Um em cada três moradores em situação de rua é ex-detento

O mais recente levantamento realizado a partir do Cadastro Único (CadÚnico) e dos atendimentos registrados pelos serviços de acolhimento do Centro Pop e da Casa Cidadã aponta que há, em média, 300 pessoas em situação de rua em Marília atualmente. Desse total, aproximadamente 90 – ou seja, um em cada três – são egressos do sistema penitenciário. É importante pontuar que o número corresponde ao último mês e pode variar com frequência pela rotatividade deste público nas ruas.
O perfil traçado pela Secretaria Municipal de Assistência Social e Cidadania – a pedido do Marília Notícia – indica que a maioria tem entre 18 e 59 anos. Entre as causas ou fatores associados à condição de rua, os atendimentos registram, pela ordem de ocorrência, dependência de crack e outras drogas, transtornos mentais, visitantes itinerantes e demais motivos. Em muitos casos, esses fatores se combinam, o que torna a situação mais complexa.
Segundo os cadastros, 90% das pessoas em situação de rua já tiveram algum tipo de contato com o sistema de Justiça — desde ocorrências policiais até processos judiciais —, o que revela forte relação entre vulnerabilidade social e trajetória marcada pelo aparato penal.

Além disso, 30% são egressos do sistema prisional, o que evidencia um fluxo de saída das unidades carcerárias que, muitas vezes, não é acompanhado por políticas públicas de reinserção social e trabalho.
Por lei, ser egresso da Justiça – em sua maioria – significa ter sido condenado criminalmente, cumprir a pena e deixar o sistema prisional. A legislação também considera egresso quem está em regime de livramento condicional. O termo é empregado para designar quem busca se reintegrar à sociedade após o fim da condenação.
Apesar do estereótipo que associa a população de rua à inatividade, os registros mostram grande heterogeneidade. Entre as pessoas atendidas há desde chefes de cozinha renomados e músicos talentosos até trabalhadores desempregados. A diversidade reforça que a condição de rua tem origens múltiplas e atinge indivíduos com trajetórias profissionais e educacionais distintas.

As equipes responsáveis pelo Cadastro Único, pelo Centro Pop e pela Casa Cidadã alertam que os números são aproximados e refletem apenas o mês mais recente de coleta. Trata-se de um público altamente móvel: chegam visitantes itinerantes, novas pessoas passam a viver na rua, outras conseguem vaga em abrigos ou retornam aos lares. Por isso, os cerca de 300 registrados não devem ser interpretados como um censo fixo, mas como um retrato momentâneo da demanda por serviços.
O Centro Pop e a Casa Cidadã concentram o atendimento social destinado à população em situação de rua, oferecendo acolhimento, encaminhamento para saúde mental e dependência química, orientações para emissão de documentos e apoio à inserção em programas sociais.
Para muitos usuários, o acesso ao tratamento para dependência química e ao acompanhamento continuado em saúde mental é fundamental para qualquer processo de saída das ruas.
