Camarinha tenta candidatura mesmo com cerca de 700 processos
Vinte anos após sua última disputa eleitoral à Prefeitura de Marília e respondendo cerca de 700 processos judiciais, Abelardo Camarinha (Podemos) lança uma candidatura ao cargo do qual nunca se desapegou.
Na convenção partidária do último sábado (12), ele manteve a habitual agressividade e a estratégia de divulgar fake news. O pré-candidato apresentou alguns novos aliados. Porém, a retórica traz pouca novidade.
O ex-deputado chamou o empresário Daniel Alonso (PSDB) de estelionatário e “171” – menção ao artigo para o delito no Código Penal. Ele mencionou ainda o nome da empresa do prefeito várias vezes, numa nítida confusão entre o público e o privado.
Aos 68 anos, Camarinha falou por 48 minutos, em um local com pouca ventilação – em um dos dias mais quentes do ano. A rouquidão, natural na circunstância, tornou alguns trechos da fala quase incompreensíveis.
O ex-prefeito ‘levantou’ sua torcida com algumas frases de efeito como “nós vamos devolver a banana pra ele”, em alusão a cesta de alimentos que a Secretaria Municipal da Educação, sob governo de Daniel Alonso, disponibilizou para as famílias com crianças na rede municipal.
Camarinha – falando de si mesmo sempre em terceira pessoa – disse compreender a falta de apoio de parte da cidade e propôs uma divisão entre “quem precisa e quem não precisa” do governo.
“Esses ‘pó-de-arroz’ que não gostam do Camarinha, xingam o Camarinha, [é porque] nunca escutaram um discurso do Camarinha, nunca foram ver as obras do Camarinha. Eles não gostam do Camarinha porque não precisam do poder público”, disse.
Controle da comunicação
O político, que é dono de uma rádio e réu em processo que envolve a Polícia Federal e o extinto jornal Diário, atacou a imprensa. TV Tem e o próprio Marília Notícia foram os principais alvos.
O Jornal da Manhã também não escapou. “Ao invés de trazer a manchete ‘A convenção do povo’, trouxe lá: Emdurb vai notificar empresa de ônibus. O prefeito pega o telefone, liga para a circular e determina o que ele quer. Eu estou mandando fazer isso. Quem manda no contrato de concessão é chefe do Executivo”, disse.
O político prometeu que vai “reabrir” o gabinete do prefeito para atender demandas de serviços públicos.
“Vamos novamente abrir a porta do gabinete para o povo. Para os que precisam de um caminhão de mudança, um caminhão de terra, receita médica, orientação jurídica”, prometeu.
Pandemia
Sobrou críticas também para o gerenciamento da crise do coronavírus pelo prefeito Daniel, em relação à gestão política.
“Ele não tem força nenhuma para peitar ninguém. Ele não tem moral nenhuma com o governador. Devia ter ido humildemente falar com o governador, mas acabou levando Marília a mais 20 ou 30 dias de suplício”, disse.
Mistura de fatos
Com a estratégia de fazer confusão de fatos, em vários momentos, Abelardo abandonou qualquer compromisso com a realidade. Ele disse que, entre os “dois mil concursados que Daniel contratou, não foi contratado nenhum médico”.
Na verdade, entre os anos de 2013 e 2016 – governo do ex-prefeito Vinicius Camarinha – não foi feito nenhum concurso público para contratação de médicos em Marília.
No final de 2019 e início desse ano, a Prefeitura convocou, após concursos, 19 médicos, entre clínicos e especialistas. As convocações foram publicadas em Diário Oficial.
O ex-prefeito Camarinha também cria confusão de fatos ao afirmar que o governo Daniel não construiu escolas. Nos bairros Maracá e Montana foram duas, com licitação e contrato de obras iniciados e concluídos na atual gestão.
Na retórica do político, algumas falas também constrangem seus próprios aliados. Ele acabou expondo o filho ex-prefeito, neste sábado, ao afirmar que depois dele “nenhum prefeito efetuou o pagamento em dia das obrigações com o Instituto de Previdência”.
Camarinha também abusa da falta de informação de parte da população. Em meio à convenção, ele ‘entrevistou’ pessoas que teriam “estudado na Legião Mirim e na Juventude Católica”, segundo ele, extintas por Daniel. Na verdade, as instituições nunca pertenceram ao Poder Público.
Costuras políticas
Embora ex-tucano, o vice, Paulo Alves não chegou a ser um aliado de Alonso. Em 2016, inclusive, ele envolveu-se em polêmica interna na legenda, supostamente para melar a candidatura do empresário.
Durante a convenção deste sábado, Camarinha apresentou algumas surpresas, incluindo ex-aliados de Daniel que mudaram de lado, nos últimos tempos.
O ex-prefeito também teve ao seu lado ex-candidatos que concorreram pelo plantel de Alonso em 2016, como Fábio Alves Cabral, o Fábio Protetor – impedido por dupla filiação.
No palanque de Abelardo também teve espaço o vereador Danilo Bigeschi, ex-assessor e secretário da Saúde, envolvido no escândalo dos tablets. Coube ainda ao vereador Maurício Roberto (Progressistas), que ao longo do governo Daniel encontrou lugar seguro em cima do muro.
O médico e ex-deputado Sérgio Nechar, que já enfrentou Camarinha politicamente em algumas momentos da carreira política, também participou e declarou apoio.
Camarinha aposta também em lideranças evangélicas de partidos como Republicanos (Vânia Ramos) e PSC (vereador Marcos Custódio), que fazem pouco barulho fora de suas denominações, mas, segundo fontes do Marília Notícia, têm grande potencial de votos no público interno.