Alunos da Famema fazem protesto e pedem respostas
Dezenas de alunos da Famema realizaram uma manifestação em frente ao prédio onde funciona a faculdade, que ficou cheio de cartazes de protesto e reivindicações.
Eles reclamam de várias questões envolvendo um suposto subfinanciamento e precarização da instituição. Críticas a autarquização concluída no ano passado também foram feitas.
A manifestação foi aprovada em assembleia do movimento estudantil realizada no dia 4 de outubro. Eles cobram esclarecimentos da diretoria sobre repasses de recursos e sobre o futuro das vagas de estágio, por exemplo.
Em uma carta aberta dos estudantes para a comunidade mariliense, direção da faculdade e superintendência do complexo hospitalar, eles apontam que o Complexo Famema vive “uma realidade do subfinanciamento da instituição há muitos anos”.
“Para piorar, desde 2015, tivemos cortes significativos em nosso hospital, com diminuição do número de leitos para internação, redução das cirurgias, atendimentos de urgência somente para pacientes referenciados pelos Pronto-Atendimentos, etc”, diz o documento.
Segundo os estudantes, “é alarmante” a falta de materiais, recursos humanos e até medicamentos básicos.
Para eles, esses fatos comprometem a qualidade do atendimento e prognóstico dos pacientes, “bem como deteriora o ensino oferecido aos futuros profissionais da saúde”.
A crise também prejudica biblioteca e os laboratórios, que exigem melhorias, segundo os alunos.
AUTARQUIZAÇÃO
Apesar das reclamações apontadas, a principal queixa dos alunos diz respeito a autarquização do Complexo Famema, que no primeiro semestre foi anunciada pela direção como solução para os problemas da instituição.
Na época, foi noticiado que a nova nova personalidade jurídica daria mais autonomia à gestão. A instituição também seria vinculada à Secretaria de Estado da Saúde, o que poderia aumentar o orçamento.
Antes a unidade de ensino da Famema e suas unidades assistenciais (HC I – Unidade Clínico-Cirúrgica, HC II, Unidade Materno Infantil, HC III – Unidade São Francisco e Hemocentro) eram ligadas à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo.
Com a autarquização, a parte de ensino segue com o vínculo de antes, enquanto a assistência foi para a Secretaria de Estado da Saúde.
No entanto, os alunos apontam que a mudança “hoje se revela como saída inócua frente aos problemas crônicos e sistêmicos que se apresentam diariamente”.
“Ainda, a autarquização fundamenta-se em uma lei que dá suporte à inserção de modelos privatizantes de gestão, abrindo espaço para a precarização dos cursos de medicina e enfermagem”, dizem.
De acordo com uma aluna, a autarquização pode abrir caminho para porta dupla – parte dos leitos destinados para atendimentos particulares – o que prejudicaria as vagas de estágio e a população que depende dessas vagas pelo SUS.
REIVINDICAÇÕES
Os alunos exigem uma sabatina com a superintendência e direção da faculdade para que haja um debate sobre as consequências da autarquização, transparência orçamentária e de gestão no complexo hospitalar, e inserção estudantil no controle social.
Eles exigem ainda um documento assinado pela superintendência do hospital e pela direção da faculdade que assegure o compromisso de ambos os órgãos em não permitir a perda de campos de estágio aos cursos de graduação e o estabelecimento do regime de “porta-dupla” nos hospitais do complexo.
Os alunos dizem ainda que solicitaram uma reunião com os responsáveis, mas não obtiveram reposta após um prazo de 48 horas, o que contribuiu para a manifestação.
OUTRO LADO
A Direção da Faculdade de Medicina de Marília (Famema) informou que o período da Instituição é de transição.
Segundo a instituição, no modelo anterior o orçamento total era de R$ 86 milhões e a grande dificuldade consistia na gestão da área de saúde.
“Em 2016, com a implantação da autarquia HC FAMEMA, diretamente ligada à Secretaria de Estado da Saúde, a Instituição entra para o rol dos hospitais universitários do Estado, assim como HC USP, HC Botucatu e HC Ribeirão Preto. Com as duas autarquias, o orçamento total para ensino, pesquisa e assistência à saúde passou para R$ 112 milhões, inclusive, grande parte para contratação de funcionários para o quadro de pessoal da nova autarquia. Também para insumos e manutenção de equipamentos”, disse a Famema em nota.
Ainda de acordo com a direção, o momento é de readequação dos orçamentos das autarquias, “apesar da grave crise financeira nacional no período 2015/2016. O momento é de reflexão e de maturidade diante do processo de crise nacional”.
“Por ser instituição pública e por ter seu currículo baseado nas diretrizes curriculares nacionais, a Famema fundamenta-se no Projeto SUS, portanto no ensino e também na assistência à saúde, a Famema é 100% SUS. Importante destacar que as autarquias são instituições estatais. Qualquer inserção em formato privatizante é pura ilusão”, finalizou a Famema em nota.