Modelo para Bolsonaro, Chapecó tem 55% mais mortes que Marília
Cidade eleita pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) como modelo de combate à pandemia, por uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra a Covid-19, Chapecó (SC) tem população menor que a de Marília e soma 194 mortes a mais, o que representa uma mortalidade 55% maior.
Nesta segunda-feira (5), Bolsonaro disse que pretende visitar a cidade catarinense pelo “trabalho excepcional” contra a pandemia. O município, segundo o presidente, deu “liberdade” aos médicos para prescreverem o ‘tratamento precoce’.
Bolsonaro afirmou ainda que a cidade tem volume de internações por Covid-19 “próximo de zero”, informação que não condiz com boletim oficial divulgado pela Prefeitura do município.
Informativo oficial de Chapecó aponta nesta terça-feira (6) um total de 187 pacientes internados, sendo 121 em leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTIs), que estão 100% ocupadas, tanto na rede pública quanto privada.
A situação é dramática na maior parte do Brasil, mas o município referência – para o mandatário – tem taxa de óbitos maior que a maioria dos municípios paulistas. Em Marília, com 240 mil habitantes, são 347 mortes. Chapecó soma 541 (55% a mais), com população menor – 224.013 moradores.
O chamado ‘tratamento precoce’ como política pública não evitou que a cidade tivesse, nesta terça-feira (6), 187 moradores internados, ante a 171 pessoas que vivem em Marília (8,55% a menos).
Com a falsa esperança do medicamento, propagada por políticos, o número de contaminados também é maior. São 34.116 confirmados em Chapecó, enquanto que Marília teve 17.644 testes positivos (48% menos casos).
KIT COVID
Vereadores em Marília têm relatado pressão para que o chamado kit covid seja oferecido aos pacientes com sintomas nas unidades de saúde do município.
Conforme o secretário municipal da Saúde, Cássio Luiz Pinto Júnior, os medicamentos que fazem parte da lista (cloroquina, hidroxicloroquina, ivermectina e outros citados em redes sociais) estão disponíveis no município. Ele disse ainda que nenhum médico está impedido de fazer a prescrição.
No ano passado houve, inclusive, um protocolo que foi adotado pelo município, para que os médicos pudessem aderir à prescrição. Porém, apenas dois profissionais manifestaram interesse.
Nas unidades de saúde, onde eles estavam lotados, foi instalado equipamento de eletrocardiograma para monitorar pacientes submetidos ao tratamento.
“O que não podemos é obrigar o médico a prescrever um medicamento no qual ele não acredita”, disse o secretário durante reunião do Comitê de Enfrentamento ao Coronavírus, onde o assunto foi abordado em março.
INCOERÊNCIA
A taxa de óbito em Chapecó (SC) aumentou desde a posse do prefeito João Rodrigues (PSD). Até janeiro, o município somava 123 mortes pela doença. O aumento foi de mais de quatro vezes. Vale ressaltar que a escalada ocorreu em todo o Brasil.
Bolsonaro compartilhou vídeo em que o prefeito da cidade celebra a queda de internações e desativação de uma unidade de terapia semi-intensiva. Rodrigues atribuiu a redução à implantação de medidas como a indicação de ‘tratamento precoce’ contra a doença.
Entre as informações omitidas pelo prefeito e pelo presidente está a de que os índices só começaram a cair após a imposição de um lockdown, entre 22 de fevereiro e 8 de março.
Em fevereiro, diante do colapso no sistema de saúde, Chapecó decretou o fechamento do comércio, bares e restaurantes. Também foi determinado o “toque de recolher”, que chegou a ser questionado por Bolsonaro.
Confira os números atualizados hoje
População Marília: 240.590 habitantes
População Chapecó: 224.013 habitantes
Óbitos em Marília: 347
Óbitos em Chapecó: 541
Internações em Marília: 171
Internações em Chapecó: 187