Ano Novo começa com fim do prazo para camelôs sobre trilhos

O prazo para desocupação do antigo pátio ferroviário, na região central de Marília, termina nesta quinta-feira (1º), por determinação da Justiça local. A decisão atinge os camelôs instalados no espaço e atende a uma ação de reintegração de posse movida pela concessionária ferroviária Rumo Logística, que tramita em segredo de Justiça.
De acordo com a decisão judicial, as poucas lojas que ainda funcionam no local puderam atender clientes apenas até esta quarta-feira (31). Os comerciantes devem retirar mercadorias e desmontar os boxes até amanhã. Durante visita da reportagem na terça-feira (30), foi possível observar a retirada de diversas estruturas.
No auge da ocupação, cerca de 110 camelôs atuaram no local. A manutenção da decisão ocorreu em audiência realizada no início de dezembro, com a participação de representantes dos vendedores, da Rumo Logística e da Prefeitura de Marília. Na ocasião, houve acordo prevendo o pagamento de indenizações.
O Marília Notícia apurou que o valor pago foi de R$ 17 mil por comerciante, mas não foram divulgados os critérios para definir quem teria direito ao recebimento. Camelôs ouvidos pela reportagem afirmam que não receberam qualquer valor e relatam incertezas quanto ao futuro, além de não descartarem recurso na Justiça.
Shirlei Prado, de 66 anos, que mantinha uma loja de roupas usadas, afirmou não ter sido indenizada. “A gente sabia que isso ia acabar acontecendo um dia, né? Mas não assim dessa maneira, de alguns recebendo e outros não. Eu acho que Marília é muito grande, teria que ter um lugar, porque a gente quer trabalhar”, disse.

Luiz Sérgio dos Santos, de 55 anos, relatou situação ainda mais delicada. Ex-morador de prédios da CDHU, ele utilizava o boxe tanto para trabalhar com impressão de roupas em tela quanto como moradia. Segundo ele, também não houve pagamento. “Não tenho para onde ir. Estou desesperado, contando com os recursos prometidos para ir para um lugar melhor”, declarou.
Entre os comerciantes que afirmam ter recebido a indenização está Rogério Barbosa, dono de uma loja de roupas com temática hip-hop e skate, localizada de frente para a rua Nove de Julho. Ele confirmou o recebimento dos R$ 17 mil, mas disse que a decisão foi tomada sob pressão.

“Eu consegui pegar o dinheiro sem minha vontade. Porque ou eu pego ou fico sem nada”, afirmou. Sobre o impacto entre os vendedores, acrescentou: “o pagamento da indenização para uns e não para outros deu uma dividida no pessoal.”
Procurada, a Prefeitura de Marília informou apenas que realizou o depósito do valor acordado em juízo, sem especificar o montante total nem os critérios adotados. A reportagem também tentou contato com o advogado que representa os camelôs, mas não obteve retorno até a publicação.

Em nota enviada por sua assessoria de imprensa, a Rumo Logística declarou que realiza monitoramento contínuo das faixas de domínio ferroviário. “Quando identificadas ocupações irregulares, são emitidas notificações extrajudiciais para desocupação voluntária e, se necessário, adotadas medidas judiciais para a regularização das áreas”, informou a concessionária.
Com o prazo judicial se encerrando no primeiro dia de 2026, o antigo camelódromo do pátio ferroviário entra em seus últimos momentos de funcionamento, em meio a incertezas, divergências sobre indenizações e relatos de comerciantes que ainda não sabem para onde irão após a desocupação.