Assassinato de grávida choca cidade sem homicídios do interior de SP
O assassinato de uma mulher grávida foi o primeiro homicídio registrado na cidade de Marapoama (a 410 km de São Paulo). O município do interior de São Paulo, de pouco mais de 3.000 habitantes, foi emancipado em 1993 e nunca havia registrado esse tipo de crime, segundo informações da Polícia Militar e da SSP (Secretaria da Segurança Pública).
Na manhã da última quinta-feira (14), uma diarista de 40 anos foi encontrada morta com sinais de facadas na casa onde morava, no bairro Jardim Paraíso.
O marido dela foi preso em flagrante por suspeita de cometer o crime, investigado como feminicídio. Ele não havia apresentado advogado até a tarde desta terça (19).
O crime contra a mulher chocou os moradores da pequena cidade, que raramente lida com cenas de violência. Dados da SSP mostram que, em todo o ano de 2023, nenhum roubo foi registrado no município – quanto aos furtos, foram 14 ocorrências no ano passado.
“Aqui não tem essas coisas, pelo menos não tinha né. Esses crimes onde o homem mata a esposa, a gente só via na TV e agora tivemos aqui. A gente fica até sem acreditar que aconteceu tão perto”, diz o comerciante José Antônio Guimarães, 79.
Morando na mesma rua onde o feminicídio foi registrado, a professora aposentada Janice Costa, 72, diz acreditar que o crime tenha sido um caso isolado e que não vai interferir na tranquilidade do município.
“Todo mundo se conhece e conhece as famílias. A maioria das pessoas são de bem. A gente pode deixar o portão destrancado quando sai e pode deixar as janelas abertas a noite que ninguém mexe. Foi uma situação isolada, de pessoas que vieram de fora”, diz.
Segundo a Polícia Civil, o casal era da capital paulista. O acusado havia se mudado para a cidade há pouco mais de um ano, e Débora havia chegado há menos de um mês. A mulher estava grávida, mas a idade gestacional não foi informada.
O baixo índice de ocorrências policiais faz com que a cidade não tenha um delegado com atuação exclusiva no local.
O profissional que atua na cidade é o mesmo que atende na delegacia de Novo Horizonte, cidade a 35 quilômetros, e vai à delegacia uma vez por semana. No local, que funciona em horário comercial, fica um escrevente e um investigador, sendo eles os responsáveis pelos registros de ocorrências e investigação.
Segundo a polícia, ao ser questionado pelos médicos, o suspeito de matar a mulher se negou a dar explicações sobre os ferimentos. Em depoimento, ele se manteve em silêncio e não deu sua versão para o ocorrido.
O corpo da mulher estava na cama do casal, coberto com um lençol. A Polícia Militar chegou até o local depois que o homem deu entrada no pronto-socorro da cidade com um ferimento no abdômen provocado por faca. A suspeita é que ela tenha sido morta na terça-feira (12) e que ele mesmo tenha provocado os ferimentos na madrugada seguinte.
“Constatamos que o local estava todo arrumado, sem sinais de luta corporal, aparentemente a casa havia sido limpa, a varanda dos fundos e quintal lavados, restando apenas gotas de sangue na sala, banheiro, cozinha e na varanda dos fundos”, diz trecho do boletim de ocorrência.
Devido ao ferimento, o suspeito foi encaminhado para o hospital Padre Albino, em Catanduva, cidade vizinha, onde passou por cirurgia. Recebeu alta e está preso na cadeia da mesma cidade.
Uma faca com marcas de sangue, que pode ter sido usada no crime, estava na cozinha da residência e foi apreendida.
Vizinhos relataram à polícia que brigas entre casal eram constantes e aconteciam, principalmente, depois que o homem ingeria bebida alcoólica.
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POR SIMONE MACHADO