Casa Cidadã dá alento e conforto na madrugada mais fria do ano
“De que adianta ter piedade nos olhos e não ter coragem nas mãos?”. Essa é uma das mensagens escritas nas paredes da recém-inaugurada Casa Cidadã, que vem abrigando moradores de rua e população em situação de vulnerabilidade social em Marília.
O Marília Notícia visitou a unidade mantida e estruturada pela Prefeitura de Marília na noite desta sexta-feira (5) e acompanhou o auxílio prestado para a população que mais precisa.
Durante a visita cerca de 25 pessoas já estavam sendo atendidas por três funcionários. Elas haviam tomado banho e estavam aguardando pelo jantar, servido às 20h30. Parte das pessoas assistia televisão e outra metade estava deitada nas camas se protegendo do frio.
O dispositivo da Assistência Social do município se mostra fundamental, ainda mais nos dias mais frios, como este final de semana. Marília teve a temperatura mais baixa do ano até o momento durante a madrugada deste sábado (6). Entre 4h e 6h os termômetros chegaram a registrar 4ºC.
O contador José Genésio dos Santos, de 56 anos, atualmente um morador de rua, relatou sua trajetória e como chegou na situação de vulnerabilidade social.
“Eu já estive lá em cima, tive cargos importantes no Rio de Janeiro trabalhando em multinacional e na bolsa de valores. Trabalhei como contador em escritórios de porte médio em Marília. Por conta da bebida, acabei perdendo tudo. Já tive altos salários e não poupei nada. E agora, com 30 anos de profissão, estou precisando de ajuda e encontrei esse auxílio na cidade. A questão da minha recolocação no mercado de trabalho é questão de tempo, no máximo 40 dias”, disse.
“Eu estou me preparando para fazer o concurso do Daem e também tenho feito muitas entrevistas. A Casa Cidadã disponibiliza tudo aquilo que quem está na rua necessita. Se tiver vontade de sair dessa vida difícil, a oportunidade está aqui. Basta querer!”, complementa.
Questionado sobre a Casa Cidadã, Genésio, como é conhecido, fez diversos elogios aos funcionários e a nova estrutura da unidade recém inaugurada pelo prefeito Daniel Alonso (PSDB).
“A transição do Albergue para a Casa Cidadã foi excelente. O atendimento é bastante humano e oferece as condições de alimentação, sossegado para o estudo e possibilidade de procurar oportunidades no mercado de trabalho. Eu só tenho elogios a essa rede social de Marília”, finaliza.
Em outros anos já foram registradas denúncias de gestores que “despachavam” moradores de rua para outras cidades.
O cuidador social Rafael Bagnara, responsável pela Casa Cidadã, revela que a nova estrutura está completa e a demanda aumenta com as baixas temperaturas.
“No começo manteve a mesma média de pessoas sendo atendidas. Agora com o frio a tendência é aumentar a procura, estamos preparados para acolher todos que nos procurarem”, disse.
Bagnara explica que o perfil das pessoas em situação de vulnerabilidade social é diverso. “É variado, pois contempla desde jovens e idosos, até pessoas inseridas no mercado de trabalho que não tem local para morar. Também atendemos pessoas que estão viajando e passam por Marília sem ter um lugar para ficar”.
O imóvel tem 670 metros quadrados, com duas salas da equipe técnica, uma sala de recepção, uma sala de TV, um espaço de convivência, cozinha, refeitório, lavanderia, almoxarifado, jardim e banheiros masculino e feminino (com acessibilidade) com total de cinco chuveiros.
A Casa Cidadã está localizada na rua Paraíba, 674, no bairro Banzato, zona Leste da cidade. O horário de entrada é das 17h às 19h30. O encerramento acontece por volta das 8h.
A unidade oferece acolhimento imediato e emergencial para pessoas em situação de rua, migrantes, imigrantes, comunidade LGBT e mulheres, ou seja, qualquer cidadão que precisar de abrigo temporário.
Ali são disponibilizados banho, alimentação e leito, de modo parecido com a antiga Casa de Passagem, mas em um ambiente mais adequado. São 70 vagas, 50 para homens e 20 para mulheres – que ficam em cômodos separados.
“Assim como houve uma quebra no paradigma na forma de abordar e tratar os moradores de rua, em todas as secretarias temos uma nova visão, mais humanizada”, disse o prefeito na inauguração.
Regras
Podem receber atendimento pessoas adultas ou grupos familiares em situação de desabrigo, mas é preciso apresentar documento ou boletim de ocorrência indicando a perda (válido por 30 dias).
A Casa Cidadã oferece atendimento para todos que necessitam, mas é preciso seguir as regras. Não é permitido entrar alcoolizado ou sob efeito de entorpecentes; retirar pertences do guarda-volumes durante a noite; mudar as camas de lugar; lavar roupa no chuveiro ou fumar nas dependências.
Os atendidos têm a obrigação de arrumar a cama e dobrar lençóis e cobertores, manter o espaço limpo e retirar todos os seus pertences durante a manhã. Crianças só podem entrar com os pais e mediante apresentação de documentação.