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26, mar / 2025, 6:11h Bom dia
A história de um cachorro vira-lata que inspirou um super-herói nos quadrinhos e conquistou o coração de uma cidade ganha um novo capítulo. “Quatro Patas, História de Pituco”, livro idealizado pelo criador da HQ “Radius”, Tiago Moraes, é uma homenagem emocionante ao seu companheiro canino, Pituco, e será lançado em breve.
A ideia do super-herói Radius surgiu em 1996, quando Tiago ainda era adolescente, mas ficou engavetada até a pandemia, em 2020. Com mais tempo livre, ele começou a desenvolver o personagem, inicialmente um herói fortão com roupa colada. A vida de Tiago tomou um novo rumo com a adoção de Pituco em abril daquele mesmo ano.
As fotos expressivas do cão para figurinhas de WhatsApp foram a faísca para a ideia inusitada de transformar Pituco em um personagem, como o Robin para o Batman Radius.
Assim nasceu a dupla dinâmica mariliense. Radius, o primeiro super-herói da cidade, e Pituco, o primeiro cachorro super-herói. O projeto de histórias em quadrinhos ganhou corpo, com a colaboração do jornalista Ramon Franco, que contextualizou a história no futuro de Marília.
Tiago planeja lançar o livro entre abril e julho, considerando o aniversário da cidade e o aniversário de um ano da morte de Pituco. A distribuição ainda não está definida, mas seguirá o modelo do projeto Radius, com foco na venda direta e online.
Tiago Moraes conversou com o Marília Notícia e contou um pouco da história de Pituco, o cão super-herói mariliense.
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MN – Como surgiu a ideia para este livro?
Tiago Moraes – Bom, eu já tinha um projeto de histórias em quadrinhos chamado Radius, lançado em 2022. A ideia do livro surgiu depois. No Radius, o personagem, foi criado em 1996, quando eu tinha 16 anos, mas ficou só um desenho até a pandemia em 2020. Com mais tempo livre, eu resgatei essa ideia de ter um super-herói.
MN – E como o Pituco, o cachorro, entrou nessa história de super-herói?
Tiago Moraes – Durante a pandemia, nós adotamos o Pituco em abril de 2020. Naquela época estavam surgindo as figurinhas de WhatsApp, e eu fazia fotos das caretas dele para usar nos grupos. Um dia, fazendo um Photoshop do Radius, peguei a cara do Pituco e coloquei num soldadinho futurista, e pensei que daria para fazer um personagem.
MN – Foi nesse momento que Pituco se tornou parte do universo do Radius?
Tiago Moraes – Exatamente! Eu meio que criei o Radius e o Pituco como se fossem Batman e Robin. Começou a ficar mais interessante. Por ser uma história no futuro, imaginei que o cachorro poderia ser antropomórfico, andar e falar. E aí o projeto amadureceu com a chegada do Ramon, que contextualizou a história no futuro de Marília. Assim, o Radius se tornou o primeiro super-herói mariliense e o Pituco, o primeiro cachorro super-herói de Marília.
MN – Como foi o lançamento da história em quadrinhos?
Tiago Moraes – Tentamos um ProAC que não deu certo, então fiz uma pré-venda da revista e consegui o valor para produzir. Em julho de 2022, lançamos o Radius para mais de 500 pessoas, com a presença dos Irmãos Piologo. Foi um lançamento muito legal. Em agosto de 2023, comecei a trabalhar na edição número dois. Com mais liberdade, coloquei o Pituco como protagonista nessa edição. As revistas se complementam, mas a número dois é focada no Pituco. Isso gerou um grande entusiasmo em torno dele como cachorro super-herói.
MN – O Pituco era um cachorro conhecido no bairro onde você morava?
Tiago Moraes – Sim, ele era o cachorro do bairro Parati. Como eu trabalhava na garagem com o portão aberto, ele criou o hábito de sair para a rua, e todo mundo o conhecia. Ele tinha até amigos cachorros e era bem relevante no bairro. As pessoas se encantavam com a ideia dele ser um cachorro super-herói. As pessoas o reconheciam onde passava.
MN – Você tinha uma ligação especial com o Pituco?
Tiago Moraes – Sim, apesar de ser o cachorro da família, a relação mais forte era entre nós dois. Digamos que ele me adotou. Ele era meu companheiro.
MN – Como foi perder o Pituco?
Tiago Moraes – No fim de 2023, me separei e mudei de bairro com o Pituco. O novo lugar era muito perto de uma avenida movimentada e ele não podia mais sair como gostava. Combinamos com a minha ex-esposa para eu deixar o Pituco na casa dela durante o dia. Funcionou até 8 de julho de 2024, quando ele saiu e não voltou mais. Procurei por todo lado e fiz posts nas redes sociais. Às 21h recebi uma mensagem sobre um cachorro atropelado perto da padaria Parati, e era ele.
MN – Como você lidou com essa notícia?
Tiago Moraes – Foi um dia terrível. Fiquei procurando desde meio-dia até 21h. Recebi a notícia e foi um misto de alívio por saber o que aconteceu e decepção pela perda. Eu tinha medo que ele tivesse se perdido, sido roubado ou morrido de frio.
MN – Você chegou a conversar com a pessoa que o atropelou?
Tiago Moraes – Sim. Ela me ligou, pediu desculpas e contou que o Pituco chegou a ser socorrido com vida, levado ao veterinário, mas não resistiu. Ela foi ótima em prestar socorro. Levou ele para a chácara dela em Ocauçu, pois não sabia que ele tinha dono, para enterrar. Fui até lá buscá-lo. Foi muito difícil, ele parecia um ursinho. Peguei a patinha dele e fiz um carimbo, até tatuei. No dia seguinte, fui atrás de um destino para ele. O dono do crematório, sabendo da história, deu a cremação de presente.
MN – Você já tinha homenageado o Pituco nas histórias em quadrinhos e decidiu fazer um livro para contar a história dele?
Tiago Moraes – O Brunno Alexandre, do Nosso Quintal, me assessorou. Ele que me incentivou a inscrever o projeto no edital e sugeriu fazer um livro sobre a história do cachorro que inspirou o super-herói. Criamos o nome ‘Quatro Patas, História de Pituco’, escrevemos o projeto e fomos contemplados.
MN – Como foi o processo de produção do livro?
Tiago Moraes – Fomos contemplados em dezembro, e eu e o Ramon começamos a trabalhar em janeiro. No final de fevereiro, o livro já estava pronto.
MN – Houve alguma mudança em relação ao planejado inicialmente?
Tiago Moraes – Sim. O Pituco tinha muito conteúdo. O livro estava previsto para ter 100 páginas em preto e branco, mas acabou com 176 páginas coloridas. Os R$ 10 mil do edital não cobriram os custos. Então precisei abrir uma pré-venda para viabilizar. Preciso vender 200 livros e já vendi 106.
MN – Qual o seu principal desafio com este livro?
Tiago Moraes – Meu desafio é vender a história, não do cachorro do Tiago, mas a história de um cachorro extraordinário, mostrando que todos têm um cachorro extraordinário em casa. O livro serve para dialogar sobre aproveitar os momentos com nossos cachorros. A mensagem é valorizar o seu cachorro, seu super-herói. Quero furar a bolha de ser só o livro do meu cachorro.
MN – Qual a previsão de lançamento e como será a distribuição?
Tiago Moraes – A previsão é entre abril e julho. Penso em abril, aniversário da cidade, e julho, um ano da morte dele. Tudo depende da adesão do livro. A distribuição ainda não está definida. Com o Radius, eu produzo com patrocínio e depois vendo o restante para reinvestir. O livro será parecido, com tiragem de mil unidades. Quem quiser vai ter que comprar. Penso em encontrar pontos de venda, como bancas, e talvez alguma parceria com distribuidoras. O objetivo não é o lucro, mas mostrar quem foi esse personagem. Sem o Pituco, nada disso existiria.
MN – O projeto Radius já teve reconhecimento?
Tiago Moraes – Sim, o projeto já conquistou troféus da indústria gráfica. A revista levou um prêmio de super-herói nacional em Niterói. Temos um acervo com decorações do projeto e a roupinha que o Pituco usou no lançamento. O livro conta toda a trajetória dele como cachorro e como super-herói, e o legado que ele deixou.
MN – Você sempre desenhou?
Tiago Moraes – Sempre desenhei. Mas os desenhos da HQ não são meus, são de um artista do Rio de Janeiro. A concepção visual dos personagens é minha. Tem muitos elementos da vida real na história.
MN – Por exemplo?
Tiago Moraes – Tem um cachorro que é o Jack, do Afrânio do motoclube do qual fiz parte. Coloquei o motoclube na história. A moto que aparece é uma moto que foi minha. No volume dois, o Pituco foge da prisão num Peugeot que eu tive e que sempre quebrava, e isso acontece na história também. Tem até um QR Code para o clipe de uma banda em que essa moto aparece.
MN – O Mustache Comics é o selo responsável pelas publicações?
Tiago Moraes – Sim. É um braço editorial da Mustache. Já fizemos uma HQ para a Unimar. Estamos fazendo um projeto com a Telecontrol, criando uma HQ no estilo Star Trek. O universo da Telecontrol se cruza com o do Radius, por ser no futuro. Também estou na edição de um livro sobre um cantor de música caipira de Paraguaçu.
MN – Há quanto tempo existe a Mustache?
Tiago Moraes – A Mustache Marketing foi fundada no fim de 2011 e constituída em janeiro de 2012. Trabalhamos com clientes da cidade e de fora. Clientes como a Unimar e o Esmeralda Shopping também fazem parte da nossa história. Isso facilita a captação de recursos para os projetos.
MN – O universo do Radius tem mais personagens inspirados em pessoas reais?
Tiago Moraes – Sim, tem um personagem que corre muito, inspirado no Daniel Martins. Ele é como o Flash. O uniforme dele tem a camisa que ele ganhou o ouro na Rio 2016.
MN – Você também está preparando uma revista em quadrinhos do Pituco?
Tiago Moraes – Sim, um spinoff. É uma história avulsa dele contra um alienígena, com traços mais caricatos. Com tudo o que aconteceu, segurei o lançamento, mas pretendo inscrever o Radius na Comic Con Experience (CCXP) este ano e lançar essa revista lá. E levar o livro do Pituco também.
MN – O Mustache Comics está aberto a outros artistas?
Tiago Moraes – Sim, a Mustache Comics funciona como uma editora. Se alguém de Marília ou outra cidade tiver uma ideia, podemos trabalhar juntos na diagramação, edição e produção. O Radius ganhou dois prêmios, e a edição gráfica também foi premiada. Pretendemos inscrever o livro em concursos também.
MN – Você tem alguma expectativa em relação ao alcance do livro, considerando outros livros famosos sobre cães?
Tiago Moraes – Seria muita pretensão achar que será um ‘Marley e Eu’, mas não é que eu não gostaria. Ele ainda é muito o livro do meu cachorro. Mas se furar essa bolha, tem tudo para dar certo, pois é um livro leve, infantojuvenil. Qualquer pessoa pode ler e entender a mensagem sobre o que um cachorro pode transformar em nossas vidas.
MN – A capa do livro tem uma imagem especial do Pituco?
Tiago Moraes – Sim, é uma foto dele na casinha que eu fiz e pintei com meu filho. Conto a história dessa casinha no livro. O Pituco herdou essa casinha, e eu não consigo me desfazer dela, tem muita história. As pessoas até perguntam se é desenho, mas é foto. Ele era muito fotogênico.
MN – Quantos anos o Pituco viveu?
Tiago Moraes – Quatro anos e alguns meses. Ele foi adotado filhote, e fizemos um mapa do tesouro para meu filho Lucas achá-lo na Páscoa de 2020. Tudo isso está contado no livro. Foi uma história incrível.
MN – Como tem sido a repercussão da história do Pituco?
Tiago Moraes – O SBT e o G1 vieram atrás. Teve uma matéria de cinco minutos no SBT regional. Despertou interesse na grande mídia. O Pituco era um cachorro diferente, com muitas expressões. O livro deu uma vertical para a história, para o projeto. Trocaria tudo isso por tê-lo aqui, mas acredito que é um legado. Muita gente queria entender quem era esse cachorro super-herói. Mas a mensagem principal é que todos têm seu super-herói de quatro patas em casa, e precisamos valorizar isso.