Chocolate artesanal movimenta economia e agrada o bolso
Há dez dias da Páscoa, início de mês e período de pagamento para os trabalhadores, não apenas os corredores dos supermercados ficam movimentados. A produção está acelerada também nos ateliês e cozinhas das doceiras de Marília, que praticamente param a produção de outras delícias para se dedicar ao chocolate.
É o caso da empresária Fernanda Maria Theodoro Santos, de 28 anos, que empreendeu por necessidade e, depois de cinco anos, tem fartas encomendas de doces finos para casamentos, aniversários e outras festividades – o ano todo.
Mas a data comemorativa Cristã, simbolizada pelo renascimento e marcada pelos presentes em forma de chocolate, rouba a cena e a rotina de Fernanda. Em pelo menos 80% dos pedidos, o cliente quer o ovo de colher, apinhado de recheio.
Quem procura o ovo fechado, não quer saber de casquinha. Tem que ser pesado e cheio de delícias, que comportam bombons, chocolate ao leite ou branco, trufas e muito mais, de acordo com a criatividade.
Fernanda conta que o planejamento começou já no início do ano, mas somente nas duas semanas que antecedem a data, a produção efetivamente é feita. Isso para que o cliente tenha um produto mais fresco e saboroso.
“O artesanal está muito em alta. As pessoas não estão dispostas a pagar caro por um ovo de Páscoa industrializado, que tem pouco chocolate. A inflação pegou todo mundo, os ingredientes ficaram mais caro. Com tantos aumentos foi até difícil precificar, mas se você comparar, a qualidade que a gente consegue entregar torna o produto muito competitivo”, defende.
A empresária conta que sentiu dificuldade no planejamento da produção, afinal, mesmo artesanais, foram mais de 500 unidades em 2021. O motivo, acredita, foi o comportamento do consumidor, que deixou para a última hora.
“Agora as pessoas estão circulando mais, querem ver produtos, fazer orçamentos. Não foi como no ano passado. Com mais tempo na internet, em casa, muita gente acabou comprando cedo, em pedidos pela internet”, compara.
A receita da Páscoa, para a maioria das docerias, pode render excelentes resultados. “Sempre compramos algum equipamento ou usamos o faturamento adicional de uma forma que gere impacto no nosso negócio. Em 2021 conseguimos enfrentar a inflação sem praticamente mexer nos nossos preços. Isso foi muito importante para nós”, lembra.
MERCADO DE INSUMOS
Diretor comercial de uma distribuidora de ingredientes, insumos e embalagens, Jonas Vidoto Coelho conta que a disposição de quem produz ovos artesanais é sensível no setor.
Coelho aponta ainda que muitas famílias vão para a cozinha, preparar os próprios ovos. “É uma atividade legal de se fazer com as crianças. Você pode ensinar, divertir e interagir com seus filhos, através de uma experiência como essa. A procura está bem grande, sobre os anos anteriores, com destaque para esse perfil, da pessoa que vai fazer em casa”, conta.
O dirigente estima aumento das vendas, em alguns produtos, na ordem de 80%. Nos 15 dias posteriores à Páscoa, ocorre uma certa ressaca, mas depois o consumo de chocolate – que é considerado relativamente alto no Brasil – volta a subir.
Levantamento da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (Abicab) mostra que a média de consumo é de 2,6 quilos por pessoa/ano. Ainda de acordo com a entidade, o Brasil tem um dos maiores mercados do mundo em volume de vendas de chocolate. Na Páscoa de 2021, as indústrias produziram cerca de nove mil toneladas de ovos e produtos de Páscoa, o que demonstra uma leve recuperação e crescimento de 6% na produção no comparativo com 2020. A expectativa para 2022 é de nova alta.