Arquiteto de Marília sofre racismo e é ameaçado por dono de construtora
O arquiteto Pedro Bonani, de 28 anos, denunciou, no último domingo (5), crimes de ameaça e racismo sofridos por ele durante uma conversa com o proprietário de uma construtora de Marília.
De acordo com o profissional, o representante da empresa TDK Construções e Empreendimentos Ltda, identificado como Carlos Eduardo dos Reis, teria enviado um áudio ameaçando sua integridade física, além de o chamar de “macaco”. “É a primeira vez que isso acontece de forma escrachada”, afirma Bonani.
Ainda segundo Pedro, tudo teria começado há dois anos, quando ele comprou uma casa construída pela empresa, que já apresentava falhas estruturais. “No primeiro dia, o muro do fundo estava começando a apresentar uma trinca. Hoje, ele está praticamente cedendo. A parte elétrica está comprometida, banheiro embolorado e pisos infiltrados”, narra Bonani. “Ainda tem o agravante da minha esposa estar grávida de 5 meses e ter que conviver com esses problemas”, completa.
Antes de cobrar a construtora, ele tentou resolver pela financiadora. “Eles chegaram a enviar um engenheiro, que orçou em R$ 10 mil os serviços necessários. O problema é que eles não poderiam mexer na obra por conta da Anotação de Responsabilidade Técnica”, declara o arquiteto.
RESPONSABILIDADE
A Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) é o instrumento que define os responsáveis pela execução de obras ou prestação de serviços relativos às profissões abrangidas pelo Conselho Federal de Engenharia (Confea) e Agronomia e pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo (Crea-SP), sendo elas Engenharia, Agronomia, Geologia, Geografia e Meteorologia.
De acordo com o Código de Ética do Crea-SP, a ART define a responsabilidade pela solidez e segurança da construção. Pelo Código Civil Brasileiro, o profissional responde pela obra durante cinco anos.
MACACO
Depois de algumas iniciativas, durante dois anos, para resolver o problema com a construtora, Pedro diz que mandou uma mensagem, via aplicativo, de maneira mais contundente, cobrando uma solução. Foi então que o administrador da empresa se alterou por ter sido acionado em um domingo e por ter recebido o pedido para “virar homem” e cumprir com suas responsabilidades.
O empresário afirmou, no mesmo áudio, que a chuva impedia a realização do serviço e ameaçou ir até a casa do arquiteto, para dar “um pau” nele. Por fim, o chamou de “vagabundo” e “macaco”.
“A gente percebe que o racismo é estrutural. Chego em uma obra, é comum ouvir ‘você é o calheiro?’, ou vidraceiro, mas nunca concebem a possibilidade de você ser o arquiteto da obra”, declara Bonani. “Eu quero expor e vou representar contra ele por ameaça e racismo, porque é a forma que eu tenho de proteger a minha família”, finaliza.
OUTRO LADO
O Marília Notícia entrou em contato com Carlos Eduardo dos Reis, que consta como sócio no cadastro de CNPJ da empresa. Ele preferiu se manifestar através de seu advogado.
Em nota, a defesa confirma que trata-se de um “desentendimento passageiro, em razão de negócio imobiliário”. Garante também que não houve qualquer intenção de ofender a honra, ameaçar ou mesmo de cometer o “suposto racismo em face de seu interlocutor”.
Ainda segundo a manifestação em nota, Pedro ligou para Carlos, enquanto o mesmo estava trabalhando, sob um sol escaldante, em uma lavoura de milho. A defesa alega que Pedro estava exaltado e passou a ofender Carlos impiedosamente.
“Portanto, não houve nenhuma intenção de depreciar a imagem ou cor de quem quer que seja, mas sim, um desabafo cheio de forte emoção e tentando repelir a injusta provocação, por via telefônica, que estava sofrendo. O Carlos sempre respeitou e respeitará a todos, independentemente de raça, cor, religião ou credo e certamente tudo se resolverá de forma civilizada e amigável”, finaliza o advogado João Simão.