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Entrevista da Semana
seg. 07 jul. 2025
SECRETARIADO

‘As pessoas que não estão no poder não sabem como a gestão da Cultura é difícil’, diz Taís

De volta à Secretaria Municipal da Cultura após oito anos, Taís Monteiro fala sobre novo momento da pasta.
por Rodrigo Viudes
Secretária de Cultura, Taís Monteiro, em foto oficial de sua segunda passagem pela pasta (Foto: Divulgação)

Em 2012, a artista plástica Taís Monteiro fez sua arte de protesto em um concurso promovido pela Prefeitura de Marília. Em tela, pintou uma mão arranhando a memória do palco de um teatro municipal fechado havia anos.

Ignorada pelos jurados municipais, Taís seria nomeada secretária da Cultura no ano seguinte, na primeira gestão do prefeito Vinicius Camarinha, entre 2013 e 2016, com o desafio de compor a mesma gestão pública que criticou.

“As pessoas que não estão no poder não sabem como a gestão da Cultura é tão difícil”, confidenciou Taís, de volta à administração da Cultura de Marília oito anos depois de sair de cena da política municipal.

Em entrevista ao Marília Notícia, a única remanescente do primeiro escalão do primeiro governo de Vinicius compara as realidades da gestão da Cultura em menos de 10 anos e repete sua análise sobre o orçamento da pasta.

A secretária ainda explica o que tem sido feito para que o Espaço Cultural e o Museu Histórico Pedagógico, atualmente fechados, possam ser reativados e expõe o que pensa sobre um eventual retorno dos desfiles de escolas de samba.

Artista plástica, escritora, coreógrafa e advogada de profissão, Taís Vanessa Monteiro é casada e tem três pets. A eterna musa da Bagunça do Circo ainda reserva tempo para animar a garotada, vestida da personagem Frozen.

* * *

MN – Como foi o convite feito pelo prefeito para seu retorno à Secretaria da Cultura?

Taís Monteiro – Em abril do ano passado, nas festividades de aniversário da cidade, ele entrou em contato e disse que a população estava pedindo o retorno dele. Mas, como deputado estadual, não sabia se voltaria ou não, e gostaria que eu fosse gestora na Cultura. Eu sou advogada de carreira e, para deixar o escritório, precisaria pensar no que Deus estava preparando para mim. Acreditava que não conseguiria conciliar nessa nova etapa. Mas cá estou.

MN – E aí vieram as eleições municipal, o deputado estadual foi eleito prefeito de novo…

Taís Monteiro – Quando ele ganhou as eleições, conversamos, e o que ele me disse fez toda a diferença na minha vida. Ele falou que tinha voltado porque tinha uma missão dada por Deus: cuidar, com muito carinho e afeto, das pessoas, principalmente das mais carentes. Isso vai ao encontro da missionária que existe dentro de mim. Eu sou evangélica e tenho muito claro que estamos aqui para servir, não para ser servidos.

Taís Monteiro assina nomeação em solenidade de posse do secretariado, em janeiro (Foto: Divulgação)

MN – Além de secretária de Cultura pela segunda vez, a senhora também é advogada. Em que especialidade atua?

Taís Monteiro – Atuo em Direito de Família. É uma área maravilhosa porque você pode dar suporte jurídico a quem precisa. Comecei uma pós-graduação em Direito Previdenciário, mas, ao ser chamada de volta à Cultura, acabei deixando.

MN – Como a senhora acompanhou a Cultura em Marília nos oito anos entre sua saída em 2016 e o retorno em 2025?  

Taís Monteiro – Por conta da advocacia, acabei não acompanhando a Cultura na cidade, mas continuei fazendo arte, participando de eventos como artista plástica. Fui a vários concursos e tive a grata satisfação de conhecer pessoas maravilhosas dentro do meu segmento. Conquistei algumas premiações fora do país.

Taís Monteiro em exposição de artes com um de seus quadros, em 2022 (Foto: Divulgação)

MN – O seu sucessor na Cultura, o professor André Gomes, ocupou sua cadeira até que voltasse a ocupá-la. Como reencontrou a secretaria?

Taís Monteiro – O André Gomes é uma pessoa muito intelectualizada. Eu volto agora e vejo que houve avanços nas políticas públicas, principalmente após a pandemia, que ainda entristece a gente, mas ajudou nesse olhar para os artistas, que precisam sobreviver da arte. As leis Paulo Gustavo, Aldir Blanc e o plano nacional de cultura são reflexos disso.

MN – Fontes de recursos que não existiam em sua primeira passagem pela secretaria de Cultura…

Taís Monteiro – Volto numa situação bem diferente, em que as políticas públicas estão ganhando um espaço muito maior. Este retorno tem sido um grande desafio. Como eu não havia trabalhado com essas novas leis, precisei aprender rapidamente. Quando cheguei, havia um recurso que precisava ser viabilizado, com edital já lançado. Corremos para garantir o pagamento desses projetos. Na gestão de 2013 a 2016, era só o recurso do orçamento municipal.

Taís Monteiro e o prefeito Vinicius Camarinha em reunião na Secretaria de Estado da Cultura, em 2014 (Foto: Divulgação)

MN – Orçamento que continua um dos menores comparado ao de outras secretarias. Como viabilizá-lo diante das necessidades das políticas públicas desenvolvidas pela Cultura?

Taís Monteiro – O plano nacional de Cultura nos traz um viés diferente, porque quem conduz as iniciativas é a sociedade civil. Temos participação como poder público, mas não podemos escolher o projeto que queremos implantar. As audiências públicas deliberam sobre o que será feito. É diferente de um plano de governo, onde se atende aos anseios da população. Aqui desenvolvemos os projetos e as aspirações dos nossos artistas.

MN – Diante da realidade financeira da Cultura, como a senhora tem feito para colocar em prática o plano do novo governo?

Taís Monteiro – Além do plano impresso, fazemos reuniões de secretariado. Conversamos sobre acertos e dificuldades. Nossa maior dificuldade é orçamentária. O dinheiro previsto para este ano é do governo anterior, que não sabia as necessidades do atual. Ainda assim, para democratizar o acesso à cultura, retomamos programas que deram certo, como o Cinema no Bairro. Um projeto maravilhoso onde as famílias se reencontram.

Taís Monteira caracterizada de Bela para o Cinema no Bairro, que reativou da gestão anterior (Foto: Pedro Matos/Cultura)

MN – Inclusive a Noite a Viola também voltou aos palcos da cidade…

Taís Monteiro – A Noite da Viola é um encontro de almas que tínhamos na gestão anterior, junto com a Orquestra Viola Caipira. Quando voltei, a orquestra não existia mais. Faltou apoio, os violeiros foram desestimulados, não tinham nem espaço para ensaiar. Conseguimos um local e a orquestra voltou. Temos muitos projetos para resgatar, como a Sexta Gospel, que será o Graça na Praça. Estamos aguardando orçamento.

MN – Por falar no Espaço Cultural, ainda poderá ser reativado?

Taís Monteiro – É o que esperamos. A cessão de uso da União estava vencida. Pedimos a renovação e a transferência desse patrimônio para Marília, o que facilitaria conseguir uma emenda para revitalizá-lo. Por enquanto, esbarramos na burocracia documental, mas estamos trabalhando nisso.

MN – E o Museu Histórico Pedagógico? Quando voltará a ficar acessível ao público?

Taís Monteiro – O museu está lá, mas fechado. A reforma da gestão anterior não o deixou adequado. Temos problemas de telhado, encanamento, acessibilidade. Conseguimos uma emenda de R$ 750 mil com a deputada [estadual] Márcia Lia (PT). A prioridade é instalar um elevador de acessibilidade. Muita coisa acontece no piso superior, como o coral da associação de deficientes visuais.

Complexo Braz Alécio passará por nova reforma para reabertura do Museu Histórico Pedagógico (Foto: Divulgação)

MN – Quantos projetos o plano nacional de cultura tem alcançado em Marília?

Taís Monteiro – Em 2024, tivemos mais de 400 projetos inscritos e 100 contemplados. É uma pena que 300 tenham ficado de fora, mas Marília tem um enorme potencial. Só não temos orçamento para tudo. Esses 300 projetos ainda podem ser apresentados em novas oportunidades.

MN – Como é ver tantos colegas artistas sem recursos para desenvolverem suas expressões artísticas?

Taís Monteiro – Quando você entra numa pasta como a Cultura, quer fazer tudo. Mas o orçamento é curto e gera frustração. De fora, parece simples. Aqui dentro, vemos as dificuldades do governo. Ainda assim, nossos artistas seguem se aperfeiçoando e nossa população recebe arte, se inspira, e novos talentos surgem.

MN – Com tantas expressões artísticas em Marília, como a Cultura poderia contribuir na inserção dos interessados em cada uma delas?

Taís Monteiro – Essa pauta tem sido trazida nas audiências públicas. Não conhecemos todos os nossos artistas, não temos credenciamento. Vamos começar as conferências e a eleição do Conselho de Cultura. Precisamos criar mecanismos para divulgar, inclusive para quem não tem acesso às redes sociais. É um caminho que precisamos percorrer.

MN – A Cultura tem ocupado novos espaços públicos em Marília. Um exemplo é a avenida das Esmeralda, aos domingos…

Taís Monteiro – É uma inovação que já virou tradição. A Cultura está lá com exposições artísticas. Queremos fazer um circuito em Marília e nos distritos. Temos artistas, bons projetos, vontade de trabalhar. Precisamos manter os pés no chão e não deixar dívidas.

Avenidas das Esmeraldas é novo espaço cultural de Marília no Domingo da Família (Foto: Divulgação)

MN – Lembrando que há espaços vinculados à própria secretaria onde há programação durante o ano todo, não?

Taís Monteiro – Sim, temos a Biblioteca Municipal, com atividades constantes e a Janela Literária mensal. O Teatro Municipal, que em junho recebeu mais de seis mil pessoas, a Galeria de Artes, o Museu de Paleontologia, os pontos MIS e o Clube de Cinema, além da banda marcial.

MN – Falando em banda marcial, quais é o projeto da Cultura para este equipamento público municipal que completou 30 anos de criação em 2025?

Taís Monteiro – É preciso reestruturação. Quando voltei, vi poucos alunos. Estamos com inscrições abertas para atrair os jovens. Os uniformes são novos, mas precisamos de instrumentos. Já falei com o prefeito, que sinalizou positivamente. Precisamos aguardar o momento certo.

Banda Marcial Cidade de Marília terá apoio para reestruturação, segundo Taís Monteiro (Foto: Pedro Matos/Cultura)

MN – Marília já sediou grandes festivais de cinema. Como a Cultura poderia contribuir para que esse evento possa retornar grande como já foi, na programação oficial da cidade?

Taís Monteiro – Essa vontade existe desde a gestão anterior do Vinicius. Sempre esbarramos no orçamento. Mas com as leis de incentivo, quem sabe? Em setembro teremos um Festival de Curtas promovido pelo Clube de Cinema. Temos grandes chances de resgatar essa parte da história.

MN – Marília não tem mais desfiles de escolas de samba desde 2010. A senhora acredita que ainda é tempo para a avenida Sampaio Vidal virar passarela?

Taís Monteiro – Acho que Marília não está mais nesse momento. As comunidades fazem eventos carnavalescos nos bairros com trios elétricos. Vejo um novo formato de carnaval. Acho difícil o retorno dos desfiles, mas estamos abertos a propostas.

Retorno do desfile de escolas de samba está fora do radar da atual gestão da Cultura em Marília (Foto: Divulgação)

MN – A Agência Nacional de Cultura, Empreendedorismo e Comunicação  (Ancec) premiou Marília com um selo nacional. Qual a importância deste reconhecimento para a Cultura local?

Taís Monteiro – A Ancec pesquisou 100 cidades e Marília ficou entre as cinco de São Paulo com esse selo. Avaliaram as atividades culturais pelas redes sociais. Destacaram nosso Museu de Paleontologia, teatro, biblioteca, feira literária, Galeria de Artes, banda marcial e projetos nos bairros. Esse reconhecimento de fora nos fortalece e mostra que nosso trabalho está sendo visto.

Taís Monteiro e o selo nacional de Cultura recebido pelo município (Foto: Divulgação)

MN – Ser secretária de Cultura é ser artista de gestão?

Taís Monteiro – Minha experiência me favorece. Fui animadora infantil, professora de dança, coreógrafa, tentei ser modelo, cantora, miss, artista plástica e escritora. Essa bagagem me dá sensibilidade para atuar na secretaria. Tenho amor pela arte e pelo artista. Me coloco no lugar deles.

MN – Melhor estar secretária ou ser artista?

Taís Monteiro – Estando secretária, vejo que o mundo não vive só da arte. A gestão tem seus desafios e prioridades. As pessoas que não estão no poder não sabem como a gestão da Cultura é tão difícil. Eu queria dividir uma experiência que me fez entender isso.

MN – Qual foi?

Taís Monteiro – Em 2012, eu nunca pensei em estar secretária, nem ser funcionária pública. Queria ser advogada e artista plástica. Houve um concurso em que os artistas tinham o desafio de retratar alguma pessoa, personalidade ou espaço público. E o Teatro Municipal estava fechado. O que eu fiz? Pintei uma mão abrindo uma cortina. E em cima do palco era o próprio Teatro Municipal. Como uma cidade linda estava sem teatro? Eu não recebi nenhuma premiação nem menção honrosa, mas o pessoal da imprensa me procurou bastante (risos). Isso aconteceu, como disse, em 2012. No ano seguinte, fui convidada para assumir a Cultura. E aí eu descobri sabe o quê? Que pintar é tão fácil… E o problema do teatro caiu no meu colo. E não foi pouco. A política tem seus próprios mistérios. Não é só correr atrás para resolver. Tem muita gente que luta contra. É tão burocrático e tão difícil para que as coisas aconteçam. Mas, aconteceu. Com muito esforço, muitas viagens, muito chororô, conseguimos reinaugurar o teatro. A minha pintura virou realidade.

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