Católicos mantêm na quaresma tradição de mudar comportamento
Começa nesta quarta-feira (2) a quaresma, um período de 40 dias de antecede a Páscoa, principal data do cristianismo. O intervalo dentro do calendário litúrgico é, tradicionalmente, um período de resguardo para os católicos.
Entre as tradições está a abstinência de determinados alimentos, como a carne vermelha e o álcool, a intensificação da confissão e sensibilidade às ações sociais.
A costureira Idalina Dantas Alves, de 71 anos, há mais de três décadas integra o Apostolado da Oração, grupo que faz intercessões diárias pelos doentes, pelos propósitos da igreja e outras causas indicadas pelo clero e a comunidade.
A partir de amanhã (2), na chamada quarta-feira de cinzas, que sucede o Carnaval, Idalina entra em abstinência total de qualquer tipo de carne, exceto a de peixe. Em relação ao álcool, conta, nunca teve a bebida como hábito. Decidiu eliminar até a esporádica taça de vinho.
“Desde 1996, nos 40 dias, eu faço abstinência total de carne, incluindo a branca. Às quartas e às sextas são dias ainda mais especiais de penitência. O jejum é importante também, em várias datas dentro da quaresma. Para nós católicos, é uma preparação”, explica.
Idalina destaca três bases que, conforme aprendeu, fazem parte da quaresma: caridade, confissão e penitência. “A confissão que você faz para o padre faz bem para você, é um desabafo feito com uma pessoa confiável, senão viraria fofoca. Além disso, ele [padre] tem a autoridade, como sacerdote, para o perdão”, confia.
A caridade é uma ação frequente, não apenas parte do período litúrgico, para Idalina. A costureira faz parte de uma entidade em Marília que reúne voluntários em apoio a famílias e pacientes com câncer. Habilidade da profissão, entre outras, é cedida o ano todo para que a associação possa cumprir seu propósito.
“Na quaresma, nós nos preparamos para que, ao chegar a Páscoa, possamos estar diante do Cordeiro de Deus [representado por Jesus] de uma forma penitente, arrependido dos nossos pecados, porque somos pecadores e temos que nos despir do orgulho e dos valores do mundo, para crescermos espiritualmente”, explica.
NOVAS GERAÇÕES
Com a transmissão da religiosidade entre gerações, católicos mais jovens que dona Idalina também aprendem e praticam os mesmos valores.
É o caso da assessora comercial Natania Lima Milmann e do técnico em telefonia Álvaro Roberto Pollon, ambos de 38 anos.
“Chocolate e cerveja eu tiro de vez. Já não como muita carne vermelha. No período da quaresma, tiro esse tipo de alimento [incluindo a carne branca] todas as sextas-feiras. Procuro o sacramento da confissão. Creio que Deus nos perdoa, se buscarmos por ele, independente do padre, mas aprendi a buscar o sacramento”, conta Natania.
Ela afirma se sentir melhor espiritualmente. Os efeitos vão bem além dos 40 dias. “Acredito que a quaresma não deveria ser levada em conta apenas nos 40 dias. Temos que lembrar o ano todo da importância de buscar mais a Deus”, afirma.
FRATERNIDADE
Com a celebração das missas de quarta-feira (2), a Igreja Católica inicia simultaneamente com a quaresma, a Campanha da Fraternidade. No Brasil, todos os anos, desde a década de 60, o momento litúrgico tem na campanha uma base para a reflexão dos fiéis.
Em 2022, o tema da será “Fraternidade e Educação” e o lema “Fala com sabedoria, ensina com amor”, baseado no texto bíblico contido no capítulo 31 do livro de Provérbios (versículo 26).
O padre Danilo Nobre dos Santos, assessor da Campanha da Fraternidade na Diocese de Marília, explica que “sempre um tema social é escolhido para ser debatido, refletido e principalmente assumido, como compromisso de vida, para a transformação da sociedade, a partir das interpelações que estes temas nos provocam.”
Tradicionalmente, na Diocese de Marília, padres e agentes de pastoral recebem formação. A ideia é difundir as ações e lema da campanha por todas as comunidades.