Cirurgiões pediátricos ‘fogem’ de Marília e cidade sofre com ausência há 10 meses
A cidade de Marília está há pelo menos 10 meses sem atendimento de cirurgião pediátrico no Hospital Materno Infantil (HMI) do Completo HC/Famema.
Referência para 62 municípios que fazem parte do Departamento Regional de Saúde (DRS) de Marília, a unidade hospitalar para casos de alta complexidade precisa encaminhar crianças para cidades distantes em casos graves que necessitam de intervenção cirúrgica.
A ausência de um médico especializado em cirurgia pediátrica traz um reflexo triste para muitas famílias. Foi o que aconteceu com o casal Brenda Nunes da Silva e Higor Santos, pais do pequeno Davi, de apenas um ano de idade.
A família explica que só foi possível encontrar atendimento médico especializado para o problema localizado no intestino do filho em Presidente Prudente (distante cerca de 200 quilômetros de Marília). Infelizmente, Davi não resistiu.
“Teve um domingo que ele começou a passar mal e corremos para a UPA. Colocaram no soro e ele não reagia. Tentamos nos hospitais particulares, mas não tinha pediatra. Fomos para o HMI e logo perceberam a gravidade. Ele passou por exames no domingo à noite, mas a ambulância chegou só pela manhã. Chegamos a Presidente Prudente só às 11h”, conta Brenda.
A mãe de Davi narra que foi atendida pela gravidade do caso. Ele foi operado e ficaram 21 dias na cidade. Brenda ficava no hospital com o filho, enquanto o marido permanecia em uma casa de apoio. Após a alta médica, a família retornou para Marília. Quando passaram pelo especialista novamente, ouviram que tudo havia dado certo e que o pequeno teria uma vida normal.
“Voltamos para casa e estava tudo bem. Ele andava, brincava e estava realmente levando uma vida normal, mas no dia 18 de junho ele voltou a passar mal. Levamos para a UPA e então encaminharam o Davi para o HMI. Lá ele passou pelo processo de realizarem exames, ficou toda a madrugada e voltamos para Presidente Prudente”, relembra a mãe.
Dessa vez não deu tempo de Davi passar por nova cirurgia. Ele morreu por volta das 7h, no hospital em Presidente Prudente, para desespero de Brenda, Higor e todos os familiares e amigos.
“Ele precisaria da cirurgia naquele momento, por isso ele morreu. Foi a pior coisa na minha vida. Eu vi que ele estava morrendo, mas não podia fazer nada. Vi meu filho morto e fiquei com ele das 7h às 11h no meu colo. Meu esposo saiu correndo quando soube, desesperado. Não quero que nenhuma família passe por isso”, afirma Brenda.
OUTRO LADO
O Marília Notícia entrou em contato com o Hospital Materno Infantil, para questionar a ausência de um cirurgião pediátrico, recebendo a informação que desde setembro de 2022, diversos processos seletivos foram abertos pela Fundação de Apoio à Faculdade de Medicina de Marília (Famar) para contratação de cirurgião pediátrico, porém, até o momento, não houve inscrições.
“Mesmo assim, a unidade segue realizando atendimentos de urgência e emergência pediátrica, com uma média mensal de 615 atendimentos nos últimos dois meses. Em casos de urgência e emergência, os pacientes pediátricos são atendidos pelos cirurgiões da unidade, porém, casos específicos podem precisar de atendimento especializado, por isso, nessas situações, os pacientes são transferidos para outras unidades referenciadas”, diz a nota.