a luzinha do pisca do dedo, que a gente fala que é a rena Rudolph. O que o Rudolph faz? Ele acende a luzinha no nariz. Eu explico os nomes das renas, acendo essa luz no nariz da criança. Brinco com o lúdico. Isso é a magia do Natal. As mães ficam encantadas, mas tudo isso é preparo. Eu tenho 30 anos de experiência com isso.
MN – No começo você tinha barba?
Fabiano – Não. No começo eu fui buscar uma barba em São Paulo, quando fui fazer o Papai Noel da Coca-Cola. Depois eu fui buscar no Rio de Janeiro. Isso pode custar até R$ 1,5 mil. Tem uma de colagem especial, não é nada de elástico. Na época que eu não tinha barba, a cola vinha dos Estados Unidos, para não agredir o seu rosto. Então decidi deixar a barba crescer.
MN – Você tem quantas roupas de Papai Noel?
Fabiano – Hoje eu tenho 10 roupas. Tenho uma roupa branquinha, mas principalmente o vermelho. Tenho uma xadrez. São vários modelos e estilos diferentes.
MN – Qual é a sua atividade ao longo do ano?
Fabiano – Eu sou comerciante. Eu tenho uma tábua de queijo, mas vou fazer um curso de Papai Noel em Marília. Vou ensinar que não é só vestir a roupa. Será um curso regional. Já tem quase 40 pessoas inscritas. Vou ensinar toda a filosofia de comportamento, de vestuário, de como falar com criança. Todo um trabalho voltado para o Papai Noel. Uma profissionalização. Eu tiro atualmente quase R$ 60 mil como Papai Noel. Se você dividir isso por mês, tenho um “salário” de R$ 4 mil.
MN – Quando começa o trabalho como Papai Noel?
Fabiano – Os shoppings só começam a contratar em agosto. Minha esposa fica cuidando do nosso comércio. Eu começo a trabalhar em outubro, porque os estúdios começam a me chamar para fazer fotos. Em novembro você já tem compromisso com o shopping, então não consegue fazer mais fotografias, nem campanhas de lojas em vídeo. Se você não fizer antes, não consegue depois.
MN – Você está com quantos anos?
Fabiano – Estou com 58 anos. Ainda sou novo, consigo brincar, gesticular com a criança, pegar no colo e fazer toda essa dinâmica. Um velhinho de 70 anos talvez não consiga mais. Muito velhinhos já não conseguem fazer.
MN – Qual é o cachê para fazer vídeos de propaganda?
Fabiano – Entre R$ 1,5 mil e R$ 2 mil.
MN – Em qual bairro você mora aqui em Marília?
Fabiano – Moro no Jardim Polon.
MN – Como foi ‘descoberto’ por outras cidades?
Fabiano – Principalmente por causa da Coca-Cola. Viajava para várias cidades e fiz contatos. Fui fazer algumas apresentações em encontros de Papai Noel. Fui conhecendo as pessoas e o pessoal me chamando para trabalhar. Recebi uma proposta para ir para os Estados Unidos, em Denver. O Papai Noel americano começa a trabalhar em setembro. Eles ganham hoje quase US$ 300 por hora. Tem muita proposta.
MN – Tem muito trabalho para cuidar da barba?
Fabiano – A minha barba, como é castanha, tem que pintar, descolorir toda ela. Tem que deixar crescer o ano inteiro para ficar grande.
MN – Depois do Natal você raspa a barba?
Fabiano – Eu não consigo ficar sem barba mais, porque hoje o shopping quer um papel de barba grande. Tem que só que aparar as pontas. Como é muito produto químico, ela fica muito ressecada. Não dá para raspar. Eu não sou um cara que cresce barba fácil, não consigo raspar. Tenho que viver com essa barba aqui, eterna.
MN – Quando foi a última vez que você fez a barba?
Fabiano – Faz seis anos. O cabelo posso cortar que ele cresce, mas a barba não. Eu aparo ela bem aparadinha, mas já não consigo mais ficar sem. Tenho medo de raspar e demorar. Não dá para arriscar.
MN – Quais pedidos você recebe?
Fabiano – Hoje uma moça de 40 anos me pediu um milagre. Ela contou que o pai e a mãe dela estão com câncer terminal. Expliquei que milagre, quem faz é Deus, mas que eu podia orar com ela e pedir para Deus fazer esse milagre. Até me emociono. Papai Noel não é só criança. O adulto vem, o velho vem. Hoje eu visitei dois asilos. Você não imagina a alegria dos velhinhos, porque eles voltam ao passado.
MN – Como tem visto o Natal aqui em Marília?
Fabiano – Marília está precisando de algo. Nós estamos defasados de Natal, de decoração. Nós não temos um olhar voltado para isso. Agora que fizeram um jardim na praça da Igreja São Bento, mas podiam fazer uma decoração mais bonita, com uma grande árvore. Está faltando um pouquinho mais de magia para a população. A gente tá perdendo essa magia. Cada ano a gente vai perdendo um pouquinho.