Mulher diz ser “testa de ferro” de Camarinha na CMN
O deputado estadual Abelardo Camarinha (PSB) e seu filho, o ex-prefeito Vinícius Camarinha (PSB), são acusados se serem os verdadeiros donos da CMN (Central Marília Notícias), grupo de comunicação que inclui o jornal Diário de Marília e duas rádios na cidade.
O testemunho foi feito por Sandra Mara Norbiato após delação premiada à Procuradoria Geral da República, em inquérito desenrolado pela Operação Miragem, que apura crimes crimes de falsidade ideológica, associação criminosa, uso de documento falso, desenvolvimento clandestino de atividade de telecomunicação, sonegação fiscal, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
Norbiato aparece como sócia-proprietária do grupo de comunicação mariliense, mas confessou ser apenas uma “testa de ferro” no negócio.
A declaração da testemunha consta no pedido de homologação do termo de colaboração premiada, feito pelo Ministério Público Federal ao Tribunal Regional Federal da 3ª Regiã. O documento vazou para a imprensa, apesar de ter sido decretado sigilo absoluto dos autos.
Sandra também é uma das investigadas pela Operação Miragem – que fechou a CMN em duas etapas – assim como pai e filho Camarinha, o advogado José de Souza Júnior, Carlos Umberto Garrosino, Antônio Celso dos Santos, Edvaldo Perão, Marcel Certain e outros.
Segundo o documento distribuído para a imprensa, Sandra prestou depoimento em outubro do ano passado junto com seu advogado por livre e espontânea vontade na Procuradoria Regional da República da 3ª Região, onde reconheceu que “participou do esquema criminoso relacionado à fraude na titularidade da Central Marília de Notícias”.
Sua participação teria sido como “testa de ferro” dos Camarinha. Ela informou para a Justiça que foi indicada por Antônio Celso dos Santos para atuar como “laranja”, assim como Marcel Certain, mediante remuneração.
O contador Antônio Celso dos Santos é ex-marido de Sandra Norbiato e irmão de Marcel Augusto Certain, e foi apontado como o intermediador da venda da CMN para Abelardo Camarinha. Santos teria cooptado seu irmão e sua ex-mulher como laranjas.
Também consta no documento que a mulher nunca participou da gestão das empresas da CMN, que seria feita por “Carlos Garrosino e por José Júnior”, conforme os papéis vazados.
Carlos Garrosino foi, inclusive, um dos principais doadores de campanha nas últimas eleições para o PSB local, partido de Camarinha pai e filho. O MN, no período eleitoral, divulgou um dossiê mostrando quem é Garrosino – assessor parlamentar de Abelardo Camarinha [leia aqui].
Colaboração premiada
Para aceitar a colaboração premiada de Sandra Norbiato, o Ministério Público Federal teria considerado o fato dela não ter antecedentes criminais e não ser a líder da organização criminosa, além de ser a “primeira a prestar efetiva colaboração no caso”. Ela também deve pagar uma multa de R$ 50 mil.
O documento diz que Marcel Augusto Certain, um dos envolvidos no caso, já teria confessado e esclarecido por diversos meios como teria sido feita a transação.
Sandra, a princípio, teria negado os fatos, apesar de viver em Ribeirão Preto – distante 270 quilômetros de Marília – e não ter “demonstrado qualquer controle ou ciência da empresa da qual seria sócia-proprietária, entre outros indícios de irregularidades quanto a propriedade”.
Assustada com as ações desencadeadas em agosto do ano passado pela Polícia Federal, a mulher compareceu na Procuradoria Regional da República e confessou tudo.
Na época a PF cumpriu mandados de busca e apreensão em Marília e outras cidades, deteve Sandra, seu ex-marido Antônio Celso e outros envolvidos, além de lacrar as rádios Dirceu AM e Diário FM.
Recentemente, a segunda etapa da operação foi deflagrada e, entre outras coisas, culminou com o fechamento do jornal Diário. A ação foi denominada “5º Mandamento”, em alusão ao mandamento bíblico “Não matarás”. O nome foi dado porque, supostamente, Sandra Norbiato teria sido ameaçada de morte por seu ex-marido e envolvidos no caso.
Outro lado
Questionado pelo Marília Notícia sobre o caso e as acusações, o ex-prefeito Vinícius Camarinha se defendeu: “Não recebi nenhuma informação oficial sobre os documentos veiculados pela imprensa”, disse.
“Reafirmo que trata-se de uma ação dos meus adversários políticos tentando envolver o meu nome, não tenho qualquer ligação com a empresa, nem com a senhora citada”, completou Vinícius.