Se tem uma atração que, para mim, é certeza de sucesso garantido é filme com Clint Eastwood. O velho cowboy, que no último dia 31 de maio chegou aos 93 anos de idade, sempre esteve em produção cinematográfica de ponta e que agrada público de todas as idades.
Além de navegar por quase todos os gêneros – posso estar enganado, mas Eastwood só não rodou terror, contudo, filme místico, sim. ‘Cartas de Iwo Jima’, produzido junto com ‘A conquista da honra’ e falado em japonês, teve direção assinada por Clint, que ao longo de sua longeva trajetória recebeu precocemente em 1988 um troféu Cecil B. DeMille (concessão dos críticos de cinema do Globo de Ouro) pelo conjunto da obra.
Entretanto, nos anos seguintes, e a partir de 1992, pelo menos outras 4 importantes estatuetas do Oscar viriam para o ‘durão’ que deu vida ao detetive Dirty Callaham (de ‘Perseguidor Implacável’ a ‘Dirty Harry na lista negra’). Foram prêmios pelos memoráveis ‘Os imperdoáveis’ – Melhor Filme e Melhor Diretor de 1993 – e ‘Menina de Ouro’ – Melhor Filme e Melhor Diretor de 2005.
A própria Academia de Cinema, responsável pelo Oscar, queimou a largada ao lhe conceder um troféu pelo conjunto da obra, isso em 1995. Depois daquele ano viriam pelo menos outros 6 longas emblemáticos de Clint Eastwood: o próprio ‘Menina de Ouro’, mas ainda ‘Sobre Meninos e Lobos’, com Sean Penn, ‘A conquista da honra’, ‘Cartas de Iwo Jima’, ‘Invictus’ [que se passa na África do Sul, tendo Nelson Mandela vivido por Morgan Freeman] e, mais recentemente, o belo ‘Cry Macho’.
Lembro que nos meses que antecederam a chegada do meu primeiro filho – isso há 18 anos – estava para estrear em Marília ‘Menina de Ouro’. Naquele tempo, havia ainda locadoras de DVDs, que substituíram as locadoras de VHS, hoje todas extintas em consequência da internet de banda larga e dos serviços de streaming.
O streaming visual literalmente colocou o cinema com estreia mundial dentro do ambiente doméstico. Então, decidi, depois do meu expediente na redação de um jornal impresso de circulação diária, fazer uma ‘série’ em homenagem ao bom e sábio Eastwood. Sempre passava na locadora que ficava na rota da volta de casa e alugava um filme dirigido, ou estrelado, por ele.
Comecei por ‘Dívida de sangue’, um longa em que o personagem principal vivido por Eastwood passa por um transplante de coração e o destino lhe reserva uma missão. Depois fui revendo os clássicos do western que ele estrelou, como a trilogia dirigida por Sérgio Leone onde ele viveu um personagem sem-nome. ‘Na linha de fogo’, outro filme do gênero policial, traz uma pequena mostra do pianista Eastwood, que também assinou algumas trilhas de suas produções.
Em ‘Cartas de Iwo Jima’ um soldado do exército japonês que está na batalha da II Guerra Mundial na ilha de mesmo nome é poupado por seu general do último combate. É poupado justamente para que possa ser o guardião das correspondências de seus companheiros. Cartas estas escritas no front para as mães, pais, esposas, namoradas, filhas, filhos e amigos. É poupado para que os demais companheiros possam ter a certeza que suas mensagens chegarão aos destinatários. Aliás, destinatários por quem justificavam ter colocado suas vidas nas trincheiras.
O cinema registra sentimentos, reconta histórias e nos leva à reflexão, ao sabor do amor e também da dor. Estão para ser lançadas no Brasil duas super produções: ‘Assassinos da lua das flores’, de Martin Scorcese – com o ator Leonardo DiCaprio – e ‘Napoleão’, de Ridley Scott – com Joaquin Phoenix, de ‘Coringa’. Ambos obras cinematográficas são inspiradas em fatos reais e cruciais para a história do mundo.
No caso do primeiro, trata-se de uma releitura digna de parte do que foi a conquista do Oeste americano. Quanto ao segundo, é a biografia do homem que, para muitos, obrigou o mundo a se modernizar, ainda que pelo aspecto bélico: Napoleão Bonaparte.
Quando estive no Cairo, na base das pirâmides do Egito, o guia apontou para a maior delas e disse: ‘Olha ali, bem lá em cima, estão vendo aquele buraco? Então, aquele buraco ali quem fez foi Napoleão com seu canhão’.
No trailer de Ridley Scott passa essa cena, inclusive. Na vida, exatamente tudo passa, porém lembranças, essas, realmente ficam. Nem que sejam as cicatrizes de buracos que as guerras nos fizeram. E se lembramos, é porque sobrevivemos e ainda estamos vivos.
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Ramon Barbosa Franco é escritor e jornalista, autor dos livros ‘Canavial, os vivos e os mortos’ (La Musetta Editoriais), ‘A próxima Colombina’ (Carlini & Caniato), ‘Contos do japim’ (Carlini & Caniato), ‘Vargas, um legado político’ (Carlini & Caniato), ‘Laurinda Frade, receitas da vida’ (Poiesis Editora) e das HQs ‘Radius’ (LM Comics), ‘Os canônicos’ (LM Comics) e ‘Onde nasce a Luz’ (Unimar – Universidade de Marília), ramonimprensa@gmail.com.