Cabos eleitorais divergem na política, mas compartilham histórias
Na política, muitas divergências. Mas nas histórias de vida, relatos comuns de pessoas – maior parte moradores da periferia – que encontram nas eleições uma oportunidade de trabalho temporário.
Bandeiras de diferentes campanhas dividem espaços na maioria das vezes pacificamente, afinal, eles sabem que a campanha dura poucas semanas e a vida nas comunidades vai continuar.
A reportagem do Marília Notícia descobriu que uma grande parte destes trabalhadores incorporam um “clima de torcida”. Os veteranos se consideram mais politizados e além de gostar do trabalho, projetam em seus candidatos a expectativa de uma cidade melhor.
Duas candidaturas – Abelardo Camarinha (Podemos) e Daniel Alonso (PSDB) – investem nesse tipo de estratégia. A ideia é fazer volume, ser visto, mostrar força e ser lembrado pelo eleitor.
O MN apurou que ambos os candidatos pagarão, pelos 30 dias de serviço, R$ 1.100. Já o número de trabalhadores de cada político – valor da despesa com esse tipo de contração – ainda não foi declarada completamente à Justiça Eleitoral.
Há mais de 20 anos, a cozinheira desempregada Eliane – que preferiu não ser fotografada e nem identificada – trabalha em campanhas eleitorais. Ela é moradora em uma comunidade da zona Oeste da cidade e coordena um grupo de 34 pessoas, a maioria delas mulheres.
“Sempre trabalho para o mesmo grupo, do Camarinha. É um serviço que eu gosto, porque lida com o povo, você conversa, pede voto, conquista o eleitor. Não é só segurar bandeira”, garante a coordenadora.
Eliane esperava com ansiedade o início da campanha. “Esse ano, com estas máscaras, estou achando a campanha mais triste. A gente sente falta do sorriso das pessoas. Pra mim, campanha tem que ser na rua, junto com a população. Essa pandemia complica tudo”, afirma.
A cozinheira diz que já aprendeu a lidar com eventuais hostilizações. “Você não pode responder à altura. Tem que ter educação. Eu sei que o meu candidato é o melhor e defendo ele, mas não vou ficar discutindo na rua. A gente tem que ter respeito”, pondera.
Dividindo o mesmo espaço (popular Ilha da Galeria Atenas), outra Eliane também aproveita o período eleitoral para se posicionar politicamente e ganhar algum dinheiro. Por coincidência, ela também é coordenadora e organiza grupo com cerca de 50 pessoas.
Com 46 anos, dez deles envolvida em campanhas eleitorais, a dona de casa Eliane Miranda da Cruz considera as eleições uma oportunidade de renda, cidadania e convivência.
“Terceira vez que trabalho para o Daniel. Já trabalhei para o outro, mas hoje o melhor para a cidade é o Daniel com certeza. Não temos problema nenhum com o pessoal do Camarinha. Tem muita gente aqui que mora no mesmo bairro. Campanha acaba, amizade prevalece”, garante.
Muitos jovens também se juntam aos veteranos, com as “Elianes”, nesse batalhão que veste as camisetas dos partidos – sempre com o número do candidato em destaque – e empunham bandeiras sob sol e risco de chuva.
Tainara Ferreira, de 24 anos, é vendedora e conta que não está fácil conseguir emprego em sua área.
É a segunda vez que ela trabalha em campanha e vê a oportunidade com alívio. “Começou no dia 13 e vai até o dia 14. É um mês de serviço, para quem está parado, é ótimo”, comenta.
Rotina de labuta
Os grupos partem logo cedo de ônibus ou vans, dos bairros mais populosos. O trabalho é feito das 09h às 18h, quando a população está nas ruas, principalmente no centro. Tem que agitar a bandeira, tem que sorrir e puxar conversa com os eleitores.
Veículos contratados – a maioria do transporte escolar – levam os cabos eleitorais até os pontos centrais. As ruas São Luiz, Nove de Julho e avenida Sampaio Vidal reúnem o maior número de pessoas.
Os comitês são pontos de apoio, principalmente em ações maiores, como dias de carreata. É também de onde sai o material de divulgação. Parte dos candidatos também mantém grupos nos bairros, fazendo a entrega de “santinhos” casa a casa, mesmo que poucas portas se abram, devido a pandemia.
A divulgação com bandeiras vai até o dia 14 – véspera das eleições. No dia da votação não é permitido nenhum tipo de propaganda.