Cola??? Oh my god!!!
A “cola” em nossas escolas é um hábito que vem dos primórdios dela mesma, já que os métodos avaliativos mais usuais existentes, na avassaladora maioria das instituições de ensino, nada mais é do que se avaliar o aluno recorrendo à memória deste, à sua capacidade de guardar informação e não ao conhecimento adquirido.
“Quem não cola não sai da escola!”. Quantas vezes escutamos isso? Parece inofensivo, mas vem se tornando um grande transtorno. Primeiro uma “cola”, depois uma falsificação de assinatura dos pais ou uma rasura no boletim, pode parecer “facilidade” agora, mas vai prejudicar, e muito, seu futuro na faculdade e no mercado de trabalho.
Trata-se de um dos problemas culturais de nossas escolas e, também, de outras escolas em outros países, que pode ou que leva a desvios de conduta graves. Já existem estudos que revelam que os alunos que colam têm 4 vezes mais chances de enganar o chefe quando se tornar um profissional, além de apresentarem forte tendência para mentiras e burlar dados e informações.
Além disso o Código de Classificação Internacional de Doenças e o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais têm capítulos específicos sobre o tema, que é considerado pela psiquiatria um indicativo de possível transtorno de conduta, quando na juventude e um transtorno de personalidade antissocial quando na vida adulta (Fonte: Isto É).
Se formos simplistas, a “cola” é no mínimo um furto e uma falsidade ideológica, já que um aluno se apropria da ideia colocada no papel por outro aluno, coloca essa a ideia ou informação furtada da prova do colega em sua prova, assina seu nome e entrega ao professor dizendo que é seu, configurando nesse momento a falsidade ideológica. Isso no mínimo, em determinadas situações, configuram plágio, etc. etc. etc.
Como disse acima, a “cola” em provas não é uma exclusividade dos nossos alunos, ela é um recurso globalizado, todavia, a forma de repreensão muda em cada um dos países.
Todos os anos o Reitor da UniCesumar viaja o mundo visitando escolas e conhecendo formatos de ensino, para somar experiências e trazer para o nosso sistema de ensino inovações, na busca pela melhoria de qualidade.
Como a “cola” sempre foi um assunto que o incomoda desde os tempos de professor de matemática na rede estadual de ensino, ele sempre questiona seus cicerones sobre esse assunto e não foi diferente quando de sua visita às escolas do Japão, quando ao se deparar com uma sala de aula onde não haviam corredores nem espaços entre as carteiras escolares.
O reitor perguntou ao diretor da escola através do tradutor: Como vocês fazem com a “cola” entre os alunos no dia da prova? O tradutor, também japonês e que não a realidade dentro de nossa sala de aula, traduziu, mas também não entendeu e pediu que ele fosse mais específico. Então o Reitor explicou: O aluno copia a ideia da prova do colega, coloca na sua e entrega ao professor como se aquela ideia fosse sua!
O tradutor explicou a pergunta ao diretor que colocando a mão na cabeça resmungou: Oh my god! Mostrando sua decepção e sua indignação.
A indignação demonstrada tem explicação, no Japão se um aluno for pego “colando” na prova seu o nome é escrito na entrada da escola e seu ato passa a ser motivo de desonra a todos da sua família.
Na argentina se um aluno for pego colando pode ficar um ano sem poder estudar, ainda na Argentina, foi distribuído um guia que compara o aluno que “cola” na prova a um político corrupto ou um funcionário público que furta dinheiro público.
O custo da “cola” dentro da UniCesumar é passível de apuração, são gastos aproximadamente R$ 600.000,00 ao ano com um batalhão de fiscais de prova que auxiliam os professores no momento das avaliações.
Talvez sejamos a única Instituição de Ensino que valha desse recurso para inibir ao máximo a “cola”. Só não é possível mensurar o que é desperdiçado pelo mercado de trabalho, pelas organizações, em investimento de dinheiro e tempo com profissionais mau preparados e sem os conhecimentos e habilidades imprescindíveis ao exercício de sua função.
Os métodos avaliativos deveriam ser outros que não recorressem somente à capacidade de guardar informação e sim ao conhecimento, já que o conhecimento não se dissipa e a informação sim, o conhecimento seleciona o que é importante e nossa mente não esquece o que nos importa, ela traz para dentro de nós e isso passa a ser de nosso conhecimento. Já a informação é esquecível, informação se cumula e, com o passar do tempo, simplesmente esquecemos.
Quantas e quantas vezes não ouvimos dizer: Essa prova é “decoreba”? É quase certo que aquelas informações que decoramos para aquela prova foi esquecido, já que não nos importavam as informações, o que importava era saber responder aquela pergunta da prova para que tirássemos uma boa nota e fossemos aprovados na disciplina.
Na maioria das vezes nem sabíamos para o que ou para que servia saber sobre isso ou aquilo
Nossos alunos sabem que “colar” na prova é errado e admitem isso, dedicam horas preparando seus aparatos “tecnológicos” para fazê-lo ao invés de simplesmente estudar da forma correta essas mesmas horas, ou seja, ao invés de saber o que está escrito no livro, deveriam se preocupar em saber para que serve e como funciona aquilo que está escrito no livro.
Uma das consequências disso tudo já foi mencionada nesta coluna, apenas 27,2% dos jovens que concluíram o terceiro ano do ensino médio adquiriram proficiência em Língua Portuguesa e somente 9,3% em Matemática, lembrando ainda do ensino de inglês que nada ou muito pouco ensinou.
O mercado de trabalho é individual, autônomo e muito competitivo. Somente os mais bem preparados terão espaço e oportunidades. Para isso, é importante desenvolver as formas de argumentar e defender sua posição e suas ideias. Na maioria das vezes, nosso trabalho exige um retorno imediato e isso prescinde do conhecimento adquirido ao longo do tempo.
A informação serve somente como base ao conhecimento e, este sim, deve ser tratado como aquilo que vai servir para operar a nossa vida, fazê-la funcionar, como solução de problemas, como maneira de existir de modo mais consciente, menos alienado.