PCC e Comando Vermelho declaram ‘guerra’
O secretário de Justiça e Cidadania de Roraima, Uziel de Castro, disse ontem (17) que a rebelião que ocorreu na tarde do último domingo (16) na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, na cidade de Boa Vista, foi uma determinação nacional da facção Primeiro Comando da Capital (PCC), em São Paulo, de atacar os integrantes do Comando Vermelho, grupo criminoso do Rio de Janeiro.
“Eles declararam guerra entre as facções. Estamos percebendo em nível nacional o rompimento desse acordo entre eles”, disse Castro, explicando que existem ramificações dos grupos em vários estados do país.
Segundo ele, também ocorreram rebeliões no Pará e em Rondônia, com a mesma motivação. De acordo com Castro esse movimento entre as facções está sendo observado nos presídios há cerca de uma semana.
Diferente do número divulgado pela Polícia Militar anteriormente, dez presos morreram na penitenciária de Boa Vista em Roraima. O confronto entre as facções começou durante o horário de visitas, por volta das 16h. Cerca de 50 familiares de presos foram feitos reféns, mas liberadas por volta das 20h, após intervenção da Polícia Militar.
A Penitenciária Agrícola de Monte Cristo tem capacidade para 700 presos. Mas atualmente abriga 1,4 mil. Segundo o secretário, o governo busca recursos junto ao governo federal para a construção de novas unidades prisionais.
O secretário informou que os presos foram contidos e separados e que a unidade já voltou à rotina normal. Os corpos dos detentos mortos já estão no Instituto Médico Legal para a perícia.
São Paulo
Nesta terça-feira (18), o secretário da Administração Penitenciária de São Paulo, Lourival Gomes, disse ao site G1 que “o clima de harmonia que predominava” entre as facções criminosas de São Paulo e do Rio acabou.
“Agora a guerra recomeçou. Então cabe a cada estado, a cada administrador, tomar as suas providências e resolver o seu problema dentro do seu estado.”, disse Gomes.
No Rio de Janeiro, questionado sobre o fim da trégua entre as facções que atuam nos presídios, o secretário de Segurança, Roberto Sá, diz que situação é “preocupante”.
As organizações, originárias respectivamente do Rio de Janeiro e de São Paulo, sempre conviveram de forma relativamente harmoniosa no sistema prisional e nas ruas de quase todos os Estados.
Chegaram a ser parceiras em várias empreitadas, atuando em uma espécie de consórcio criminoso na compra de armas e drogas no Paraguai, Colômbia e Bolívia.
Agora, existe o receio de que a violência se espalhe para outras unidades do sistema penitenciário – e também para as ruas. As duas facções têm presença nacional e um confronto aberto entre elas pode levar a um aumento significativo dos homicídios e da violência no país, de acordo com especialistas.
Temendo represálias provocadas pelo rompimento entra as facções, dezenas de presos paulistas que cumpriam pena em presídios controlados pelo Comando Vermelho pediram transferência para outras unidades, de acordo com informações do jornal Extra.
Segundo a reportagem, os pedidos começaram há cerca de dez dias. Entre os detentos transferidos estaria Ronny Faria e Silva, o Roninho, a principal liderança do PCC no Rio de Janeiro, preso em fevereiro de 2014, acusado de liderar o assalto ao avião pagador da TAM em São José dos Campos, em 1996. A Secretaria de Administração Penitenciária do Estado não comentou as transferências e disse que tomou todas as medidas cabíveis.
Alguns dos presos do PCC teriam sido levados para unidades dominadas pela facção Amigos dos Amigos (ADA), rival do CV, o que, se confirmado, pode fomentar uma nova aliança criminosa com reflexos nas lutas territoriais por pontos de venda de droga no Rio. Já em São Paulo, o PCC não tem grupos rivais aos quais a facção fluminense possa se aliar, portanto as chances de que a violência provocada pelo fim da paz entre ambas atinja as ruas são menores, de acordo com especialistas.
Rebeliões
Apesar de todo o clima e declarações de outras autoridades, o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, negou hoje (18) que as facções criminosas estejam organizando ações coordenadas em presídios do país.
“Não há, até o momento, nenhuma informação de inteligência nesse sentido”, disse Moraes, que acrescentou ter enviado, nesta terça-feira, uma equipe do Departamento Penitenciário Nacional (Depen) a Roraima, onde 10 detentos morreram em motim ocorrido no domingo (16).