Amigo diz que condutor do Porsche bebeu; grupo consumiu nove drinques
O estudante Marcus Vinicius Machado Rocha, 22, afirmou em depoimento que o empresário Fernando Sastre de Andrade Filho, 24, condutor do Porsche que bateu na traseira de um Sandero e causou a morte do motorista de aplicativo Ornaldo da Silva Viana, 52, bebeu antes do acidente, na madrugada de 31 de março.
Rocha está internado no Hospital São Luiz Anália Franco, no Tatuapé, na zona leste de São Paulo, desde o acidente. O jovem passou por duas cirurgias, uma para retirada do baço e outra para controlar água no pulmão, e teve alta da UTI na noite de terça (9).
Ele está no quarto e, nesta quinta (11), afirmou à polícia que bebeu com Fernando no bar Porchetteria Gastronomia & Cocktail, também no Tatuapé. Na ocasião eles estavam com suas respectivas namoradas e depois seguiram para uma casa de pôquer.
Segundo Rocha, o motivo da briga que Fernando teve com a namorada antes do acidente foi pelo fato de que o amigo estava sem condições de dirigir.
Em nota, os advogados do jovem afirmam que ele responde bem aos tratamentos e que, agora, cabe às autoridades policiais avaliarem a necessidade de eventuais esclarecimentos complementares. A previsão é que ele receba alta hospitalar nesta sexta-feira ou sábado.
A Folha teve acesso ao inquérito policial do caso, que ainda está em andamento. No documento, a polícia afirma que câmeras do bar no Tatuapé registraram a presença do grupo no local.
Na comanda obtida pela polícia estão listados oito drinques chamado Jack Pork -feito com uísque, licor, angostura e xarope de limão siciliano-, além de uma capirinha de vodca. Também foi consumida uma água, um torresmo, um bolinho de costela, um hambúrguer e outros dois salgados. O total gasto foi de R$ 620.
No inquérito é dito que ainda não é possível confirmar se há imagens de Fernando ingerindo bebida alcoólica, mas que existe, sim, a possibilidade de que ele tenha consumido álcool.
“Ainda não podemos confirmar se existem imagens do investigado consumindo bebida alcoólica, tendo em vista o curto tempo que tivemos para analisar de forma minuciosa todo o tempo de filmagem de todas as câmeras. O que se constatou até o momento é que realmente FERNANDO esteve no referido BAR e o que apuramos é de existir SIM a possibilidade dele ter consumido bebidas contendo álcool”, diz o inquérito.
O documento então expõe imagens extraídas das câmeras de forma cronológica, “deduzindo que tanto FERNANDO como seus acompanhantes ingeriram bebidas alcoólicas pelos tipos de copos que foram retirados pela atendente”.
O inquérito aponta falhas no circuito de câmeras do bar. Segundo o documento, o proprietário do estabelecimento avisou os policiais que alguns equipamentos “estão em reparo” ou “não estão funcionando há mais de 40 dias” e que outras câmeras “estão em pleno funcionamento e outras devido ventos e chuvas acabam desfocando ou até mesmo mudando de posições”.
“(…) confirmamos através do manuseio do HD (gravações) que algumas realmente estão inoperantes há mais de 30 dias, outras desfocadas e outras fora de posição, conforme declinado pelo proprietário, deixando assim a equipe confiante e ciente que o proprietário além de ter sido solícito, não deixou de colaborar”, acrescenta o inquérito.
A polícia solicita que os funcionários do restaurante que atenderam a mesa em que Fernando estava sejam ouvidos para esclarecer se ele consumiu bebida alcoólica. Além disso, três testemunhas do acidente que foram ouvidas nos dias 9 e 10 de abril afirmam que Fernando estava com semblante embriagado e cambaleava ao andar.
Duas delas relatam que o viram vomitar. Uma afirma que ele não conseguia se levantar sozinho, e outra disse que ele estava com os olhos vermelhos.
Uma testemunha conta que pessoas que prestaram socorro viram Fernando sendo retirado do local e alertaram os policiais. Neste momento, as autoridades foram até o empresário, o fizeram retornar e pediram seus documentos.
A namorada buscava os documentos de Fernando, que segundo a testemunha “não conseguia nem parar em pé e tampouco responder onde estava a carteira”. Logo depois os policiais conversaram com Fernando e ele foi liberado.
Após o acidente, o condutor do Porsche deixou o local no carro de sua mãe, Daniela Cristina de Medeiros Andrade, e não fez o teste do bafômetro.
O Ministério Público afirma que a mãe do motorista do Porsche atrapalhou as investigações e pediu abertura de inquérito para apurar a conduta dos policiais militares que liberaram o suspeito antes de saber se ele estava sob efeito de álcool.
DEPOIMENTOS
Juliana de Toledo Simões, namorada de Rocha, prestou depoimento à Polícia Civil no último dia 3 e afirmou que Fernando foi aconselhado a não dirigir por estar um pouco alterado.
De acordo com a advogada de defesa de Fernando, Carine Acardo Garcia, a depoente se referiu à discussão que ele teve com a namorada, que por isso estava “alterado”.
Já Giovanna Silva, namorada de Fernando, disse em depoimento na última terça que ele não bebeu na noite do acidente. Afirmou que os dois namoram há oito anos e têm um combinado de que quando um bebe o outro não consome bebida alcoólica. Disse também que o namorado não bebeu nada alcoólico porque não gosta de beber enquanto joga para não perder a atenção.
A jovem afirmou ainda que pediu para ir embora, mas que Fernando não queria porque estava ganhando. Ela insistiu até que ele concordou, ficando “bastante alterado e irritado, iniciando uma forte discussão, por também se irritar com facilidade”, segundo trecho do relato do depoimento.
Em seu depoimento à polícia, Fernando afirmou não ter consumido bebida alcoólica antes do acidente e disse estar um pouco acima da velocidade permitida na avenida quando bateu. Imagens da câmera de segurança de um posto de gasolina próximo ao local do acidente mostram o carro de luxo trafegando muito acima da velocidade de outros veículos.
POR ISABELLA MENON