Brigadistas se deslocam durante 7 horas para combater fogo em áreas isoladas do pantanal
A temporada de incêndios no pantanal só deveria começar em agosto, mas já causa cenas de destruição que remetem aos desastres de 2020, os maiores já registrados no bioma. Na última semana, brigadistas e a população de Corumbá, em Mato Grosso do Sul, têm enfrentado fogo na beira do rio Paraguai, perto da cidade, e agora o combate segue em outras frentes.
Mas o território do bioma, conhecido por ser a maior planície alagável do mundo, desafia o deslocamento dos brigadistas. As jornadas para alguns pontos afastados, mas que podem gerar incêndios graves, chegam a durar cerca de sete horas.
E mesmo após o controle dos focos de incêndio, outras áreas começam a queimar. É o caso da Curva do Tuiuiú, às margens do rio Paraguai. A Folha participou de um sobrevoo na região, ao norte de Corumbá, na manhã deste domingo (16).
O que já queimou se divide em duas imagens. É possível ver uma terra escurecida, coberta por uma bruma de fumaça. Isso indica uma área já destruída, sem fogo ativo à vista. Caso contrário, uma linha de fogo projeta colunas de fumaça espessa de forma vertical, consumindo o verde à frente.
Um dos motivos para o espalhamento rápido das chamas, além da vegetação ressecada, é o vento, que acelera a dispersão do incêndio.
O sobrevoo deste domingo foi organizado por especialistas do Instituto Homem Pantaneiro com dois objetivos. O primeiro era mapear áreas já queimadas, onde o fogo já passou, segundo o biólogo Sergio Barreto, que faz parte da organização e integra um grupo de resgate animal formado pelo governo de Mato Grosso e outros órgãos públicos, incluindo o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), universidades e ONGs.
Após o reconhecimento da região feito no voo, equipes de campo farão uma vistoria nas áreas ainda nesta semana, para monitorar a situação e verificar se será necessário fazer regastes e ajudar a alimentar animais afetados pelos incêndios. Esse mapeamento também serve para guiar as equipes, já que o deslocamento, inclusive de equipamentos, é trabalhoso.
A outra parte do trabalho com o voo foi verificar, em campo, em que direção e velocidade avançam as linhas de fogo. Essa tarefa completa o monitoramento feito por satélites e armazenado em plataformas como o sistema de alarmes do Lasa (Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais), da UFRJ.
“Com essa validação em campo, confirmo esses dados e gero produtos de acesso para eles”, disse a geógrafa Rayssa Noveli, do Instituto do Homem Pantaneiro.
Os produtos de acesso são informações para que eles, os brigadistas, entendam como está se movimentado o fogo, e quais os melhores caminhos para acessar as áreas com focos de incêndio para o combate.
Após os registros, o voo teve outra parada durante a manhã na Fazenda Santa Teresa para a entrega de um drone que seria usado pelos brigadistas. Nos últimos dias, o combate ao fogo aconteceu na fazenda.
Segundo o biólogo Gustavo Figueirôa, da organização SOS Pantanal, foram sete horas para chegar de Corumbá até a fazenda. Ele acompanhou os integrantes da Brigada Alto Pantanal, do Instituto Homem Pantaneiro, que estão atuando na região do rio Paraguai-Mirim, próximo da Serra do Amolar.
O começo do trajeto levou três horas de lancha pelo rio Paraguai, uma hora de caminhonete até a sede da fazenda para preparar equipamentos e outra hora pelo campo em uma trilha aberta pelos funcionários.
A partir daí foram mais duas ou três horas “no lombo do trator” até o ponto de fogo, para aí começar o combate. “Isso mostra a importância de ter um apoio aéreo de helicópteros para deslocar brigadistas até o local do fogo muito mais rápido. Com helicóptero, não passaria de dez minutos, e seria mais fácil levar e trazer os materiais.”
A reportagem também acompanhou uma ação de brigadistas do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo), do Ibama. Os agentes foram acionados para uma queimada que destruiu lotes de uma propriedade rural em Corumbá, a fazenda São Bernardo, em menos de duas horas.
Antes de chegar ao local, a reportagem registrou uma coluna de fumaça a 15 km.
Quando o fogo está muito forte, disseram os agentes, algumas áreas não poderão ser controladas. É preciso, a partir disso, escolher os focos que serão combatidos para evitar que o incêndio “pule” os aceros, linhas de proteção com terra, ou até mesmo as pistas. O horário crítico desse risco, segundo os agentes, é entre 10h e 15h
Enquanto o trabalho de combate aos incêndios na região exige grandes esforços de logística para o deslocamento, a temporada de fogo está apenas começando. Para Barreto, do instituto, o grande diferencial é a preparação.
“Temos equipamentos para resgatar de pequenos mamíferos a grandes animais, como antas e onças.” Já em relação ao fogo, a detecção evoluiu, disse ele, e permite que brigadas como a do instituto consigam enfrentar focos de incêndio ainda no início.
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