Abandono e maus-tratos aos animais têm alta nesta pandemia
A cada semana, Marília registra média de dez denúncias de maus-tratos a animais domésticos. A maioria dos casos, além das polícias Civil e Ambiental, também envolve entidades e grupos de protetores voluntários.
Os ativistas entram em ação para ajudar com abrigo, atendimento veterinário, reabilitação e alimentação. Em várias situações, são eles quem denuncia os crimes.
Em seu trabalho árduo e, muitas vezes, sem o devido reconhecimento, estes voluntários observam com preocupação o comportamento das pessoas.
O Marília Notícia ouviu vários deles, que são unânimes em apontar que o endurecimento das penas para crimes de maus-tratos, inclusive com a possibilidade de prisão em flagrante, não reduziu a violência e o descaso.
Desde setembro do ano passado, o crime tornou-se inafiançável, com pena de dois a cinco anos de detenção.
Nesta sexta-feira (6), o abrigo onde atua João Pedro Arf, na zona Oeste da cidade, recebeu uma gata com duas patas amputadas. O animal não tem dono.
“Ela entrou no motor de um carro, possivelmente para se abrigar do frio. Pelo relato que chegou para gente, as pessoas até tentaram encontrar e retirar, mas acharam que ela já tinha saído e ligaram o motor. A gata está muito ferida. É de dar dó”, conta.
No abrigo, são cerca de cem felinos. João observa que além da maldade de muita gente, ainda há desinformação e muitas carências.
“A lei [que prevê prisão para casos de flagrante] veio para melhorar a situação, para evitar que o crime aconteça, mas nos últimos meses os casos só aumentaram”, lamenta o ativista, que desenvolve o trabalho há onze anos.
Gabriel Fernando Francisco é diretor da Sociedade Protetora dos Animais (Spaddes) de Marília. A ONG computou 86 denúncias atendidas este ano, que resultaram em 35 animais apreendidos, 32 pessoas notificadas, 16 denunciados à Polícia Civil e nove presos.
“Muita gente ainda não tem conhecimento dessa lei. Algumas [pessoas] acabam enfrentando uma prisão, indo para uma audiência de custódia por falta de conhecimento da nova legislação. E tem mais; as pessoas estão esquecendo que deixar um animal abandonado à própria sorte também configura crime de maus-tratos”, destaca.
O ativista Fábio Alves Cabral, conhecido como “Fábio Protetor”, milita pelos direitos dos animais há 20 anos. Ele também não vê mudança de postura, por isso, defende a castração e a manutenção da prisão de pessoas que são flagradas em situação de maus-tratos.
“Não adianta prender e soltar na audiência de custódia. Tem que deixar preso, fazer cumprir pena. Só assim isso vai começar a mudar. Com essa pandemia, o que teve de gente que mudou de casa, viajou e abandonou animal de estimação. É um absurdo”, denuncia.
Desnutrida e com sinais de maus-tratos recentes e antigos, a cadelinha pode perder o outro olho. Além dela, três filhotes sem raça e um cão adulto também acabaram de chegar, vítimas de abandono.
“As pessoas estão abandonando, deixando bicho em casa e mudando. Tem gente que leva para estrada para soltar. Infelizmente, esses casos só estão aumentando. Precisamos de uma grande campanha de castração na cidade, com orientação para as pessoas, e punição para quem maltrata”, reivindica.
Não há uma pesquisa regular e atual que indique quantos animais existem na cidade. A estimativa é que Marília esteja na média do Estado de São Paulo, em que estudos censitários apontam a presença de um cão para cada quatro moradores, o que resultaria em pelo menos 60 mil no município.
Casos de flagrante de maus-tratos podem ser denunciados pelos telefone 190 (Polícia Militar), (14) 3433-7199 (PM Ambiental) ou ainda de forma on-line, pela Delegacia Eletrônica de Proteção Animal (Depa). É necessário identificar-se para fazer a denúncia e o sigilo dos dados serão preservados se optar pela privacidade, no momento do cadastro da denúncia.