Mudança da Biblioteca Municipal encontra resistência
A mudança da Biblioteca Municipal de Marília, instalada há mais de 30 anos em um prédio na avenida Sampaio Vidal, encontra enorme resistência na Câmara e em setores da sociedade mariliense.
O plano anunciado é de que a Biblioteca deverá funcionar na esquina da rua São Luiz com a São Carlos, próximo ao plantão policial. No prédio “antigo” um bilhete diz que desde o último dia 25 o espaço está fechado para reformas, sem empréstimo de livros.
Na sessão de segunda-feira (15) do Legislativo local ficou claro o descontentamento com a medida. A maioria dos vereadores se posicionou contra a mudança, inclusive a base governista, como o líder do governo Marcos Rezende (PSD) e o presidente delegado Wilson Damasceno (PSDB).
Além de críticas com um viés saudosista sobre a “aura” cultural e educacional do espaço tradicional, vereadores também estranharam a Comissão de Registros Históricos não ter sido consultada.
Na manhã desta terça-feira (15) a reportagem do Marília Notícia conversou com a moradora das proximidades do prédio na Sampaio Vidal, Zoila César, de 79 anos.
“Fico muita chateada, estamos habituados. É um local de Cultura, vemos muitos estudantes por aqui que visitam. Tudo isso é uma continuidade da Educação. Vai descaracterizar”, lamenta.
Deficientes visuais
Dentro da Biblioteca Municipal funciona um centro de braile, onde dezenas de deficientes visuais frequentam e usufruem de serviços que vão além do contato com o acervo voltado para esse público.
Miguel Argolo Ferrão, presidente da Advemari (Associação dos Deficientes Visuais de Marília) disse ao MN que a entidade vai se posicionar especificamente sobre o setor de braile.
“Estamos ali há 30 anos. Quem tem deficiência visual vai ter muita dificuldade para se adaptar. Já entregamos um requerimento pedindo para o braile continuar no mesmo lugar. Se for preciso, vamos procurar a Justiça”, fala Ferrão.
No espaço são oferecidas aulas de locomoção para deficientes visuais e a “leitura” com as pontas dos dedos.
Recentemente, “depois de muita luta”, todo o entorno da biblioteca e o caminho desde os pontos de ônibus na região, foram implantados pisos táteis. A preocupação é também de como ficará a acessibilidade para a nova Biblioteca.
“Estamos preocupados. Onde está, o espaço para o braile tem vários pontos de ônibus, por onde passam diversas linhas. Na São Luiz, uma rua tão estreita, os ônibus não passam. Na São Carlos também não é larga, além de ser mão única”, reclama o presidente da Advemari.
Outro lado
A reportagem procurou a assessoria de imprensa da Prefeitura para saber as motivações da mudança.
De acordo com a administração municipal, a Biblioteca Municipal “está de mudança para um prédio novo, moderno e maior do que o atual espaço”.
“O prédio possui 850m² de espaço livre para trabalhar o conceito de biblioteca viva com várias ações e programas culturais de qualidade, oferecendo melhores acomodações para diversos públicos e idades”, disse a Prefeitura.
Apesar disso, não foi informado o valor pago no novo prédio.
Ainda segundo o Executivo, a mudança leva a Biblioteca a um prédio totalmente acessível, com elevador braile e banheiros adaptados, espaços fixos para contação de histórias, cursos, oficinas, jogos, RPG, palestras e convivência.
“A nova biblioteca mantém os setores infantis, juvenis, braile e terceira idade, tornando-se um lugar mais adequado à leitura, climatizado, confortável e disponível com diversos serviços; é assim que nossa nova biblioteca vai ficar”, explica Rosane Fagotti, coordenadora do espaço.
Segundo ela, atualmente as bibliotecas mudaram seu perfil e conceito, “biblioteca não é mais um depósito de livros velhos, desatualizados que efetua apenas empréstimos e atende às pesquisas. É também um lugar de convivência, trocas e aprendizado mútuo”, completa Rosane.
Para a equipe do prefeito Daniel Alonso (PSDB), com a proposta de implementar novos programas, o local possui um espaço amplo para a oferta de atividades e também facilita a captação de verbas nas instituições estaduais e federais, devido à acessibilidade e outras necessidades que as agências de fomento solicitam.
Para o secretário municipal da Cultura André Gomes, “a Biblioteca estava abandonada e esquecida pelos governos anteriores. As paredes com infiltrações, os mobiliários danificados e há 11 anos o município não adquiria um único livro novo para incentivo à leitura. A mudança envolve questões administrativas e técnicas, o prédio da Sampaio Vidal também não possui estrutura para ar condicionado, necessário à conservação do acervo”, finaliza.
“Num país onde as estatísticas apontam que o brasileiro praticamente não tem o hábito da leitura, a administração entende que pode contribuir com a melhora desse cenário, oferecendo condições dignas para que o mariliense tenha uma biblioteca adequada e de referência na cidade e região”, destaca Rosane Fagotti.
A nota da Prefeitura ainda diz que o setor braile é, por decreto, unido à biblioteca municipal, “porém a atual administração manterá uma biblioteca ramal braile, com uma bibliotecária efetiva no prédio da Avenida Sampaio Vidal para que os usuários da Associação dos Deficientes Visuais – Adevimari (que se encontra instalada no 1º andar desse prédio, desde a última gestão municipal) seja atendida plenamente, sem nenhum prejuízo à leitura, tendo agora duas opções e ofertas de serviços especializados para esse público”.
“Pretendemos desenvolver o mais breve possível projetos para captar recursos e melhorar essa biblioteca especializada que é referência na região”, destaca Rosane.
Disposição da nova sede
As atuais instalações estão dispostas da seguinte forma: no primeiro inferior (subsolo) estará o telecentro – projeto de informática para a terceira idade, auditório, brinquedoteca, jogos de RPG, espaço de convivência, oficinas e exposições.
No piso superior, estará o acervo de literatura nacional e internacional, escritores marilienses e livros infantis, juvenis, braile, gibiteca. Os livros ficarão expostos como numa livraria e com área para leitura de jornais e revistas, livros didáticos e paradidáticos, Programa Agenda Cidadã, sala estudo individual ou em grupo. Banheiros feminino e masculino.
No piso térreo, está a recepção, holster, balcão de empréstimo centralizado, banheiros e cabine para braile.