Aumenta a produção de podcasts em Marília e região
Atrasada em relação aos grandes centros urbanos na produção de podcasts, só agora a região de Marília começa a ampliar o número de conteúdos locais disponíveis. O formato surgiu inspirado em programas de rádio, mas com a vantagem do ouvinte poder escutar na hora que desejar, usando a internet.
O podcast é o novo “queridinho”, em meio à democratização da produção de conteúdos de comunicação.
Embora tenha nascido com ênfase no áudio, a imagem já faz parte da maioria das gravações que podem ser transmitidas ao vivo ou produzidas exclusivamente para plataformas de compartilhamento, como o Spotify ou Deezer.
Em Marília, a novidade tem atraído pessoas que já tem experiência em comunicação, mas vê no novo formato uma maneira de ampliar os horizontes. Também atrai profissionais com “perfil descolado”, que já se comunicavam com segmentos e veem na tecnologia a oportunidade de potencializar diálogos.
É o caso dos professores Carlos Roberto de Almeida Júnior, o Carlão, de 43 anos, e Lucas Taoni, de 30, que lançaram conteúdo em 2021.
Os dois lecionam geografia no Ensino Médio e cursinhos pré-vestibulares em Marília e criaram o podcast Prof Play.
“Não é um conteúdo necessariamente educacional, mas para a discussão de temas relevantes, questões da atualidade, algumas polêmicas. A ideia é debater assuntos que sejam pertinentes não apenas para o jovem, mas para a sociedade de forma geral”, explica Carlão.
O público que eles têm atraído é formado, em sua maioria, pelo jovem do Ensino Médio ou que já ingressou em uma universidade, na faixa etária dos 15 aos 24 anos. “Temos percebido que o podcast atinge também outros segmentos, com audiência interessante e variada”, observa o professor.
Já apresentador de TV Luciano Gleuce e o fotógrafo Will Rocha, que apresentam o “Resenha com Muvuka”, tem uma trajetória diferente. Já estão inseridos na chamada mídia, mas viram no formato uma oportunidade de atualização. O podcast foi criado há cerca de três meses e já entrevistou vários empreendedores de Marília, com o diferencial de extrair declarações surpreendentes.
“É muito interessante porque a gente usa o humor, e isso deixa a pessoa muito à vontade. Eles [entrevistados] falam o que, possivelmente, não falariam em outra entrevista. Essa é a pagada desse formato”, acredita Gleuce.
O apresentador, que estava acostumado a trabalhar com plateia, sentiu as dificuldades da pandemia e apostou na nova estratégia para sair ainda mais fortalecido. “Estamos na TV e na internet há muito tempo, mas com o podcast, as possibilidades são ilimitadas”, observa.
O potencial é tão grande que já existe em Marília uma espécie de coworking dos podcasts. O responsável pela novidade é o empresário Luís Carlos Gomes, o popular Luca. Ele montou um espaço onde pessoas ou grupos podem locar o ambiente, estrutura e também virarem apresentadores.
“A pandemia derrubou demais as nossas atividades. Eu trabalhava com shows. Nós tínhamos dois negócios. Um deles acabou. O outro, que é locação de equipamentos, teve muita redução. Tive que me virar. Veio a ideia de criar em Marília esse espaço equipado, onde a pessoa pode fazer sua transmissão ou faz a gravação e sai com o material para disponibilizar em suas redes”, explica.
O custo médio é de R$ 400, para até três horas de locação. O espaço tem câmeras, microfones, iluminação e suporte para personalizar cenário.
“Não sei dizer se é caro ou é barato. Se for para uma pessoa pagar sozinha e não monetizar, pode ser caro. Mas dependendo do conteúdo, da aceitação do público, do engajamento e patrocínio, fica muito barato. Vira um excelente negócio”, calcula.
O coworking de podcasts já tem, entre seus produtores independentes, conteúdos de variedades, esportes, diálogo com a comunidade e se prepara para receber uma produtora de conteúdo teen.
ESCOLA DO FUTURO
A aceitação é tão grande que o formato demostrou ser capaz de unir gerações. A professora de Língua Portuguesa Iriane Gerzeli Brandão encarou o desafio de produzir mídia com os alunos dos cursos de Ensino Médio (incluindo os integrados à Mecatrônica e Desenvolvimento de Sistemas), em uma escola estadual de Garça.
“Trabalhamos sustentabilidade, logística reversa e outros temas da atualidade, relacionados ao conteúdo de cada curso, com muito sucesso. Posso dizer que, nesse processo, a maior descoberta foi minha. Superar o desafio, como professora, de trazer algo tão novo, que tem mais conexão com o universo deles [alunos] que o meu. Eles assimilaram e desenvolveram com muita facilidade”, conta.
O sabor de vitória da professora é ainda maior, ao lembrar que toda a produção foi feita na fase de pandemia, com cada um na sua casa.
“O resultado foi excelente, mesmo com a distância física, conseguimos nos conectar em um projeto que ensinou a todos e representa um exemplo muito atual da Tecnologia de Informação e Comunicação”, comemora.
A assimilação até pela escola – onde os livros impressos e computadores tradicionais reinam absolutos como material didático – demostra que os podcast poderão passar, como vários formatos de mídia, mas chegaram para promover uma experiência mais completa e favorecer a democratização (de produção e acesso) da informação.