‘A maior dificuldade do professor é ser ouvido’, diz docente de Marília
“Não querem saber o que os professores acham da volta às aulas presenciais. Não perguntaram se os professores estavam dispostos a fazer aulas virtuais, por plataforma. Não perguntaram aos professores se eles tinham materiais e equipamentos, condições de preparar aulas naquele formato”, afirma a professora Esther Passos Honório Coutinho, de Marília.
Na data em que se comemora o Dia do Professor, celebrado nesta sexta-feira (15), docentes ouvidos pelo Marília Notícia contam que o maior desafio da classe é se fazer ter voz ativa na sociedade.
“Não perguntaram aos professores se eles estavam dispostos a transformar as casas em escola. Não perguntaram aos professores se eles estavam dispostos a abrir as portas de suas residências e deixar elas públicas. Não se pergunta nada aos professores, é sempre com imposições”, completa.
Preocupada com o bem-estar da categoria, como coordenadora da escola que trabalha, Esther criou um projeto de valorização dos docentes. “A maior dificuldade do professor é de ser ouvido”, afirma sobre a educação brasileira como todo.
Para a professora da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Marília Érika Christina Kohle, que ajuda a formar outros docentes no curso de Ciências Sociais, apesar dos obstáculos recentes – além dos desafios anteriores –, a profissão sai valorizada da pandemia.
“Em aplicação de questionários, por meio do Google Forms, durante pesquisa para elaboração de um artigo científico, em parceria com o pessoal do Estado e município, constatamos a valorização da profissão do professor”, afirma Érika.
De acordo com Érika, isso se dá principalmente no nível em que as crianças estão se alfabetizando. “Ensino Fundamental, os anos iniciais, em que os pais tentaram fazer essa alfabetização em casa, e também em matemática, dos números, das quantidades, e não conseguiram”.
“Nossa profissão tem sempre muito palpite – de todas as pessoas, que sempre têm uma receita para fazer um milagre com que as crianças aprendam a escrita, a leitura e os cálculos matemáticos. Isso caiu por terra”, afirma a professora, que além da universidade, trabalha também na rede municipal.
“Quando as pessoas tentaram fazer isso [alfabetizar] em casa, com seus filhos, elas não conseguiram. A profissão do professor acabou sendo valorizada, apesar de termos sido enxovalhados por uma parcela da população, dizendo que nós não estávamos a fim de trabalhar”, continua.
Para Érika, essa opinião “foi um equívoco, porque nós trabalhamos e trabalhamos muito. É bem mais difícil você passar as informações no meio digital ou por escrito do que no contato presencial com as crianças”, comenta.
Outros desafios para os docentes no pós-pandemia, segundo a acadêmica, será a necessidade de recuperar conteúdos e laços, além do ônus que envolve a obrigação, imposta à categoria, de assumir uma postura disciplinadora no controle de regras sanitárias entre os alunos. “O professor quer formar seres pensantes, não ser um carrasco”.
Ao Marília Notícia, o professor da rede estadual Zacarias Mariano de Souza Junior contou por quais motivos escolheu a profissão e diz ter expectativas para o futuro.
Ele cursou a licenciatura e concluiu o bacharelado em Sociologia recentemente, mas não parou por aí e agora cursa a graduação de Pedagogia.
A pandemia acabou atrasando um pouco os planos de começar as aulas em 2020, mas Zacarias finalmente conseguiu vagas em duas escolas estaduais e está prestes a concluir seu primeiro semestre à frente das salas de aula.
“Eu vim com 17 anos para Marília para cursar uma universidade pública”, diz o jovem de Taboão da Serra (distante 442 quilômetros), que sempre se interessou por “temas das humanidades”, mas foi na graduação que se deu conta do papel que poderia desempenhar.
“Na faculdade, comecei a entender cada vez mais a importância do desenvolvimento da educação e, como isso, se expressa na realidade”, afirma o professor que teve a oportunidade de vivenciar na prática, durante estágio na rede privada e pública, a diferença de oportunidades aos alunos.
Com suas aulas na escola Maria Cecília Ferraz de Freitas e Nelson Cabrini, na zona Sul de Marília, do sétimo e oitavo anos do Fundamental a todo o Ensino Médio, o professor se diz satisfeito por poder contribuir com o “desenvolvimento humano” dos alunos e faz planos para a carreira.
A escolha pela Pedagogia, depois de já ter concluído a licenciatura envolve o desejo de se tornar coordenador e até mesmo diretor, um dia, contribuindo com outros aspectos educacionais, além da intenção de prestar o mestrado para seguir carreira acadêmica e, quem sabe, também ajudar a formar novos professores.