Ciclismo amador cresce na pandemia e chama a atenção na cidade
Passeios eventuais de bicicleta com a filha Valentina, de três anos, continuam. Mas agora, com receio das academias, o funcionário público Luís Henrique Fernandes, de 32 anos, transformou um hobbie eventual em um esporte.
Luís faz parte da multidão de novos ciclistas, resultado também da pandemia. Há apenas dois meses o funcionário público mariliense decidiu investir cerca de R$ 1,6 mil em uma bicicleta com configurações mais adequadas, para pedalar em trilhas.
Segundo levantamento organização Aliança Bike – que reúne fabricantes em ações para o incentivo do uso das bicicletas – em maio e junho deste ano a venda no país dobrou, na comparação ao mesmo período do ano anterior.
O incentivo foi de um colega de trabalho, mais experiente na modalidade. “Eu gosto de academia. Fazia musculação, mas com tanto tempo com tudo fechado, estava sedentário e resolvi levar a bicicleta mais a sério”, relata.
O grupo dele tem cerca de 15 pessoas, grande parte como Luís, que começou a pedalar depois da pandemia. O esporte é praticamente coletivo, já que os praticantes partilham mais que a estrada e estão sempre próximos, sem deixar ninguém sozinho no sufoco.
“É uma atividade legal. Diverte, tem apoio. Você pode ter algum probleminha durante o trajeto, mas a turma não abandona. Um espera o outro. É realmente muito bom, por esse aspecto da amizade”, relata o iniciante.
Pedal com hora marcada
Além das pessoas que saem para pedalar sozinhas, com a pandemia, também tem aumentado os grupos de bikers, com gente de diferentes níveis de experiência e idades. Eles têm datas e dias específicos para os passeios.
Em geral, a organização começa pelas próprias bicicletarias, ou grupos liderados por competidores veteranos, que incentivam a prática.
O propagandista Renato Ramos Zanni, de 42 anos, relata que começou “sem querer”, no embalo com cinco amigos, há aproximadamente cinco anos.
“Fiz novas amizades e tive benefícios para a saúde. Peguei gosto e não parei mais”, relata.
Com a pandemia, ele percebeu que as pessoas não estão mais suportando ficar dentro de casa e têm buscado atividades alternativas.
“Com a bicicleta, você não se lesiona – exceto em queda. Só tem benefícios para a saúde, o fortalecimento do quadril, da perna, os riscos de se machucar são bem menores que em outros esportes”, acredita.
Renato observa que, com os clubes fechados, o ciclismo tornou-se – ao menos temporariamente – o esporte número um. Vários amigos estão começando.
“Tivemos várias turmas novas. Gente que mudou o hobbie, ou estava sem fazer nada e agora aderiu à bicicleta”, conta.
Com cinco anos de pedal, ele recomenda. “Não precisa investir muito para começar. Mas é importante comprar o capacete, as luvas, o short almofadado, o que você precisar para se sentir confortável e seguro”, sugere.
Antes de sair gastando dinheiro, é preciso definir que tipo de ciclista a pessoa quer ser, lembrando que o esporte comporta o mountain bike, o ciclismo de estrada e os passeios urbanos.
Zanni lembra que, para quem deseja pedalar em grupo, o que não faltam são opções. “Tem a galera que pedala à noite, em dias de semana. Tem equipes de sábado, domingo. Tem os mais competitivos, a turma do passeio, de leve. É uma questão de perfil”, afirma.
Uma vantagem dos grupos, para ele, é a identificação fácil pelos motoristas. O respeito é maior. Entre os fatores mais positivos do ciclismo o propagandista vê a amizade e a saúde.
Por outro lado, ele destaca os buracos nas vias e as irregularidades no asfalto como pontos negativos. Inclui-se na lista também a falta de educação de alguns motoristas – a minoria absoluta, felizmente – segundo o biker.
Sonho de pedal
Todos os ciclistas ouvidos pelo Marília Notícia são unânimes. A cidade foi projetada pensando, unicamente, nos carros.
“Porque não uma ciclovia de Nóbrega até Lácio, usando a margem da linha férrea, que inclusive está sem nenhum uso? Seria um benefício imenso para a cidade, uma obra para fazer a diferença na vida das pessoas”, acredita Zanni.
Com quase 30 anos no setor, o comerciante Valmir Morro vende bicicletas, principalmente, para trabalhadores. Nos últimos 12 anos, começou a trabalhar com elétricas e reconheceu rapidamente a tendência.
“Principalmente nos dois primeiros meses da pandemia, teve muita procura. Eu praticamente tinha parado de trabalhar com bicicletas comuns, só vendia elétricas. Mas estou com algumas em consignação, para venda”, afirma.
Ele não é tão otimista quanto a continuação da tendência. “As peças das bikes no Brasil são importadas e o dólar está muito alto. Encareceu muito, mas mesmo assim está vendendo bem. É esse preço alto que não dá certeza de sustentação das vendas”, acredita.