Camarinha terá audiência por usar rádio e embolsar R$ 1,1 milhão
A Justiça Federal de Brasília marcou para a próxima sexta-feira (8) audiência de instrução e julgamento do ex-deputado e ex-prefeito de Marília, Abelardo Camarinha (Podemos), e seu sócio na Rádio Vera Cruz (950 AM), Wilson Matos. Eles respondem por estelionato.
O político e o radialista foram denunciados pelo Ministério Público Federal em 2017, suspeitos de embolsar mais de R$ 1,1 milhão da Câmara dos Deputados, mediante emissão de notas fiscais por supostos serviços prestados pela rádio da qual são donos.
O crime está sob julgamento da 12ª Vara Federal da Seção Judiciária de Brasília, especializada em crimes contra o sistema financeiro, lavagem de dinheiro ou ocultação de bens, além de crimes praticados por organizações criminosas.
O Ministério Público Federal apontou a emissão de 46 notas fiscais, nas quais Camarinha usava verba de gabinete a que tinha direito como deputado, para “pagar a si mesmo”, obtendo vantagens ilícitas diretas. O rombo totalizou R$ 1.104.085,86.
Wilson Matos, em sua defesa, alegou o desparecimento de notas fiscais em branco do interior da rádio. Ele requisitou ainda exame grafotécnico e alegou que sua assinatura foi falsificada nas notas apresentadas à Câmara dos Deputados, para comprovar despesas.
Para se defender, o radialista levanta suspeita sobre seu sócio. “Afirma (Matos) que o corréu José Abelardo Guimarães Camarinha tinha livre acesso às dependências da Rádio Vera Cruz. Afirma não ter recebido qualquer valor destinado a si ou à sua(s) empresa(s) oriundo da Câmara dos Deputados, conforme extratos bancários”, disse o sócio da rádio.
O antigo aliado pediu ainda assistência judiciária gratuita, alegando não ter condições de pagar advogado, o que foi atendido pela juíza federal substituta Pollyanna Kelly Maciel Medeiros Martins Alves, em dezembro o ano passado.
Já a defesa do ex-deputado foi mais limitada em seus argumentos. Camarinha alegou que “não teve ciência do desvio dos recursos referidos na denúncia, vez que encarregou terceiros para a realização da tarefa de contratação dos serviços publicitários”.
Meios de comunicação
O controle de meios de comunicação, através de dinheiro público, sempre foi uma estratégia do grupo político do ex-deputado.
Tanto que em janeiro de 2017 a Polícia Federal lacrou o Jornal Diário e encerrou de forma definitiva as atividades da Central Marília de Notícias (CMN), após fechar duas rádios do grupo que funcionavam irregularmente.
A “Operação Miragem” tem como principais investigados Abelardo e Vinicius Camarinha, acusados de serem os verdadeiros sócios dos extintos jornal Diário e rádios Dirceu e Diário. Eles teriam usado laranjas para ocultar a real propriedade dos meios de comunicação.
O processo também apura falsificação de documentos, lavagem de dinheiro e diversos outros crimes.