Arthur do Val admite que pode sair da disputa a governador
O deputado estadual Arthur do Val (Podemos-SP) afirmou hoje que os áudios em que diz que as ucranianas são “fáceis porque são pobres” são “escrotos” e “machistas”. “Eu estou sendo moleque. Essa não é a postura que as pessoas esperam de mim”, disse em vídeo intitulado “pedido de desculpas” publicado neste sábado, 5, no Youtube. O deputado divulgou o vídeo pouco após desembarcar no aeroporto de Guarulhos, vindo do Leste Europeu. Ele deixou claro ainda que não sabe se vai continuar como pré-candidato ao governo de São Paulo. “Não quero atrapalhar a terceira via, não quero atrapalhar meu partido, não quero atrapalhar ninguém”, completou.
Conhecido como “Mamãe Falei”, Do Val disse, ainda, que aceita ser julgado pelo que falou, mas não “pelo que não fez”: “Tive a experiência mais transformadora que já vivi, vi exemplos de civilidade. Isso está sendo colocado como se eu tivesse ido arriscar minha vida para fazer turismo sexual”.
Segundo ele, os áudios teriam sido enviados para um “grupo de amigos do futebol”, depois de sair da Ucrânia, quando estava na Eslováquia e a “tensão” tinha passado. “O que eu senti naquele momento, eu senti alegria. Comecei a mandar mensagem para todo mundo”, defendeu-se, alegando que mandou áudios “contando vantagem”.
Sem, de fato, pedir desculpas pelo ocorrido, Do Val lamentou que os áudios foram vazados e que as pessoas ouviram. “A gente não tem direito nem à privacidade. Eu fico triste por vocês terem visto isso. É claro que eu não queria que ninguém tivesse visto isso.”
ÁUDIOS
Nas gravações enviadas a um grupo de WhatsApp, Do Val comenta sobre as policiais da alfândega. “Mano, eu tô mal. Tô mal, tô mal. Eu passei agora, são quatro barreiras alfandegárias. São duas casinhas em cada país. Mano, eu juro para vocês, eu contei: foram 12 policiais deusas.. Mas deusa assim que você casa e você faz tudo o que ela quiser”, disse.
Ele também disse que a fila da melhor balada do Brasil “não chega aos pés” da fila de refugiadas na Ucrânia. Arthur do Val viajou à Ucrânia, acompanhado do dirigente do MBL, Renan dos Santos, para relatar o conflito no leste europeu. Durante os últimos dias, o parlamentar utilizou as redes sociais para compartilhar fotos da fronteira e chegou a publicar uma foto na qual afirma estar produzindo Coquetéis Molotov para o exército Ucraniano.
O pré-candidato ao governo também afirmou nos áudios que Renan dos Santos, dirigente do MBL que o acompanhou na Ucrânia, viaja frequentemente para o leste europeu para “pegar loiras”. No pedido de desculpas, o deputado disse que errou e que Renan nunca tinha viajado àquela região.
PODEMOS
As declarações do deputado repercutiram mal na cúpula do Podemos A preocupação é sobre como mais esta polêmica envolvendo um membro do MBL pode recair sobre a pré-candidatura de Sérgio Moro, a quem o grupo se aliou.
O ex-juiz foi duro nas respostas e descreveu o tratamento do deputado com as ucranianas refugiadas e policiais como “inaceitável em qualquer contexto”.
“Jamais dividirei meu palanque e apoiarei pessoas que têm esse tipo de opinião e comportamento. Espero que meu partido se manifeste brevemente diante da gravidade que a situação exige”, afirmou o presidenciável através de nota.
O senador Alvaro Dias (Podemos) também repudiou as declarações de do Val. “Nossa posição é de pedir à executiva nacional uma atitude urgente e rigorosa, de rompimento. Nós não podemos conviver com o inacreditável. Porque é inacreditável alguém que postula cargo de governador de São Paulo dizer bobagens dessa grandeza”, afirmou Dias.
A presidente do Podemos, Renata Abreu, classificou as declarações como “gravíssimas e inaceitáveis”. ” Não se resumem ao completo desrespeito à mulher, seja ucraniana ou de qualquer outro País, mas de violações profundas relacionadas a questões humanitárias, em um momento em que esse povo enfrenta os horrores da guerra”, disse Renata Abreu. Segundo ela, o partido instaurou de imediato um procedimento disciplinar interno para apuração dos fatos.
Além do processo interno no partido, Do Val já é alvo de pedidos de cassação na Assembleia Legislativa de SP e foi denunciado ao Ministério Público.