Após frustração em Tóquio, vôlei brasileiro mira voos mais altos em Paris
O vôlei é, de longe, o esporte coletivo que mais trouxe medalhas para o Brasil na história das Olimpíadas. Ao todo, foram 24 medalhas 13 no vôlei de praia e 11 no vôlei de quadra. Em seguida vem o futebol, com nove, e o basquete, com cinco.
Em Tóquio, contudo, o vôlei brasileiro teve uma das piores campanhas da história recente, voltando com apenas uma prata da seleção feminina. Os homens perderam a disputa do terceiro lugar para a Argentina e não subiram ao pódio pela primeira vez desde Sidney-2000.
Na areia, as duplas brasileiras não ganharam nenhuma medalha no Japão foi a primeira vez que o país não medalhou desde a inclusão da modalidade no programa olímpico, em Atlanta-1996.
Ao longo dos últimos três anos, ainda que com alguns percalços ao longo do caminho, o vôlei brasileiro obteve resultados importantes e conseguiu manter-se como uma das principais forças do esporte, assinala Ney Wilson, diretor de alto rendimento do COB (Comitê Olímpico do Brasil).
“A gente acredita que podemos voltar com até quatro medalhas, duas no vôlei de quadra e duas na areia. Vamos chegar bem competitivos e sair com um resultado bem diferente daquele de Tóquio.”
Durante o último ciclo olímpico, a seleção masculina sagrou-se campeã da Liga das Nações em 2021 e garantiu a vaga em Paris no pré-olímpico com uma vitória suada contra a Itália, atual campeã mundial.
Logo depois de garantir a vaga nos Jogos, o técnico Renan Dal Zotto, que vinha sendo bastante criticado pela torcida, pediu demissão. Bernardinho reassumiu o cargo em seu lugar.
Na primeira competição sob o novo/velho comando, na Liga das Nações, a equipe perdeu nesta quinta-feira (27) para a Polônia, atual líder do ranking, caindo diante de uma das adversárias em Paris, ao lado de Itália e Egito.
Embora o grupo seja considerado um dos mais difíceis da primeira fase, o campeão olímpico em Atenas-2004 e vice em Pequim-2008 André Heller diz que a equipe brasileira é bastante qualificada e que a expectativa para Paris é a melhor possível.
“O Brasil conta com atletas experientes e jovens, atacantes de força que atacam também bolas rápidas, atacantes de bolas rápidas que têm recursos para enfrentarem bloqueios triplos, além de contar com um sistema defensivo saque, bloqueio e defesa muito forte”, afirma o ex-central da seleção à Folha.
“Temos atletas que podem desempenhar as mais variadas funções na equipe, o que dá ao Bernardinho a possibilidade de escolher a melhor estratégia a depender das características do adversário”, acrescenta Heller, que vê o Brasil como um dos favoritos em Paris.
FORÇA DO GRUPO É DIFERENCIAL DA SELEÇÃO FEMININA, DIZ VICE-CAMPEÃ OLÍMPICA
A seleção feminina, por sua vez, alcançou o vice-campeonato mundial em 2022, perdendo a decisão para a Sérvia, e seguiu sem vencer a Liga das Nações na edição deste ano da competição, perdeu nas semifinais para o Japão, e a decisão do terceiro lugar para a Polônia, duas das adversárias na fase de grupos dos Jogos, junto com o Quênia.
Vice-campeã olímpica em Tóquio, Carol Gattaz reconhece que as jogadoras brasileiras terão bastante trabalho pela frente em busca do terceiro ouro olímpico.
“O Brasil sempre encontra dificuldades contra o Japão, elas defendem muito bem contra a gente. E a Polônia é um time super bem dirigido pelo Stefano Lavarini”, afirma Gattaz, que trabalhou com o técnico da Polônia entre 2017 e 2019 no Minas.
Segundo a central – que está fora de ação desde março do ano passado devido a uma lesão -, a força do grupo é uma das principais armas do time comandado por José Roberto Guimarães.
“Não temos uma jogadora que decide, então são várias jogadoras que têm que dar seu máximo na defesa, no bloqueio. O volume de jogo é um dos principais fundamentos do Brasil”, afirma Gattaz. “Nosso time não é um dos mais altos, muito pelo contrário, então a gente foca muito no grupo.”
A jogadora, que assinou em junho com o Praia Clube, diz que as atletas da seleção sabem que, para chegar ao ouro olímpico, será preciso aprimorar todos os fundamentos do jogo. “A relação bloqueio-defesa, o passe, os ataques, enfim, todos os fundamentos precisam ser perfeitos para jogar contra seleções que realmente são fortíssimas. Acho que ainda falta um pouquinho, não só para o Brasil, mas para todas as seleções.”
Segundo Gattaz, “conhecendo o grupo, o trabalho da comissão técnica, o foco de cada jogadora que está representando o Brasil, tenho certeza que temos tudo para buscar o ouro olímpico.”
Em um momento de renovação das seleções, Ney Wilson, do COB, exalta a figura dos treinadores Bernardinho e José Roberto Guimarães. “Eles conseguem extrair todo o potencial dos nossos atletas, sabem muito bem como trabalhar os grupos para chegarem competitivos nos Jogos.”
DUPLA LÍDER DO RANKING É FAVORITA AO PÓDIO EM PARIS
No vôlei de praia, após a decepção em Tóquio, o Brasil chega como um dos favoritos a medalha, em especial no feminino, diz o diretor do COB. “Chegamos bem mais fortes do que em Tóquio.”
A dupla formada por Ana Patrícia e Duda lidera o ranking mundial, tendo conquistado o campeonato mundial em 2022 e batido na trave em 2023, quando foram vice-campeãs.
Juntas no profissional há cerca de dois anos, as duas jogadoras têm um longo histórico desde a base – foram campeãs nos Jogos Olímpicos da Juventude, em 2014, e do mundial sub 21, em 2016. Nos Jogos Pan-Americanos de Santiago, em 2023, também subiram ao lugar mais alto do pódio.
A segunda dupla feminina do Brasil, formada por Carol Solberg e Bárbara Seixas, é a quinta do ranking, e também vem em um bom momento nas areias venceram em março, pela primeira vez, uma etapa de elite do circuito mundial (Elite 16), no Qatar, e ficaram com o bronze no México, em abril, quando carimbaram a vaga para Paris.
Entre os homens, André e George estão em segundo no ranking mundial e vêm de uma prata na etapa mexicana do Elite 16 e do ouro no Pan de Santiago, enquanto Arthur Lanci e Evandro estão na oitava posição, tendo faturado a etapa de Brasília do circuito mundial.
“No masculino, há certa alternância de resultados, que ainda não estão tão consolidados, mas nossas duplas também mostram potencial para chegarem a uma medalha olímpica”, afirma o diretor do COB.
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POR LUCAS BOMBANA