Bolsonaro afasta risco de golpe nas eleições
Em uma mudança de tom que coincide com a queda de popularidade e o descontentamento da população por conta da inflação em rota de subida, Jair Bolsonaro afirmou que a possibilidade de um golpe de Estado para permanecer no Palácio do Planalto é “zero”.
A declaração foi dada em entrevista à revista Veja, publicada ontem e o presidente surpreende, sobretudo, por causa do tom do seu discurso, na última terça-feira, nas Nações Unidas — quando falou mais para a base eleitoral, tocando em assuntos caros aos radicais que o apoiam, do que para o grande público interno e externo.
“Daqui pra lá, a chance de um golpe é zero”, assegurou, ao ser questionado sobre os estímulos antidemocráticos que promoveu e em referência aos processos de impeachment que estão na Câmara dos Deputados.
Após críticas reiteradas ao voto eletrônico, Bolsonaro disse estar garantido o pleito de 2022 e que “não melaria” as eleições, mesmo que o projeto de voto impresso defendido pelo governo não seja implementado — algo impossível de acontecer, pois a proposta de emenda constitucional sobre a questão foi sepultada pelo plenário da Câmara.
“Vai ter eleição, não vou melar. Fique tranquilo, vai ter eleição. O que o (Luís Roberto) Barroso está fazendo? Ele tem uma portaria deles, lá, do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), onde tem vários setores da sociedade, onde tem as Forças Armadas, que estão participando do processo a partir de agora. As Forças Armadas têm condições de dar um bom assessoramento. Com as Forças Armadas participando, você não tem por que duvidar do voto eletrônico. As Forças Armadas vão empenhar seu nome, não tem por que duvidar. Eu até elogio o Barroso, no tocante a essa ideia”, justificou, referindo-se ao grupo montado pelo ministro para a melhoria da segurança da votação eletrônica.
Bolsonaro indicou, ainda, que concorrerá à reeleição e deu a entender que procurará um novo vice, apesar de não ter descartado o atual, Hamilton Mourão, para compor a chapa. Mas disse que o general seria um “bom senador”.
Sobre um partido futuro, citou as legendas de centro, como o PP, PL ou Republicanos como opções. “Não vou fugir de estar com esses partidos, conversando com eles. O PTB ofereceu para mim também”, salientou.
O presidente aproveitou para comentar o peso da alta dos preços no orçamento do brasileiro, mas justificou que não poderia tabelar a gasolina e o gás de cozinha. Reclamou, também, que “toda crítica cai no meu colo”.
A respeito dos atos do 7 de Setembro, Bolsonaro reconheceu “ter extrapolado em algumas coisas”. “Queriam que eu fizesse algo fora das quatro linhas (da Constituição). E nós temos instrumentos dentro das quatro linhas para conduzir o Brasil. Agora, todo mundo tem que estar dentro das quatro linhas. O jogo é de futebol, não é de basquetebol. Não vou mais entrar em detalhes porque, quanto mais pacificar, melhor”, disse.
Sobre a pandemia de covid-19, destacou que “não errou em nada” na gestão da crise — que matou mais de 593 mil brasileiros. Assim como fizera no discurso nas Nações Unidas, na última terça-feira, voltou a questionar a eficácia da vacina CoronaVac e reafirmou que não tomou nenhum imunizante.
“Não errei em nada. Fui muito criticado quando falei que ficar trancado em casa não era a solução. Eu falava que haveria desemprego, e foi o que aconteceu. Outra consequência disso é a inflação que está aí. Hoje, há estudos que mostram que quem mais caminha para o óbito por coronavírus é o obeso e quem está apavorado”, observou.
Na próxima semana, Bolsonaro completa 1.000 dias de governo e, caso o exame de RT-PCR dê negativo para a covid-19, planeja viajar por cidades do país entregando obras. Na tentativa de reagir a má avaliação da sua gestão, divulgar um compilado de medidas tomadas em meio à pandemia, emprego, infraestrutura, além de bater na tecla de que seu governo não tem corrupção.