Abelardo segue comissionado do PSB e filiado ao Podemos
O ex-deputado e ex-prefeito Abelardo Camarinha anunciou que trocaria de partido em novembro do ano passado, com direito a evento em que participaram dezenas de apoiadores, mas só foi filiado oficialmente no Podemos no dia 31 de março deste ano.
Mesmo assim, o político continua nomeado como cargo comissionado na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp).
Mais especificamente, ele ocupa uma cadeira no gabinete da liderança do Partido Socialista Brasileiro (PSB) – sua antiga sigla. Para o exercício da função, com nomeação política, ele sequer precisa bater ponto – o que dificulta a comprovação de que, de fato, trabalha.
O líder do PSB no Legislativo paulista e responsável pela nomeação do político é seu filho, Vinicius Camarinha. As informações são da Justiça Eleitoral e da própria Alesp.
Uma das principais contradições na questão é que Abelardo anunciou sua saída da legenda criticando a ideologia incorporada por ela – no espectro da esquerda ou, pelo menos, centro-esquerda.
No final do ano passado Abelardo declarou que o Podemos seria um partido “mais de Centro” e que seu objetivo era encontrar uma sigla menos ligada à polarização política.
Isso, no entanto, não impediu o ex-prefeito de Marília, que carrega uma longa lista de condenações por corrupção e inúmeros processos e investigações em andamento envolvendo mau uso do dinheiro público, ficasse por 15 anos no PSB.
Na verdade, poucos acreditaram no argumento dado por Abelardo. O que tudo indica é que se trata de mero discurso e o interesse na mudança de partido estaria na organização de forças políticas em seu entorno.
Desde a nomeação de Abelardo ao Podemos já são quase três meses e ele continua desempenhando função de confiança em outro partido – abandonado por ele mediante críticas.
Metrô
Apesar de estar nomeado na Alesp, Abelardo é funcionário do Metrô de São Paulo desde 1989 – para onde também foi nomeado por indicação política. Quem paga Abelardo é a companhia de transportes, mas o dinheiro é devolvido pela Assembleia Estadual.
Ele recebeu líquido, ou seja, livre em sua conta corrente, mais de R$ 140 mil do Metrô de São Paulo somente em 2019. Isso sem nunca ter efetivamente trabalhado lá em 30 anos de nomeação sem concurso público.
Em outubro de 2019, ao que parece, o político mentiu ao MN ao ser questionado sobre sua nomeação para o cargo no Metrô. Ele disse ter sido aprovado em concurso em 1989.
“O Metrô de São Paulo não realizou contratações via concurso público antes de 1990. A admissão do senhor Camarinha ocorreu em 1989, de forma direta”, respondeu o Governo do Estado após questionamento feito pelo site.
Foi necessário apelar para a Lei de Acesso à Informação (LAI) para obter as explicações. Mesmo assim, não foi dada resposta para a pergunta sobre quem foi a pessoa responsável pela nomeação.
Segundo o Metrô, Camarinha foi contratado no dia 16 de janeiro de 1989 e no mesmo dia já foi cedido para a Secretaria de Estado da Habitação e Desenvolvimento Urbano.
Desde a contratação são ao todo 14 afastamentos ininterruptos durante esses 30 anos. Nesse período o político foi eleito algumas vezes deputado e prefeito de Marília e o afastamento foi na modalidade não remunerada nesses casos.
Já quando não exerceu cargo político eletivo, Camarinha foi cedido pelo Metrô para órgãos públicos, como acontece agora com a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, que desta vez reembolsa a empresa de transporte público, como dito.
No entanto, em outras ocasiões, o político recebia do Metrô e trabalhava em outros lugares sem reembolso.
Ele também recebeu diretamente do Metrô nas ocasiões em que obteve licença para fazer campanha política.
Durante todo esse tempo, segundo o Metrô, “Camarinha desempenhou funções compatíveis com os cargos eletivos para os quais concorreu e obteve nomeação”. E o controle de frequência do político em seus trabalhos nunca ficaram a cargo da companhia.
“O controle de frequência deve ser informado pelos órgãos aonde o senhor Camarinha prestou serviço”, consta na resposta obtida via LAI.
Abelardo
Em outubro do ano passado Abelardo negou irregularidades tanto em suas nomeações para Alesp e Metrô, quanto nos valores recebidos por ele.
“Mas podem ficar sossegados que em 2020 eu serei eleito prefeito de Marília e abro mão novamente do salário no Metrô”, debochou o político na ocasião.
No começo do ano, a reportagem entrou em contato novamente com Camarinha para comentar o montante recebido por ele em 2019. “Recebi do meu trabalho, que trabalho o dia inteiro”, afirmou.
Sobre a natureza de seu serviço e onde era prestado, o político disse que “atua por todo o Estado a serviço da liderança do PSB”.
Abelardo também declarou que continuará no cargo comissionado no PSB até sair de licença para campanha eleitoral, mesmo tendo migrado para o Podemos. Em 2020, disse ele, “ ou estarei na Prefeitura de Marília ou vou para o gabinete do Podemos”.