América do Sul é novo epicentro mundial da pandemia
Com o Brasil com quase 60% do número de casos e mortes na região, a América do Sul é um novo epicentro da covid-19, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Ontem, o País chegou à marca de 21.048 mortos e 330.890 infectados pelo novo coronavírus. O Brasil registrou 1.001 novas mortes em 24 horas, segundo o balanço mais recente do Ministério da Saúde. De quinta para sexta, houve registro de 20.803 novos casos de infecção. Em óbitos, o País só está atrás dos Estados Unidos.
Até ontem, o Brasil respondia por 57,2% dos 578.329 infectados na região e por 71,8% dos 28.318 mortos. O diretor do programa de emergências da OMS, Michael Ryan, destacou que o País é o local mais afetado da região, e alertou para a situação específica de alguns locais, como o Amazonas, que registra uma das maiores taxas de incidência. O Estado possui 612 infectados a cada 100 mil habitantes, número inferior apenas ao do Amapá (613,4), segundo o Ministério da Saúde. A taxa de incidência nacional da covid-19 está na faixa de 150. Especialistas internacionais, como os do Imperial College, já apontam o Brasil como o principal ponto de difusão da doença.
Para Nacime Salomão Mansur, superintendente da Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM), entidade responsável pela administração de parte dos leitos do Hospital de Campanha do Anhembi, na capital paulista, o número de casos e de mortes assusta, mas era esperado. “O que estamos vivendo agora acontece pelas grandes densidades populacionais, por grande parte da população se manter sem o isolamento social e pela nossa péssima distribuição de renda”, comentou.
Segundo ele, a crise demorou a avançar até por algumas decisões governamentais. “Falando especificamente sobre São Paulo (epicentro brasileiro da doença), o Estado de certa maneira cumpriu com o papel na tentativa de achatar a curva a tempo de aumentar o número de leitos hospitalares”, acrescentou.
O total de pessoas mortas por covid-19 em São Paulo cresceu 3,8% em 24 horas, chegando a um total de 5.773 óbitos, segundo a Secretaria Estadual da Saúde. Foram mais 215 óbitos. O total de casos confirmados da doença aumentou de 73.793 para 76.871 em 24 horas. Ao todo, 74,7% dos leitos em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) que foram reservados para pacientes infectados pelo novo coronavírus estão ocupados. Na Grande São Paulo, a situação é ainda mais próxima da lotação: 91,4% das vagas já estão preenchidas.
E os dados de ontem reforçam tendência já divulgada pelo governo, de avanço da doença pelo interior do Estado: dos 645 municípios de São Paulo, 500 têm registro da doença. “O vírus continua se espalhando e já alcança o equivalente a 77,5% do território”, informa a nota oficial do Estado.
Estrutura. Mario Rubens Vianna, presidente do Sindicato dos Médicos do Estado do Amazonas, diz que não aguenta mais pedir ajuda para o governo federal para minimizar a crise. “Já disse inúmeras vezes que o Brasil deveria ter alguma preocupação especial com o Amazonas pela extensão territorial e pelo acesso difícil a muitas cidades. Já tínhamos uma saúde pública precária antes da pandemia. Imagina agora…”
O principal problema no momento, segundo ele, está na dificuldade em atender à população das cidades do interior. “Em muitos municípios afastados não há saúde pública de nível mínimo, falta qualificação dos profissionais, é uma tragédia. A consequência disso é a superlotação dos hospitais da capital. A população dessas cidades menores migra em busca de atendimento.”
Saídas
Para especialistas, o cenário de contenção da epidemia envolve manter ou ampliar restrições. Mansur prefere aguardar os números da próxima semana, antes de dizer se o lockdown (bloqueio total) seria o próximo passo a ser dado para tentar tirar o País do epicentro da pandemia. “Os feriados prolongados (em São Paulo) foram interessantes, vieram a calhar. Foi uma forma inteligente de melhorar o isolamento social. Se na próxima semana for mantido a crescente no número de casos, vai ser necessário (o lockdown). Mas o mais importante agora é começar a fazer testagem em larga escala.”
A presidente do Conselho Regional de Medicina de São Paulo, Irene Abramovich, também menciona a testagem como uma forma de ter a dimensão da pandemia no País e conseguir salvar vidas. “Não vou dizer que (a pandemia) pegou a gente de surpresa, mas chegou muito rápido.”