Boulos se contrapõe a Lula e promete paridade entre mulheres e homens caso eleito
Em pré-campanha pela Prefeitura de São Paulo, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) promete ter o mesmo número de mulheres e de homens em seu secretariado, caso seja eleito em outubro. O compromisso com a paridade de gênero será anunciado nesta sexta-feira (8), Dia Internacional da Mulher.
“Numa possível futura gestão, que a gente coloque isso em prática e comece a diminuir essa desigualdade ainda existente em relação às mulheres na política”, diz a economista Camila de Caso, uma das coordenadoras do programa de governo de Boulos.
Boulos, que tem como pré-candidata a vice em sua chapa a ex-prefeita Marta Suplicy (PT), participa de um café da manhã com cerca de 200 mulheres nesta sexta, em um clube na avenida Paulista, entre empresárias, artistas, professoras e líderes comunitárias.
Ativista do movimento feminista, Marta Suplicy costuma realizar encontros de mulheres e liderou o grupo Brasil Mulheres, que reúne políticas, personalidades e intelectuais para debater a participação da mulher na política.
Até janeiro, ela engrossava o time de mulheres no secretariado do principal rival de Boulos, o prefeito Ricardo Nunes (MDB), mas deixou a gestão ao mudar de lado na disputa. Atualmente, Nunes tem 35 secretarias, incluindo as especiais e executivas, sendo que 9 (26%) são chefiadas por mulheres.
A própria ex-prefeita, contudo, já ressaltou a dificuldade de cumprir a promessa de paridade que Boulos propõe. Em entrevista à Folha em 2021, ela afirmou que Bruno Covas (PSDB), a quem apoiou na eleição de 2020, “realmente tentou” igualar o número de mulheres e homens no alto escalão, mas não conseguiu.
“É muito difícil [ter mais mulheres]. Eu já fui prefeita e tentei fazer 50%, mas é muito complicado. Na prefeitura tem um ônus a mais: é o salário [baixo]. É uma coisa dura”, disse.
Exercendo seu primeiro mandato como deputado federal, Boulos tem em seu gabinete 16 assessores, sendo 7 mulheres e 9 homens.
Seu principal aliado nesta eleição, no entanto, o presidente Lula (PT) é alvo de críticas do seu eleitorado progressista justamente por não priorizar mulheres em suas nomeações. O petista iniciou o mandato com 37 ministros -26 homens e 11 mulheres.
Atualmente, Lula tem 38 ministérios, e a participação feminina caiu de 11 para 9 para que o presidente acomodasse partidos do centrão, como PP e Republicanos, na Esplanada.
No STF (Supremo Tribunal Federal), Lula tampouco preservou a representatividade feminina, que já era desigual –entre 11 ministros, havia 2 mulheres. Nas duas oportunidades que teve, o presidente indicou homens, mesmo para substituir a vaga de Rosa Weber, tornando Cármen Lúcia a única mulher hoje na corte.
“A gente não precisa ficar observando tudo que Lula faz para se basear na nossa campanha aqui”, responde Camila.
“Acho que ele tem uma série de medidas que vai precisar tomar, está fazendo um excelente governo e, inclusive, tem avançado na pauta das mulheres em outros âmbitos. Mas a gente está olhando muito mais para a cidade de São Paulo”, acrescenta, ressaltando a desigualdade de gênero no secretariado de Nunes.
A pré-campanha de Boulos diz se inspirar em exemplos como o governo de Gabriel Boric, no Chile, que tem mais mulheres do que homens nos ministérios.
Quando candidato ao Governo de São Paulo em 2022, Fernando Haddad (PT) também fez essa promessa, mas perdeu para Tarcísio de Freitas (Republicanos), que criou a Secretaria da Mulher, chefiada pela bolsonarista Sonaira Fernandes (Republicanos).
Em relação a Tarcísio, Camila aponta que Lula também criou uma pasta exclusiva para a mulher e diz que o governador deu “um passo importante”, mas precisa oferecer estrutura, mencionando o aumento de feminicídios e as poucas viaturas para atender casos de violência contra a mulher.
Questionada pela Folha, Camila evita mencionar nomes de mulheres que possam vir a compor o eventual secretariado de Boulos. “A gente não definiu isso. Nem de mulheres, nem de homens, nem de ninguém. Sentar antes na cadeira pode trazer azar.”
Segundo ela, a atual equipe de Boulos para montagem do programa de governo, com uma série de especialistas e ex-secretários divididos em grupos temáticos, já tem maioria de mulheres.
A promessa de paridade, por enquanto, não se estende às chefias das 32 subsecretarias, geralmente loteadas entre partidos e vereadores.
Na avaliação da economista, as políticas públicas encabeçadas por mulheres têm o diferencial de alcançar a transversalidade. “Porque a gente fala sobre escola, sobre assistência, sobre saúde. É outro olhar de quem normalmente recebe e é atravessado por essas políticas.”
Camila diz ainda que o objetivo de atrair o eleitorado feminino com a medida da paridade “não é o fim, mas acaba sendo o meio”.
“A gente vive numa época em que o bolsonarismo repudia ativamente a participação das mulheres na política. Então queremos deixar um recado claro de que a nossa pré-candidatura é das mulheres. Que elas não estejam apenas votando, mas também construindo e atuando nela”, diz, mencionando o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que apoia Nunes.
Na entrevista à Folha em 2021, Marta afirmou que o governo Bolsonaro era o revés mais violento para os direitos das mulheres no Brasil e listou as dificuldades que as mulheres enfrentam para entrar na política.
Nesta sexta, Nunes também tem compromissos relacionados ao Dia da Mulher, assim como a deputada federal Tabata Amaral (PSB), que também disputará a prefeitura neste ano. Ela e a pré-candidata do Novo, Marina Helena, são as únicas mulheres na corrida paulistana até agora.
O prefeito vai participar da inauguração de um centro de acolhida para mulheres e de um centro para pessoas com transtorno do espectro autista, do aniversário do programa “Guardiã Maria da Penha” e vai firmar acordos de cooperação com o Ministério Público e a Defensoria para a proteção de mulheres vítimas de violência.
Tabata participa de um café da manhã para discutir políticas para as mulheres na cidade, em seguida visita adolescentes em uma escola para ler seu livro “Nosso Lugar” e falar sobre a atuação feminina na política e, por fim, filia a vereadora Jussara Basso, hoje no PSOL, ao PSB.